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A rainha normanda – Patricia Bracewell

A Cruz: cruz na qual Cristo foi crucificado. Ætheling: literalmente, “merecedor do trono”. Todos os filhos legítimos dos reis anglo-saxões eram chamados assim. Augurar, vaticinar: prever baseando-se em sinais e presságios. Bailio: homem com responsabilidades administrativas empregado por famílias reais, bispos e nobres para supervisionar cidades, aldeias e grandes propriedades. Braies: termo francês para calções, ou bragas, feitos de linho. Breecs: termo anglo-saxão para calções, ou calças, amarrados abaixo do joelho. Burh: fortaleza anglo-saxã. Byrnie: túnica, cota de malha. Calendas: o primeiro dia do mês no antigo calendário romano, que sempre caía num dia de lua nova. Capa de asperges ou capa magna: paramento eclesiástico, em geral de seda e profusamente bordado; parecia-se com um manto comprido. Casula: paramento eclesiástico, manto sem mangas que cobre o corpo e os ombros, em geral ricamente bordado, usado por cima de uma túnica branca e comprida durante a celebração da missa. Ceap: o mercado, ou rua principal (onde fica o comércio). Chausses: palavra em francês antigo que significa meia colante e comprida. Conde: nobre de posição elevada indicado pelo rei para governar uma província em seu nome. Liderava tropas, arrecadava impostos e cuidava da aplicação da justiça. Era uma posição política em geral concedida a membros de famílias poderosas. Corredor de guarda-ventos: vestíbulo situado imediatamente à entrada de um grande salão ou cômodo semelhante, criado por anteparos móveis que bloqueavam a penetração de correntes de vento no ambiente quando as portas eram abertas. Culver: palavra anglo-saxã que significa pombo. Cyrtel: tipo de vestido feminino. Danelaw: área da Inglaterra que compreende aproximadamente Yorkshire, Ânglia Oriental, Mércia Oriental e Mércia Central, na qual ondas sucessivas de escandinavos se estabeleceram ao longo dos séculos IX e X. Enviados: criaturas malévolas ou desagradáveis enviadas por alguém com poderes mágicos para advertir, punir ou vingar; da tradição nórdica antiga. Escarpa: inclinação íngreme de terreno formada pelo rompimento da crosta da terra. Fyrd: força armada mobilizada por ordem do rei ou de algum conde, normalmente para se defender de uma ameaça dos vikings. Gafol: tributo pago a um exército inimigo para comprar a paz.


Geld: imposto arrecadado pelo rei, que usava o dinheiro para pagar o tributo exigido pelos invasores vikings. Godwebbe: tecido precioso, muitas vezes de cor púrpura, em geral de seda; provavelmente um tafetá de seda furta-cor. Handfasting: casamento ou noivado; sinal de compromisso num relacionamento sem cerimônia religiosa nem troca de propriedade. Headrail: toucado feminino composto de véu, na maior parte das vezes usado com um diadema, aro ou faixa, mantido no lugar com grampos. Herepath: estrada militar. Hird: exército dos Homens do Norte; os inimigos dos ingleses. Hoste: exército. Leman: palavra em francês antigo que significa amante, concubina. Pennons: estandartes, bandeiras. Pulses: grãos comestíveis secos como ervilhas, feijões. Scop: contador de histórias; harpista. Seax: faca. Sezão: qualquer doença com febre alta. Skald ou scald: bardo ou contador de histórias. Tafl: jogo de tabuleiro popular na Inglaterra e na Escandinávia no início da Era Medieval, parecido com o xadrez moderno. Thegn o u thane: literalmente “aquele que serve a outro”; título que marca um relacionamento pessoal; os mais importantes serviam ao próprio rei; membro de posição mais elevada na sociedade anglo-saxã; arrendatário de terras com obrigações específicas devidas a seu senhor. Tratamento com sanguessugas ou ventosas: arte da cura, praticada por curandeiros, rezadores, benzedeiros etc.; os médicos antigos. Tropas da Lareira (Hearth troops) ou domésticas: guarda pessoal, guerreiros que protegiam a família do rei ou de algum grande senhor. Wain: termo arcaico para carroça, carreta rural. Wergild: literalmente “pagamento de homem”; valor estabelecido pela vida de uma pessoa. Witan: “sábios”; o conselho do rei. Wyrd: fado ou destino. 979 d.C.

Nesse ano, o rei Edward foi assassinado em Corfegate, no décimo quinto dia antes das calendas de abril, ao anoitecer, e foi enterrado em Werham sem quaisquer honrarias reais. Não houve pior feito do que este desde que o homem chegou à ilha da Bretanha… Æthelred foi consagrado rei. Nesse mesmo ano, muitas vezes se viu o céu cor de sangue, mais evidente à meia-noite, como fogo em forma de nebulosos feixes de luz. Quando o amanhecer se aproximava, essa coloração aos poucos se desvanecia. – Crônica Anglo-Saxã Prólogo Véspera da Festa de Santa Hilda, novembro de 1001 Proximidades de Saltford, Oxfordshire Ela fez o circuito da clareira entre os carvalhos, três vezes ao redor e três vezes de volta, sussurrando feitiços de proteção. Houvera um presságio naquela noite: uma cortina de luz vermelha brilhara e dançara no céu da meia-noite como seda escarlate lançada contra as estrelas. Certa vez, no ano anterior ao de seu nascimento, uma luz como aquela tinha assinalado a morte de um membro da realeza. Agora certamente assinalava outra, e, embora sua magia não pudesse banir a morte, ela entrelaçou feitiços enquanto andava em círculos para afastar desgraças que pudessem cair sobre o reino. Quando terminou sua tarefa, alimentou o fogo que ardia no centro do antigo anel de pedras que se erguia no meio da clareira e, sentando-se ao lado, esperou aquela que viria em busca de profecia. Antes que o sol se deslocasse pela grossura de um dedo no céu, a figura de uma mulher, oculta por manto e véu, surgiu na parte mais alta do terreno, a mão pousada na pedra-sentinela. Lentamente, ela desceu pela trilha através das árvores, passou pela dança dos gigantes e também veio sentar-se junto ao fogo, com prata na mão. – Queria saber o destino de minha senhora – disse. A prata mudou de mãos e, sem querer, a vidente vislumbrou um coração, partido e estéril, que amava com um amor sombrio e pervertido. Mas a prata fora paga e, a um aceno seu, uma mecha de cabelo foi lançada às chamas. Ela procurou visões no fogo, e elas vieram em turba e atropelo até seus olhos doerem e seu coração ficar marcado. – Sua senhora será unida a um senhor poderoso – decretou ela, afinal –, e os filhos dela serão reis. No entanto, por causa das trevas naquele coração sobre o fogo, nada disse a respeito da outra, da dama que viria de longe, e dos dois fios de vida tão amarrados e emaranhados um no outro que seria impossível separá-los por uma vida inteira, ou para sempre. Não falou da terra verdejante que seria queimada e reduzida a cinzas nos dias vindouros, nem dos inocentes que morreriam, tudo pelo preço de um trono. Haveria presságios no céu outra vez naquela noite, ela sabia, e, lá no alto, as estrelas chorariamsangue. 1001 d.C. Nesse ano houve grande comoção na Inglaterra em consequência de uma invasão dos dinamarqueses, que espalharam terror e devastação por onde passaram, saqueando, queimando e arruinando o país… Levaram grande quantidade de espólio para seus navios, e seguiram depois para a ilha de Wight e nada os deteve; nenhuma esquadra ousou ir por mar ao seu encontro; nem muito menos forças terrestres. Então, de todas as formas foi um tempo difícil, porque eles nunca paravam de cometer suas maldades. — Crônica Anglo-Saxã Capítulo Um 24 de dezembro de 1001 Fécamp, Normandia Se alguém tivesse mantido esse tipo de registro, o inverno de 1001 no noroeste da Europa teria entrado para a história como o mais frio e inclemente em 75 anos. No final de dezembro daquele ano, uma tempestade vinda do norte do Ártico se desencadeou com terrível velocidade, varrendo toda a Europa, mas se abatendo com maior violência sobre os dois reinos que se defrontavam às margens do mar Estreito.

Na Normandia, começou com uma queda brusca de temperatura e uma chuva gelada que banhou as preciosas árvores frutíferas no vale fértil do rio Sena. Rajadas de vento seguiram-se à chuva, arrancando frágeis galhos congelados e dispersando a promessa da colheita do verão seguinte sobre vastos campos cobertos de gelo. Durante um dia e uma noite inteiros a tempestade rugiu e, quando o pior passou, a neve fina caiu silenciosa como uma bênção sobre a paisagem assolada. De dentro da abadia, os monges de Jumièges e de Saint-Wandrille contemplaram a perda de sua colheita de maçãs, curvaram as cabeças e rezaram para aceitar a vontade de Deus. Camponeses, encolhidos juntos para se aquecer em precárias cabanas de madeira e temendo que o fim do mundo tivesse chegado, rezavam por libertação. No recém-construído palácio ducal de Fécamp, onde o duque Richard e sua família estavam reunidos para comemorar a temporada da Natividade de Cristo, a irmã do duque, Emma, de 15 anos, calçou em silêncio suas botas pesadas por cima das meias compridas de lã grossa e torceu para não acordar a irmã – em vão. – O que você está fazendo? A voz de Mathilde, áspera e num tom de reprovação de irmã mais velha, veio do ninho espesso de cobertas da cama. Emma continuou a puxar a bota. – Vou às estrebarias, lá embaixo – disse ela. Lançou um olhar de esguelha para a irmã, tentando avaliar seu humor. O cabelo castanho e fino de Mathilde estava preso numa trança apertada que conferia a ela um semblante repuxado, contraído, e intensificava a expressão carrancuda que ela dirigia à caçula. – Não pode sair com essa tempestade – ralhou Mathilde. – Vai ficar doente. Ia continuar a falar, mas foi sacudida por um repentino e violento ataque de tosse. Emma aproximou-se dela, pegou na mesa ao lado da cama a taça de vinho misturado com água e deu à irmã para beber. – Parou de nevar – disse, enquanto Mathilde dava um gole. – Vou ficar bem. Além disso, ao contrário dela, Emma raramente ficava doente, refletiu. Pobre Mathilde. Era uma falta de sorte ela ser a única filha miúda, morena e propensa a doenças. Todos os outros filhos de sua mãe – oito no total – eram gigantes louros e vigorosos. Quando Mathilde acabou de beber, Emma apanhou um xale que estava ao pé da cama e jogou-o por cima de sua cabeleira abundante, lustrosa. – Vai ver aquele seu cavalo detestável, imagino. – A voz de Mathilde soou quase como um grunhido gutural. – Não vejo por quê.

Sabe Deus que todas aquelas criaturas são tão bem cuidadas quanto crianças. É maldade sua me deixar aqui sozinha. Emma, que amava a vida ao ar livre, adorava cavalos, cães e caçadas, e era mais feliz quando cavalgava pela costa normanda sob as altas falésias brancas do que em qualquer outra ocasião, achou melhor não tentar explicar o motivo de sua saída à irmã, que detestava todas aquelas coisas. Emma sentia pena por Mathilde estar doente e entediada, mas enlouqueceria se não pudesse respirar umpouco de ar fresco e ficar sozinha por algum tempo. As duas estavam trancadas juntas dentro de casa havia três dias. Pegou uma pesada capa preta forrada de pele de seu gancho na parede e atirou-a sobre os ombros. – Não vou demorar – falou. Mathilde, no entanto, tinha pensado em outra objeção: – E se aqueles marinheiros voltarem quando você estiver lá embaixo? Não pode ter certeza de que os brutos dinamarqueses não vão molestá-la se a encontrarem sozinha e desprotegida. Emma prendeu o manto sob o queixo, pensando sobre o aviso. O rei dinamarquês, Swein Forkbeard, tinha solicitado ao irmão dela abrigo de inverno para os navios na costa norte da Normandia, e o duque Richard, não querendo ofender o feroz rei guerreiro, concedeu-o. Para grande irritação de Richard, porém, o próprio navio de Forkbeard e cerca de outros dez haviam fundeado no porto de Fécamp fazia dois dias, obrigando seu irmão a convidar o rei para se juntar à sua família no palácio. Forkbeard aceitara a oferta sem pestanejar e instalara-se no grande salão de Richard com vários de seus companheiros – guerreiros rudes, de rostos brutos, apenas minimamente civilizados apesar do ouro que ostentavam nos pulsos e braços. Mathilde, acometida pela febre, não saíra da cama. A mulher de Richard, Judith, que dera à luz poucas semanas antes, fizera o mesmo. Sendo assim, tinha sido a mãe de Emma, a duquesa viúva Gunnora, acompanhada apenas da filha mais nova, que oferecera ao rei a taça de boas-vindas quando ele entrou no castelo. A duquesa, apesar de ter orgulho de sua ascendência dinamarquesa e de seus laços de sangue com o trono daquele país, não alimentava ilusões a respeito de Swein Forkbeard. Apresentou-lhe Emma formalmente, depois a mandou se recolher a seus aposentos particulares junto com todas as outras moças. Emma não lamentou ter que se retirar. Forkbeard a cumprimentou com olhos frios, ferozes e calculistas, e um aceno silencioso da cabeça. Seu olhar melancólico pareceu avaliá-la como se fosse não uma mulher, mas uma mercadoria passível de compra e venda – uma bugiganga que se pudesse adquirir no mercado em Rouen. Ela enrubesceu sob aquele olhar fixo e repulsivo, e teve vontade de sair correndo dali. Mas obrigou-se a deixar o salão lentamente, o queixo erguido, consciente de todos aqueles homens do mar ao seu redor, que a esquadrinhavam com olhos impiedosos. Eram sujeitos que ganhavam a vida com assassinatos e estupros, homens que tinham sido batizados em Cristo mas cujas almas ainda pertenciam a deuses pagãos, segundo o que ela tinha ouvido falar. Seus rostos sombrios, marcados pelas intempéries, haviam assombrado os sonhos de Emma naquela noite, e, como seus irmãos, ela desejou que Forkbeard e seus marinheiros nunca tivessem aportado em Fécamp. Naquele dia, porém, os dinamarqueses não estavam no palácio.

– Os marinheiros foram ao porto para avaliar os danos causados pela tempestade nos navios. É provável que não retornem antes do anoitecer. Vou estar de volta muito antes disso, e prometo que lhe faço companhia até a hora de apagarmos as velas. Com isso, saiu do quarto antes que Mathilde pudesse pensar em outras objeções. O pátio encontrava-se deserto quando ela seguiu para as estrebarias, e o ar estava tão gelado que doía para respirar. Ela acompanhou a muralha, agarrando-se em suas pedras com uma das mãos enquanto pisava com cuidado na lama escorregadia e na neve semiderretida que fora revolvida por homens e cavalos. Ange, a égua de Emma, branca como a neve, relinchou um cumprimento e a dona aninhou o rosto no pescoço do animal, aquecendo a face em sua grossa pelagem de inverno. Um momento depois, porém, escutou no pátio das estrebarias uma comoção que a deixou preocupada. Seria possível que os homens tivessem voltado tão cedo? Nem todos, com certeza. Teriam feito muito mais barulho. Escondendo-se atrás de Ange, Emma olhou para o largo portão e viu Richard e Swein Forkbeard levando suas montarias para as cocheiras. Sempre achou o irmão bastante alto, mas o rei dinamarquês o ultrapassava por meia cabeça. Eles tinham a mesma idade – ambos muito velhos, emsua opinião, pois Richard tinha nascido mais de vinte anos antes de Emma. O rei dos dinamarqueses, entretanto, com seus cabelos brancos e a comprida barba branca, que usava bifurcada e trançada, parecia muito mais velho. Havia uma severidade em Swein Forkbeard, uma crueldade no olhar duro que a assustava. Ele também intimidava Richard, ela não tinha dúvidas, embora ele disfarçasse isso sob uma capa de cortesia. Ela não queria ter que cumprimentar o rei dinamarquês de novo, nem enfrentar a ira do irmão por encontrá-la ali, então se ocultou por trás de Ange para esperar que fossem embora. Não pareciam estar com pressa, apesar do frio. Richard, num dinamarquês hesitante, falava sobre o pedigree do cavalo do rei e dava o melhor de si para explicar o que tinha em vista ao criar aquela raça de cavalos. Emma sorriu ao ver os esforços desajeitados do irmão para falar a língua de Swein. Como todos os filhos da duquesa Gunnora, ele havia aprendido dinamarquês no colo da mãe. E, como a maioria de seus irmãos, abandonara a prática da língua ainda muito novo. Emma fora a única a adotála, e falava dinamarquês com tanta fluência quanto o frâncico, o bretão ou o latim. Chegou a aprender até um pouco do inglês falado pelos prelados que algumas vezes visitavam seu irmão, vindos do outro lado do mar Estreito. Nem Richard nem seu irmão Robert, o arcebispo, tinham conhecimento desse dom de Emma para os idiomas, como sua mãe o chamava.

Gunnora aconselhara a filha a manter em segredo sua notável habilidade. Use-a para escutar, dissera, em vez de falar. Vai ficar surpresa com o que acabará descobrindo.

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