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50 Licoes para Tornar Possivel o Impossive – Regina Brett

Todos os dias passamos por fazedores de milagres. Estão quase sempre disfarçados de pessoas comuns, professores, cabeleireiras, enfermeiras, secretárias, caixeiras, motoristas de táxi e outros. Nunca esquecerei o dia em que me sentia uma pilha de nervos e fui pagar o estacionamento de um parque ao ar livre. Na maioria dos parques, o funcionário de uma cabina estende a mão, recebe o dinheiro, dá-nos o troco e vamos embora. Os olhares nunca se cruzam e nenhum dos dois recorda o encontro. Desta vez, o funcionário ergueu-se, pôs a cabeça de fora e exibiu o maior dos sorrisos. Olhou-me bem nos olhos, cumprimentou-me, apertou-me a mão e abençoou-me antes de eu partir. Contou-me que adorava o seu trabalho e que o encarava como uma missão para abençoar as pessoas que saíam do parque de estacionamento a caminho do resto do dia. Onde eu via apenas um coletor de dinheiro, ele via uma missão de vida. Senti-me calma e renovada. Todos nós já tivemos momentos assim. Acontecem quando estamos perto de pessoas que sabem que somos todos importantes, que não é preciso ganhar muito dinheiro para fazer a diferença, e que basta começar onde estamos e ampliar o que é bom. É muito fácil sentir-se esmagado pelos problemas do mundo. Quantas vezes já ouviu alguémdizer: «Mas porque ninguém faz nada para resolver isto?», ou escutou as mesmas palavras da sua própria boca, como já aconteceu comigo. Ouvimos más notícias e sussurramos: «Era preciso um milagre para remediar isto.» E ficamos eternamente à espera de que o milagre venha de outra pessoa qualquer. Queremos que outra pessoa aja. Porém, os milagres não são o que os outros fazem. São o que cada um de nós realiza. Os milagres acontecem quando as pessoas vulgares fazem coisas extraordinárias. Ser um milagre não implica tentar resolver problemas em todo o mundo. Significa fazer a diferença na sua própria sala, gabinete, bairro, comunidade. Há 26 anos que tenho o privilégio de escrever artigos de opinião para o Plain Dealer, emCleveland, e antes disso fui jornalista no Beacon Journal, emAkron. Tive um lugar na primeira fila da vida. Pessoas de todos os géneros abriram-me o coração para me contar como tornarampossível o que era impossível.


Vai conhecer algumas neste livro, uma vez que alguns desses textos foram publicados nesses jornais. A minha jornada do cancro inspirou o meu primeiro livro, 50 Lições que a Vida Me Ensinou. Escrevi as minhas primeiras 50 lições por gratidão por estar viva ao ultrapassar os 50. Há 13 anos, quando estava careca devido à quimioterapia e debilitada por causa da rádio, não tinha a certeza de vir a envelhecer. Pelo caminho, conheci vários sobreviventes de cancro que me ensinaram a ocupar-me com o possível, independentemente do prognóstico. Essas 50 lições viajaram pelo mundo fora, primeiro como artigos de opinião, depois como emails por todo o país e também pelo mundo fora, e, finalmente, como livro. São citadas por gestores, padres, juízes e assistentes sociais. As lições saíram em centenas de newsletters, boletins de igrejas e jornais regionais. As pessoas andam com a lista das lições na carteira, penduram-na nos gabinetes de trabalho e nas portas dos frigoríficos. Uma vez ouvi dizer que as pessoas leem para não se sentir sozinhas. Espero que estes novos artigos, histórias e textos reflitam verdades pessoais que sejam universais para todos. Desejo que este livro a ajude a aceitar-se como é, e a desafie a dar o seu melhor para tornar qualquer coisa possível. Não podemos fazer tudo e o que conseguimos realizar não atinge a perfeição, mas não importa. Só é preciso começar, aqui e agora. Se fizermos apenas isso, fará toda a diferença no mundo. LIÇÃO 1 Comece onde está Diz o velho ditado: «Se julga que é demasiado pequeno para fazer a diferença, é porque nunca esteve numa tenda com um mosquito.» Sempre que oiço isto, os meus ouvidos arrepiam-se perante o poder que um inseto minúsculo e irritante tem para não me deixar dormir a noite toda e obrigar a coçar-me todo o dia. A verdade é que somos todos suficientemente grandes, pequenos ou do tamanho necessário para fazer a diferença. Nos tempos em que era jornalista emAkron, no Ohio, fui fazer a cobertura de uma história de primeira linha sobre uma rapariguinha que fora raptada num dia de setembro. Naquela tarde de segunda-feira em que saiu de casa numa bicicleta cor-de-rosa, Jessica Repp tinha apenas nove anos. A dois quarteirões de casa, um homem de carro abordou-a e perguntou-lhe se conhecia alguém ali no bairro. Saiu do carro, abriu o porta-bagagem e fingiu procurar alguma coisa. De repente, arrancou Jessica do passeio, atirou-a para dentro da mala e fugiu. O pai de Jessica ligou para o Beacon Journal a pedir que publicássemos o desaparecimento da filha. Ligou tarde, o que nos deixou pouco tempo para relatar mais do que os poucos factos que ele sabia e uma descrição geral da menina.

A polícia ainda não tivera tempo de confirmar os pormenores da investigação e não tínhamos informações concretas. Isso foi antes dos Alertas Amber e das notícias ininterruptas em infindáveis canais por cabo. Sheryl Harris, uma das nossas jornalistas, ficou a trabalhar até muito tarde nesse dia, tentando reunir todas as informações possíveis do pai e conseguiu publicar a fotografia da rapariga no jornal do dia seguinte. Mal tivera tempo de fazer uma descrição para além de que se tratava de uma rapariguinha loura com uma T-shirt cor-de-rosa. Vinte e quatro horas depois, Jessica continuava desaparecida. A notícia espalhou-se na comunicação social. Juntei-me à horda de jornalistas à porta de sua casa, à espera das más novas que certamente chegariam. Qualquer agente da lei lhe dirá que, depois de 24 horas, uma criança desaparecida já não volta. Entravam e saíam padres, vizinhos e pessoas da igreja. Já parecia um funeral. Consegue imaginar o que é ter um filho raptado? A rezar toda a noite ao lado do telefone, na esperança de ouvir um milagre. Em vez disso, os pais e irmãos de Jessica acordaram com o barulho dos helicópteros e dos agentes a cavalo nos campos de milho ali perto à procura do cadáver. O xerife, os agentes do FBI e dezenas de polícias espalharam-se por todo o bairro. Até pesquisaram, de barco, os lagos mais próximos. Os cães da polícia cheiraram o boneco de pelúcia preferido de Jessica e procuraram o rasto da menina desaparecida. Um miúdo sozinho subia e descia a rua, aproximando-se e afastando-se da carrinha do xerife estacionada em frente à casa. Jonathan, o irmão de Jessica, tinha 13 anos. Não parava de perguntar se já haviam encontrado a irmã. Tinha os olhos vermelhos de chorar e de acordar várias vezes durante a noite na esperança de a ver a dormir, sossegada, na cama. Enquanto observava os esforços da polícia no ar e à minha volta, rezei pela rapariguinha e pela sua família. Estava no passeio quando, de repente, pareceu que a casa inteira gritou. A polícia tinha encontrado Jessica. Viva. A mãe, a irmã, o irmão e todas as pessoas saíram de casa disparadas, a chorar e a agradecer a Deus. O pai estava a distribuir mais fotocópias com o seu retrato quando recebeu a notícia.

Largou-as e correu para o hospital. Todos os jornalistas se apressaram a chegar ao hospital, onde a polícia não sabia dizer o que acontecera à menina. Sempre que lhe perguntavam pormenores, chorava. Aconteceu que o sequestrador levou a rapariga a uma loja de conveniência, em Barberton, por volta das cinco da manhã. Um funcionário da mesma atendia diligentemente os clientes quando apareceu um homem com uma miúda que tinha um ar aterrorizado. O empregado olhou para ela e depois para a fotografia de Jessica Repp, no artigo de jornal que Sheryl escreveu. Era a mesma. Ligou para a polícia. Aquele funcionário da loja de conveniência salvou a vida daquela miúda. Identificou o sequestrador, que anteriormente já tinha estado na sua loja como cliente. Pouco depois, um empregado de uma bomba de gasolina também ligou à polícia por causa de um homem de comportamento estranho. A gravação de vídeo da loja confirmou tratar-se do sequestrador. Tinha ido comprar cigarros. Pouco antes das 11 da manhã, a polícia descobriu o carro num parque de estacionamento, com a menina sentada lá dentro. A polícia relatou que o homem tinha um histórico de distúrbios mentais e de comportamentos erráticos. O mais provável era que entrasse em pânico e matasse a menina. Mais tarde, a minha amiga Sheryl acabou por ganhar o Prémio Pulitzer, o maior que um jornalista pode receber, com a publicação de uma longa série sobre relações raciais. Ela nem se lembra de ter escrito aquela notícia curta sobre Jessica Repp. Era tão pequena que não fazia qualquer diferença na sua carreira. Não foi uma reportagem digna de ser premiada, mas eu penso sempre que foi algo melhor do que isso, pois salvou uma vida. Provavelmente, a melhor história que escreveu foi essa, uma das mais pequenas. Não me lembro se foi sequer assinada, mas ajudou a salvar a vida daquela criança. Nunca soube o que aconteceu ao funcionário do posto de gasolina ou ao da loja de conveniência, o primeiro a relatar a presença do raptor e da sua vítima. São funcionários tão anónimos que nem reparamos neles quando compramos um pacote de leite, um maço de cigarros ou combustível. Mas esta história mudou a forma como vejo as pessoas por quem passamos diariamente e que trabalham em empregos modestos.

Mostraram-me que ninguém é demasiado insignificante ou pequeno para fazer a diferença. Se quer mudar o mundo de uma maneira grandiosa, entregue-se às suas pequenas tarefas commais amor, mais atenção e mais paixão. Aceite o emprego que tem, a família que tem, o bairro que tem e a tarefa que lhe foi atribuída. Nunca sabemos o que pode acontecer quando atuamos simplesmente em função das possibilidades que temos à frente. Quando se começa onde se está, pode apenas vender leite, cigarros ou gasolina, ou também salvar a vida de alguém. LIÇÃO 2 Ocupe-se com o possível Oimpossível pode começar com uma coisa tão pequena como um caroço. Durante anos, dei ouvidos à campanha para fazer autoexames mensais aos seios. Tal como a maioria das mulheres, fazia-os «mais ou menos». De poucos em poucos meses, apalpava-os rapidamente, mas nunca da forma exaustiva que os médicos sugerem. Não queria andar embusca de sarilhos. Se os procurarmos bem, acabamos por encontrá-los. Procurar sinais de cancro é muito inquietante. Ainda bem que o fiz. Certa noite, os meus dedos percorriam um círculo à volta dos seios quando deram com umalto. Há quando tempo aquele ponto duro estava ali? Provavelmente não era nada, mas não o senti na última vez que me tinha examinado. Aquele nada revelou-se um cancro da mama do grau dois. Um cirurgião removeu um tumor do tamanho de uma uva. Quando se ouve a palavra cancro, é como se alguém pegasse no tabuleiro da vida e o atirasse ao ar. As peças voam todas e aterram num tabuleiro novo. Tudo muda de lugar. Não sabemos por onde começar. O medo só recua quando podemos realmente agir e ocupar-nos com o que é possível. Antes de começar os tratamentos de quimioterapia, anotei os melhores conselhos dos médicos, da família, amigos, livros e sobreviventes, e criei um manual próprio para me ajudar a cuidar de mim. Serviu para me lembrar que é possível curar um cancro. Organizei um plano para aguentar quatro meses de quimio e seis semanas de radioterapia diária.

O meu manual começava com uma promessa solene de sobrevivência: Eu, Regina, prometo que vou ficar boa. Prometo participar nos tratamentos, mesmo que isso signifique suportar temporariamente alterações físicas, emocionais e mentais na minha vida. Prometo aderir a estes tratamentos e a não olhar para trás. Prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para me curar e viver. Quando se tem cancro, entra-se noutra dimensão do tempo, a dimensão do cancro. Tudo o que existe no trópico do Câncer gira à volta da nossa saúde ou da nossa doença. Não queria que a minha vida toda se resumisse a isso. Em primeiro lugar estava a vida, o cancro vinha emsegundo. Assim, inventei uma nova estratégia, a de celebrar a vida no meio do cancro. Gozar o tempo passado com as pessoas que amo, ler os livros todos que gostava de ler, ver todos os filmes que perdi e comprar o piano que sempre quis. O meu plano era manter a maior parte da minha vida intacta, sempre que possível. Escrever os meus artigos de jornal, jogar vólei e dar as minhas aulas de escrita. Na manhã do primeiro tratamento de quimioterapia, enchi uma mochila com uma garrafa de água, o meu manual próprio, um bloco-de-notas, canetas, bombons, CD e o respetivo leitor, auscultadores e livros. O tratamento ia durar apenas uma ou duas horas, mas fui preparada para tudo. Afundei-me na poltrona reclinável como se estivesse na praia, ajustei os auscultadores e ouvi Louis Armstrong cantar I see trees of green, red roses too, I see them bloom, for me and you. And I think to myself, what a wonderful world. E o mundo era mesmo maravilhoso, apesar de girar à volta do cancro durante um ano. Quando tive cancro da mama, em 1998, não existiam grupos de apoio na zona que não custassemdinheiro ou seguros. Cada hospital tinha o seu próprio departamento oncológico, mas não havia um sítio central para conviver com outros sobreviventes e tentar curas holísticas, como ioga, reiki, exercícios e escrever diários. Um ano depois de começar a minha cura, Eileen Saffran entrou na minha vida. Tinha um sonho. Queria criar um lugar onde qualquer pessoa tocada pelo cancro pudesse obter gratuitamente todo o apoio de que precisasse. Sentei-me com dúzias dessas pessoas na primeira reunião que ela organizou. O sonho dela pareceu-me demasiado grande, vasto e impossível. Não acreditei que alguma vez se tornasse realidade e abandonei o barco.

A radiação e os efeitos secundários da quimio mantinham-me debilitada e não pude imaginar como aquele plano iria algum dia resultar. Eileen era uma assistente social clínica cujos pais receberam um diagnóstico de cancro comseis meses de intervalo. O pai tinha cancro no pulmão e a mãe um linfoma não-Hodgkin. Faleceram em três anos. Acompanhá-los durante os tratamentos fê-la perceber a necessidade de um local onde as pessoas pudessem obter ajuda. Eileen visionava um centro que não cheirasse ou se parecesse com um hospital, onde as pessoas não precisassem do seguro certo para seremaconselhadas ou de uma carta de recomendação de um médico para terem uma massagem. Umsítio onde qualquer pessoa tocada pelo cancro tivesse acesso gratuito aos serviços de apoio. Onde não se sentisse tão sozinha. Eileen trabalhava com doentes oncológicos e do foro psicológico. Reuniu uma junta de aconselhamento e contactou especialistas e institutos de cancro. Analisou centros de bem-estar em todo o país. Lançou o website touchedbycancer.org. e abriu as portas do Gathering Place 18 meses depois daquela primeira reunião. Nunca percebi como logrou fundá-lo e geri-lo. Como conseguiu? – Ingenuidade otimista – confessou ela. Quando visito o Gathering Place lembro-me sempre de uma frase da Alice no País das Maravilhas, quando ela diz: «Não adianta tentar, ninguém consegue acreditar em coisas impossíveis», ao que a Rainha Branca responde: «Atrevo-me a dizer que não treinaste muito. Quando tinha a tua idade, treinava sempre meia hora por dia. Às vezes, cheguei a acreditar emseis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço.» Se quer alcançar o impossível, ocupe-se com o possível. Eileen criou a Suíça dos cuidados de saúde. É um centro comunitário, independente e autossuficiente. Não há batalhas territoriais entre hospitais. Não importa onde as pessoas foramtratadas. São todos bem-vindos.

Todos os serviços são gratuitos para quem foi tocado pelo cancro. O centro oferece massagens, curas pela imposição das mãos, escrita de diários, tai chi, ioga, programas de nutrição, exercício físico e grupos de apoio para quase todos os tipos de cancro. Existem uns que ensinam a avançar com a vida, ficar com melhor aspeto ou encontrar paz interior, e também programas sobre perdão, mimos e cozinha saudável. Há uma bibliotecária médica que presta conselhos sobre contas, exames e tratamentos clínicos, e advogados voluntários que fazem testamentos vitais e planeiam heranças. É um lugar de cura e de esperança. Um lugar onde nunca tem de puxar do cartão do seguro e que não parece uma instituição. Não há injeções, não tiram sangue, não fazem tratamentos ou exames. É mais como um lar com lareira, peças de arte nas paredes e mobiliário confortável. Foi tudo doado por indivíduos ou organizações. O Gathering Place nasceu em 2000, numa frente de loja com 560 metros quadrados. Duplicou a área e o orçamento operacional passou de 360 000 dólares por ano para 1,8 milhões. O edifício já foi pago. O centro funciona somente com contribuições de indivíduos e organizações e conta com a ajuda de 350 voluntários. Onde antes existia uma pilha de lixo, há agora um jardim de cura que floresce com fontes e cascatas, esculturas de pedra e comedouros para pássaros. Os portões de ferro representamlabirintos intrincados. Um livro de histórias encantadas sobre transformação leva-nos de umcasulo de lagarta a uma borboleta gigante de prata. É um local que nos lembra que o mundo é maravilhoso, mesmo que lute contra o cancro ou ajude alguém que ama a enfrentar a doença. Ainda não temos a cura para o cancro, mas as pessoas como Eileen tratam do medo que ele provoca dando esperança. Podemos todos fazer o mesmo, se nos ocuparmos com o possível, por muito impossível que pareça.

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