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127 Horas – Aron Ralston

Ele era melhor barqueiro do que caubói e melhor cozinheiro do que ladrão de trens, mas John Griffith, com a sua marca distintiva de um olho azul e outro castanho, tornou-se um capanga a mais do Wild Bunch, a gangue de Butch Cassidy, durante a sua época no condado de Robbers Roost a leste de Utah. Blue John, como o chamava o seu primeiro empregador, entrou para o ofício como cozinheiro da operação de gado Harris nas proximidades de Cisco, uns 100 quilômetros a oeste de Grand Junction. Depois de menos de dois anos de trabalho honesto, aos trinta e cinco anos cerrou fileiras com Jim Will, vulgo Silver Tip, e um tal de “Indian Ed”, um índio Newcomb, em um rodeio da companhia de gado 3B no final de 1890. A turma da 3B vagava pelo Roost sob a liderança do infame capataz Jack Moore, que oferecia hospitalidade ao Wild Bunch durante as suas frequentes reuniões naquela terra delimitada pelo Dirty Devil, San Rafael, Green e os rios do Colorado. Às vezes aparecendo no Roost por todo o inverno, para estabelecer um acampamento-base para antes ou depois de um assalto, ou para ajudar com o gado da 3B, a gangue sempre era bem recebida no Roost. Silver Tip, Blue John e Indian Ed circulavam com a gangue como um trio de cúmplices de segunda linha, contribuindo com as suas habilidades para o trabalho que houvesse, fosse o roubo de cavalos, assaltos ou pastoreio. Em 1898, ajudaram Moore a laçar o gado remanescente da 3B da operação fracassada de J. B. Buhr antes de partirem para uma escapada para roubo de cavalos no Wyoming. A viagem de volta custou a vida de Moore em um tiroteio. No início daquele ano, quando o grupo voltava ao Roost depois de deixar os cavalos roubados no Colorado para venda, Silver Tip, Indian Ed e Blue John roubaram outra leva da melhor variedade de cavalos da região dos ranchos ao redor de Moab e Monticello. Não que os rapazes do Wild Bunch se preocupassem muito com as forças convocadas pelos xerifes — que cuidavam de não se aproximar demais do Roost em geral — mas os salteadores sabiam que a lei estava atrás deles por causa dessa farra mais recente. Em uma parede do cânion Roost, em uma manhã do final de fevereiro, Indian Ed descia pelas rochas abaixo da saliência onde o grupo passara a noite com as suas provisões de mercadorias roubadas — dois bandos de animais e uma meia dúzia de cavalos. De repente, o disparo de um rifle rompeu a quietude matinal, a bala calibre 38 achatou-se como uma lesma contra uma rocha antes de ricochetear para perfurar a perna de Ed acima do joelho. Ele caiu sobre o leito de areia do rio intermitente e arrastou-se para trás de um arbusto até o recanto na parede de onde Blue John e Silver Tip trocavam tiros com as forças da lei que encontrara os foragidos pelos seus rastros e pela fogueira da noite. Blue John mantinha os milicianos ocupados enquanto Silver Tip arrastava-se sorrateiramente para fora do recanto, escalando até a coroa do cânion, de onde disparou três tiros acima da cabeça dos homens do xerife. Os milicianos desceram apressadamente para o rio seco principal do cânion Roost, recuando até onde haviam deixado os cavalos, e fugiram a toda velocidade para os seus ranchos e casas com uma história sobre a sua troca de tiros com o Wild Bunch. Foi a última vez que os três bandidos trabalharam juntos ou participaram de uma atividade clandestina. Eles penduraram os rifles e mudaram de vida, cada um deles desaparecendo pacificamente na história depois de toda a agitação que provocaram, deixando os seus rastros para que outros seguissem. Indian Ed Newcomb curou a perna e acredita-se que tenha voltado a Oklahoma, desaparecendo na obscuridade. Silver Tip escapou da prisão depois de cumprir dois anos de uma sentença de dez anos no condado de Wayne, em Utah; acabou se estabelecendo no Wyoming, onde viveu tranquilamente o resto dos seus dias. Blue John Griffith foi visto pela última vez no final de 1899, às margens do rio Colorado, encaminhando-se para Lee’s Ferry, percorrendo um dos trechos mais lindos e intimidadores do rio no oeste. Embora se especule que ele deixou o rio no meio do caminho para ir ao Arizona ou até mesmo ao México, não foi visto chegar em Lee’s Ferry e nunca mais se ouviu falar a seu respeito. Dos três, apenas um deixou uma marca permanente sobre a terra. O cânion Blue John e a cachoeira Blue John, do outro lado da divisa das águas em frente ao local da fatídica tentativa de emboscada, receberam esse nome em memória do às vezes cozinheiro, às vezes maquinista, às vezes ladrão de cavalos que perambulou pelo Roost por uma década pouco antes da virada do século XX.


*** Capítulo Um – “O tempo geológico inclui o agora” CAPÍTULO UM “O TEMPO GEOLÓGICO INCLUI O AGORA” Este é o lugar mais lindo da terra. Existem muitos lugares assim. Todo homem, toda mulher, traz no coração e na mente a imagem do lugar ideal, conhecido ou desconhecido, real ou imaginário. (…) Não há limite para a capacidade humana de abrigar sentimentos. Os teólogos, pilotos aéreos e astronautas conhecem o apelo desse chamado sentido lá no alto, nos ermos frios e escuros do espaço interestelar. No meu caso, escolhi Moab, Utah. Não me refiro à cidade em si, é claro, mas à terra em torno dela — a terra dos cânions. O deserto de rochas escorregadias. A poeira vermelha, os penhascos calcinados e a vastidão solitária do céu — tudo isso situado muito além do fim das estradas. — Edward Abbey, Desert Solitaire Rastros esgarçados de condensação riscam o céu azul acima do planalto desértico avermelhado e imagino quantos dias de insolação essa terra árida e profundamente cortada pela erosão testemunhou desde a sua criação. É uma manhã de sábado, 26 de abril de 2003, e estou percorrendo sozinho de bicicleta uma estrada poeirenta e empedrada no lugar mais ermo a sudeste do condado de Emery, no centro-leste de Utah. Uma hora atrás, deixei a minha caminhonete de carga no estacionamento poeirento no começo da trilha para o cânion Horseshoe, a isolada janela geográfica do Parque Nacional de Canyonlands que se situa 24 quilômetros a noroeste do lendário distrito de Maze, 64 quilômetros a sudeste da crista eriçada da elevação de San Rafael, 32 quilômetros a oeste do rio Green, e cerca de 64 quilômetros ao sul daquele ponto da rodovia interestadual e corredor comercial I-70, onde uma placa adverte sobre a última oportunidade de abastecer (“next services: 110 miles”, ou seja, próximo posto de serviços a 176 quilômetros). Com os chapadões abertos cobrindo mais de uma centena e meia de quilômetros entre as serras de picos nevados dos Henrys ao sudoeste — a última serra dos Estados Unidos a ser batizada, explorada e mapeada — e o La Sals ao leste, umvento forte sopra com força do sul, a direção para a qual estou me encaminhando. Além de retardar o meu progresso a ponto de parecer que estou me arrastando — estou na marcha mais reduzida e pedalando forte sem parar só para avançar um pouco — o vento sopra rajadas curtas de areia marrom sobre a estrada flanqueada de areia. Tento evitar as rajadas, mas de vez em quando elas varrem toda a estrada e a minha bicicleta atola. Três vezes já precisei ir andando através de areais especialmente compridos. O percurso teria sido muito mais fácil se não tivesse essa mochila pesada nas costas. Normalmente, não carregava mais de 10 quilos de suprimentos e de equipamento em um percurso de bicicleta, mas estou seguindo por um circuito de quase 50 quilômetros de extensão para ciclismo e canionismo — atravessando o fundo de um sistema de cânions profundos e estreitos — que vai me consumir mais de um dia. Além de um galão de água armazenado em uma bolsa de hidratação isolada CamelBak de 3 litros e uma garrafa Lexan de 1 litro, tenho cinco barras de chocolate, dois burritos e um muf in de chocolate em uma embalagem plástica na mochila. Estarei morrendo de fome quando voltar à caminhonete, com certeza, mas tenho o suficiente para o dia. O que realmente pesa na mochila é todo o meu equipamento variado de rapel: três mosquetões comtrava, dois mosquetões convencionais, um freio de rapel para peso leve, um cinto tipo sling de meia polegada, uma alça de fita costurada de meia polegada com pequenas alças de suporte chamada daisy chain, a minha cadeirinha de escalar, uma corda de escalada dinâmica de 10,5 milímetros de espessura e 60 metros de comprimento, 7,5 metros de fita tubular de uma polegada e a minha ferramenta multifuncional Leatherman raramente usada (com duas lâminas de canivete e um alicate) que carrego em caso de precisar cortar a fita para fazer âncoras. Na mochila também levo uma lanterna de cabeça, fones de ouvido, tocador de CD e vários CDs da banda Phish, baterias AA de reserva, câmera digital e minicâmera de vídeo digital, além das suas baterias e bolsas de proteção. Isso aumenta o peso, mas considero tudo necessário, até mesmo os apetrechos da câmera. Gosto de fotografar as cores e formas de outro mundo reveladas nas profundezas retorcidas das fendas dos cânions e das obras de arte pré-históricas preservadas nos vãos das paredes. Essa viagem terá como bônus a minha passagem por quatro sítios arqueológicos no cânion Horseshoe, onde estão abrigados centenas de petróglifos e pictogramas.

O Congresso americano acrescentou o cânion, que de outro modo continuaria isolado, ao Parque Nacional de Canyonlands, especificamente para proteger gravuras e pinturas de 5.000 anos de idade encontradas ao longo do riacho Barrier Creek, na parte inferior do Horseshoe, um registro silencioso da presença de um povo ancestral. Na Grande Galeria, dezenas de formas super-humanas de 2,80 a 3 metros de altura pairam escalonadas acima de grupos de animais indistintos, dominando feras e espectadores igualmente com os seus corpos escuros e compridos, ombros largos e olhos marcantes. As aparições esplendidamente volumosas são os exemplares mais antigos e melhores do seu tipo de desenho do mundo, espécimes tão destacados que os antropólogos chamaram à feição artística pesada e de certo modo sinistra dos seus criadores como o “estilo de Barrier Creek”. Embora não existam registros escritos para ajudar-nos a decifrar a intenção dos artistas, alguns outros personagens parecem ser caçadores com lanças e porretes; a maioria deles, sem pernas, sem braços e com chifres, parece flutuar como demônios apavorantes. Não importa qual seja o seu suposto significado, as formas misteriosas são admiráveis pela sua capacidade de portar uma declaração de ego através dos milênios e confrontar o observador moderno com o fato de que os painéis sobreviveram por mais tempo e estão em melhores condições do que quase todos os antigos artefatos de ouro da civilização ocidental. Isso provoca a pergunta: o que restará das sociedades ostensivamente avançadas de hoje daqui a 5.000 anos? Provavelmente não as nossas obras de arte. Nem tampouco alguma evidência de nossa quantidade de registros dos momentos de lazer (já que a maioria de nós esbanja esse luxo na frente da televisão). * * * Prevenido contra a umidade e a lama do cânion, estou calçando um par de tênis de corrida surrados e meias grossas de um composto de algodão. Isolados assim, os meus pés suam à medida que bombeiam os pedais da bicicleta. As minhas pernas também suam, apertadas dentro das bermudas de ciclista de Lycra que estou usando embaixo das bermudas de náilon bege. Mesmo através do acolchoamento de dupla espessura, o selim da bicicleta agride o meu traseiro. Por cima de tudo, estou com minha camiseta predileta da banda Phish e um boné de beisebol azul. Deixei a jaqueta impermeável na caminhonete; o dia vai ser quente e seco, assim como ontem quando pedalei a bicicleta pelo circuito de quase 20 quilômetros da trilha de Slick Rock a leste de Moab. Se fosse chover, um cânion cheio de fendas seria o último lugar aonde iria, com jaqueta ou sem ela. Viajar com pouco peso é um prazer para mim, e imagino como fazer mais com menos de modo a poder ir mais longe em um determinado período de tempo. Ontem, levei apenas a minha pequena CamelBak junto com alguns reparos da bicicleta e as minhas câmeras, uma carga muito pequena de menos de 5 quilos para percorrer o circuito de quatro horas. À noite, sem a bicicleta e o seu equipamento, caminhei por 9 quilômetros ida e volta pra uma visita a um arco natural na direção de Castle Valley, levando apenas 3 quilos no total de água e o equipamento da câmera. Anteontem, quinta-feira, com o meu amigo Brad Yule, de Aspen, escalei e esquiei pelo monte Sopris, o senhor absoluto do oeste do Colorado, com os seus 3.960 metros de altitude, e carreguei algumas mudas de roupa e um equipamento de salvamento em caso de avalanche, mas ainda assim mantive a carga abaixo dos oito quilos. A minha viagem de cinco dias na estrada vai culminar no domingo à noite, com uma tentativa solitária e sem patrocínio de percorrer de bicicleta a trilha de 173 quilômetros de White Rim no Parque Nacional de Canyonlands. Se carregasse os suprimentos que levei nos três dias que gastei da primeira vez que fiz essa trilha em 2000, estaria com uma carga de 30 quilos e morreria de dores nas costas antes de percorrer 16 quilômetros. Nas minhas estimativas feitas no planejamento dessa vez, espero carregar 7,5 quilos e completar a volta em menos de 24 horas. Isso significará seguir umplano de controle do consumo de água planejado com precisão para aproveitar ao máximo as escassas oportunidades de reabastecimento, a falta de sono e apenas um mínimo de paradas rápidas.

A minha maior preocupação não é que as minhas pernas fiquem cansadas — sei que ficarão e sei como controlá-las — mas, sim, que o meu “trem de pouso” torne-se sensível demais para me permitir continuar sentado. O “coma dos fundilhos”, como ouvi mencionarem, resulta da excessiva estimulação dessensibilizadora do períneo. Como não percorri de bicicleta uma longa distância desde o último verão, a minha tolerância ao selim da bicicleta é desconcertantemente baixa. Caso tivesse previsto essa viagem antecipadamente, duas noites antes, teria saído em pelo menos umpercurso longo na região de Aspen. Da maneira como aconteceu, alguns amigos e eu desistimos de um percurso de montanhismo no último momento na quarta-feira; o cancelamento deixou-me livre para uma peregrinação pelo deserto, uma saída para me aquecer e me acostumar com a paisagem das montanhas no inverno. Normalmente, deixaria uma programação detalhada dos meus planos com os meus companheiros de quarto, mas como saíra de casa em Aspen sem saber o que faria, a única informação sobre o meu destino que dei foi “Utah”. Pesquisei rapidamente as minhas opções de viagem numa consulta aos meus guias de viagem enquanto dirigia do monte Sopris prevendo chegar na quinta-feira à noite em Utah. O resultado foram umas férias caprichosamente improvisadas, que incluiriam até mesmo a participação em uma grande festa de despedida, esta noite, no campus próximo ao Parque Estadual de Goblin Valley. São quase 10h30 enquanto pedalo à sombra de um zimbro solitário e pesquiso as imediações banhadas pelo sol. O deserto salpicado de arbustos retorcidos afasta-se gradualmente para uma vastidão de domos rochosos pintados, escarpas escondidas, encostas de aluvião retorcidas, cânions intrincados e tortuosos, e monólitos partidos. Essa é uma terra agourenta; é uma terra enfeitiçada. Essa é a terra de Abbey, o deserto avermelhado para lá do fim da estrada. Desde que cheguei depois do escurecer na noite passada, não pude ver muita coisa da paisagem enquanto dirigia até o começo da trilha. Enquanto observava o terreno para o leste em busca de algum sinal do cânion a que me destinava, tirei o meu muf in de chocolate da padaria do supermercado de Moab e praticamente engoli parte dele sem mastigar; tanto o muf in quanto a minha boca tinham secado em razão da exposição ao vento árido. Há inúmeros sinais de gado desgarrado apesar das incessantes tentativas dos rancheiros de proteger sua vida contra as incertezas do deserto. As manadas se atropelam pelos caminhos sinuosos através do mundo indígena que se espalha a perder de vista pela vastidão do espaço: um emaranhado de gramíneas, cactos espinhentos de 30 centímetros de altura e uma negra crosta microbiana cobre a terra vermelha. Engoli o resto do muf in, deixando apenas farelos na embalagem, com vários goles do meu tubo de hidratação CamelBak preso ao meu ombro por uma alça. Tornando a montar, desço a estrada pelo lado protegido do vento na encosta à minha frente, mas no alto do morro seguinte, estou envolvido na batalha contra as rajadas de vento outra vez. Depois de mais vinte minutos calcando as pernas nesta fornalha causticante da estrada, vejo um grupo de motociclistas passarem por mim na outra faixa a caminho do distrito de Maze em Canyonlands. A poeira das motocicletas bate direto no meu rosto, entope o meu nariz, os meus olhos, os meus dutos, até mesmo grudando nos meus dentes. Faço uma careta por causa do atrito contra os meus lábios, limpo os dentes com a língua e me esforço para continuar, imaginando para onde aqueles motociclistas estariam indo. Estive em Maze apenas uma vez, por cerca de meia hora, dez anos atrás. Quando o nosso grupo de rafting do cânion das Cachoeiras desembarcou numa tarde para acampar à beira do rio Colorado numa praia chamada Spanish Bottom, caminhei por cerca de 300 metros pela escarpa rochosa até umlugar conhecido como Doll’s House. As agourentas formações rochosas de 1.530 metros de altura erguiam-se acima de mim enquanto caminhava pelo arenito e pelo granito como um liliputiano.

Quando finalmente me voltei e olhei para o rio, parei na hora e sentei-me no rochedo mais próximo com uma vista. Foi a primeira vez que os traços e processos de formação do deserto me fizeramparar e observar como somos valentes apesar de pequenos, nós da raça humana. Lá embaixo, os barcos ancorados no Spanish Bottom e o rio correndo furiosamente; de repente, eu percebi no seu fluxo castanho-avermelhado que ele estava, mesmo naquele exato momento, escavando os 2.600 quilômetros quadrados dos planaltos do próprio cânion. Da Doll’s House, tive a inesperada impressão de que estava assistindo ao contínuo nascimento de toda uma paisagem, como se estivesse na borda de uma caldeira explosiva. A vista me deu um sentimento do alvorecer dos tempos, aquela época primordial antes da vida, quando só existia a terra desolada. Como ver a Via Láctea através de um telescópio e imaginar se estamos sozinhos no universo, aquilo me fez entender com a clareza ofuscante da luz do deserto como a vida é escassa e delicada, quanto somos insignificantes em comparação com as forças da natureza e as dimensões do espaço. Se por um acaso o meu grupo embarcasse nos dois botes de borracha a menos de 2 quilômetros de distância e partisse, eu ficaria tão isolado do contato humano quanto seria possível a uma pessoa. Num período de quinze a trinta dias, eu definharia à míngua em uma morte solitária ao caminhar pelos meandros de volta rio acima até Moab, nunca mais voltando a ver o menor sinal ou a pele de outro ser humano. Ainda assim, além da escassez e da solidão do deserto ao redor, era um pensamento exultante que deslustrava o verniz das nossas presunçosas ilusões de importância. Não somos grandes porque estamos no topo da cadeia alimentar ou porque podemos alterar o nosso ambiente — o ambiente sobreviverá a nós com as suas forças incomensuráveis e os seus poderes inflexíveis. Mas em vez de sermos dobrados e derrotados pela nossa insignificância, somos corajosos porque exercemos a nossa vontade de qualquer maneira, apesar da efêmera e delicada presença que temos nesse deserto, neste planeta, neste universo. Permaneço sentado por mais dez minutos e, então, com a minha perspectiva tão alargada quanto a vista daquela encosta, voltei ao acampamento e jantei excepcionalmente commenos convicção do que nunca.

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