Tinha acabado de chegar ao aeroporto John F. Kennedy, e no momento em que apresentava o bilhete para Chicago à verificação, o funcionário que se encontrava ao balcão das instalações da companhia de aviação entregou-lhe um recado urgente. Telefone para o seu escritório. Importante. Receando o pior, com o coração batendo em ritmo acelerado correu para a cabine mais próxima e marcou apressadamente o número do seu escritório em Manhattan. Ouviu a voz da sua telefonista. – Steven Randall e Companhia. Serviço de relações públicas. – Daqui fala Randall – disse impacientemente. – Ligue o telefone para a Wanda. Momentos depois a ligação foi feita e entrou em contato com a sua secretária. – Wanda, que se passa? É a respeito do meu pai? – Não… não… desculpe, era meu dever ser mais explícita… perdoe-me a negligência. Não, não há más notícias sobre a sua família. Trata-se de outra coisa, assunto de negócios… pensei que talvez fosse melhor avisá-lo antes de levantar vôo. A chamada chegou logo depois do senhor ter partido para o aeroporto. E… soou-me a coisa importante. Randall sentiu-se, imediatamente, aliviado e aborrecido. -Wanda, que mais pode haver de mais importante depois de tudo porque hoje passei? Não me sinto com disposição para negócios… – Patrão, não me dê uma descompostura. Apenas pensei que… – Está bem, as minhas desculpas. Mas, despache-se, ou acabarei por perder o maldito avião. Vamos, desembuche. De que trata esse negócio tão importante? – Possivelmente será uma nova conta. Foi o cliente em pessoa que telefonou. Quando lhe expliquei que o patrão tinha que sair da cidade devido a um caso urgente respondeu-me que compreendia, mas insistiu na necessidade de vê-lo logo que estivesse livre e dentro das próximas quarenta e oito horas. – Bem, sabe perfeitamente que é impossível.
Quem era? – Já ouviu falar de George L. Wheeler, presidente da Editora Missão? Ao ouvir o nome reconheceu-o imediatamente. -O editor de obras religiosas? -Esse mesmo. O maior deles. O Verdadeiro Medalhão do mercado. Palavra de honra que não queria incomodar numa altura destas, mas, o assunto pareceu-me tão invulgar, tão misterioso… e, tal como já lhe disse, o homem insistiu tratar-se de algo muito importante. Fartou-se de me recomendar que tentasse colocá-lo em contato consigo. Respondi-lhe que era impossível prometer, fosse lá o que fosse, a não ser que tentaria encontrá-lo para lhe transmitir a mensagem dele. – Que mensagem? Afinal, o que é que esse Wheeler deseja? – Palavra de honra, patrão, tentei descobrir exatamente de que se trata, mas não consegui. O tipo mostrou-se muito reservado, para além de insinuar ser um assunto ultra-secreto de natureza internacionalmente importante. Finalmente, acabou explicando que se tratava do patrão representar um projeto altamente confidencial que engloba a publicação de uma nova Bíblia. – Uma nova Bíblia? – explodiu Randall. – Então é esse o grande e importante negócio? Temos já um bilhão de Bíblias. Que raio poderemos fazer com mais uma? Nunca ouvi semelhante absurdo. Eu feito palerma, servir de instrumento pra uma Bíblia? Não pense mais no assunto. – Foi o que eu achei também. Não pensaria mais no caso, patrão, mas, não posso, devido a mensagem do senhor Wheeler… a mensagem que ele insistiu para lhe transmitir. Uma mensagem tão estranha, tão extravagante… Disse-me: «Se o Sr Randall for um indivíduo à maneira de S. Tomé, ver para crer, e quiser saber mais coisas a respeito do nosso projeto secreto, diga-lhe para abrir o Novo Testamento no Evangelho de S. Mateus 28:7. Isso dar-lhe-á uma pista a respeito daquilo que é o nosso projeto». Completamente desesperado, Randall quase bramiu: -Wanda, não tenho a mais leve intenção de ler essa passagem, nem agora nem nunca. De modo que telefone para o tipo e… – Patrão, não se excite, eu já a li! – interrompeu Wanda. Essa passagem de S. Mateus reza assim: «Ide, pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos.
E eis que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis … » Trata-se da passagem a respeito da Ressurreição de Cristo. Foi isso que mais me intrigou… que me despertou a curiosidade e me fez tomar a decisão de encontrá-lo no aeroporto antes de partir. O que faz com que o caso seja duplamente estranho foi a última coisa que Wheeler me disse antes de desligar. Escrevi o recado. Cá está ele. Reza assim: «E depois do Sr. Randall ler a passagem do Evangelho de S. Mateus, diga-lhe que pretendemos que se encarregue da Segunda Ressurreição». É tudo. Era um enigma e soava a mistério e fantasmagórico ao ouvido, num dia como aquele, considerando o que havia acontecido e aquilo que ainda tinha enfrentadas. A irritação amainou, e começou pensando no que quereria o tal Wheeler. -Quer então que eu me encarregue de tratar da Segunda Ressurreição? Mas, de que raio é que se trata? Será o homem um desses maníacos religiosos? – Pareceu-me bastante sóbrio e sério – respondeu Wanda. E pelo que disse fez com que o projeto soasse como… uma coisa destinada a abalar o mundo. A memória de Randall voltou-se para o passado. Como tudo aquilo lhe era familiar! O túmulo estava vazio. O Senhor ressuscitara. Erguera-se. Aparecera. A Ressurreição. Memorizando, foi a época mais significativa e mais segura da sua vida. Todavia, levara anos a libertar-se daquele fetichismo decrépito e estropiado. Através da porta entreaberta da cabine chegou-lhe aos ouvidos a chamada que faziam pelos altofalantes. -Wanda, estão anunciando a última chamada para o meu vôo. Tenho que me apressar. – Que digo ao Wheeler? – Diga-lhe… diga-lhe que, por enquanto, ainda não foi capaz de me encontrar.
-Nada mais? – Nada mais, até que consiga saber o que me aguarda em Chicago e Oak City. -Espero que tudo corra bem patrão. -Veremos, telefono-lhe amanhã. Desligou, e ainda intrigado e vagamente inquieto pelo telefonema de Wanda, apertou o passo a caminho do avião. Voavam há mais de duas horas. Randall há muito que afastara do pensamento o tal Sr. Wheeler, a sua nova Bíblia e a sua enigmática Segunda Ressurreição. -Estamos prestes a aterrissar – lembrou-lhe a aeromoça a bordo.-Façam o favor de apertar o cinto de segurança, Sr…. Sr. Randall. Ela hesitara ao pronunciar o nome, como tentando recordar se já o teria ouvido antes e se ele seria «Alguém». A moça era uma daquelas belezas texanas de abundantes seios e com um sorriso estereotipado. Randall pensou que sem o uniforme talvez fosse engraçada, a não ser que pertencesse ao número daquelas moças que, após dois copos, começam dizendo que não estão habituadas a sair com homens casados e que andam às voltas com um livro de Dostoiewski. Pensou consigo mesmo, provavelmente, seria uma outra Darlene. Mas não, quando a encontrara pela primeira vez havia umano e meio, Darlene lia Kahlil Gibran e, que ele soubesse, desde então, não voltara lendo mais nada. Sentiu-se tentado dizendo à aeromoça que era «Alguém», embora tivesse a certeza de que não devia ser a espécie de «Alguém» que ela pretenderia. Além disso, não interessava, naquela noite não, especialmente naquela noite. Fez-lhe um sinal de assentimento com a cabeça e principiou, obedientemente, a apertar o cinto de segurança. Não, não era considerado um «Alguém», refletiu, exceto por certas pessoas que desejassem tornar-se celebridades ou continuarem celebridades e por pessoas poderosas que tinham um produto ou até umpaís necessitando de promoção. O seu nome, Steven R. Randall, raramente, aparecia em letra impressa, ou era mencionado na televisão, a sua fotografia jamais aparecera em parte alguma. O público lá fora via somente o que ele queria que visse, enquanto ele permanecia na sombra, invisível. E não se importava – mesmo em relação à aeromoças – porque era importante onde devia sê-lo, onde a importância na verdade contava, e as pessoas interessadas sabiam que ele era importante. Nessa manhã, por exemplo.
Encontrara-se finalmente, cara a cara, com Ogden Towery III, daquelas pessoas que interessavam e que sabia que Steve Randall era importante, com uma importância que pesava um par de milhões de dólares. Chegaram, finalmente, a um acordo,sobre à absorção da Companhia Randall, Relações Públicas, pelo monopólio internacional Towery, Empresas Cosmos. Haviam discutido em pé de igualdade em todos… bem, em quase todos os pontos relativos aos negócios menos em um. Esse compromisso -Randall tentava minimizar a sua capitulação chamando-lhe compromisso -ainda o deixava inquieto, mesmo envergonhado. Em todo o caso, a reunião dessa manhã fora uma antecipação do que prometia ser um dos dias mais infelizes da sua vida. Sentia-se infeliz porque, personagem importante como se julgava, experimentava uma sensação de desamparo a respeito da sua vida e acerca daquilo que o esperava no fim da viagem. Para acabar com a introspecção, resolveu dar atenção ao que se passava dentro do avião. A aeromoça, sem cinta, belo traseiro, regressava à parte dianteira da cabine, distribuindo cordialidade a todos os outros corpos também apertados nos cintos de segurança. Pensou nas outros pessoas a bordo. Pareciam moderadamente felizes, e, pôs-se a imaginar se seriam capazes de ver que ele se sentia infeliz. Imediatamente se sentiu grato pelo seu anonimato dado não ter disposição para falar com ninguém. Na verdade, nem vontade tinha para o encontro com Clare, a sua irmã mais nova, que o esperava no Aeroporto O’Hare, com lágrimas nos olhos e pronta a conduzi-lo de carro de Chicago até ao Wisconsin e a Oak City. Sentiu o avião inclinar-se e começar baixar. Compreendeu que o grande jato estava quase chegando ao seu destino, a «casa». Sim, a casa, literalmente. Regressava à casa por algum tempo, não aparecia ocasionalmente ou estava de passagem; regressava à casa depois de estar ausente – por quanto tempo? – dois anos, dois ou três anos desde a sua última visita. O fim do curto, mas, ao mesmo tempo, longo vôo desde Nova York. O princípio do fim do passado. Tornava-se duro regressar à casa. Esperava que a sua estadia fosse breve e misericordiosa. A aeromoça detivera-se no corredor, a seu lado, dizendo: -Estamos a aterrissar, -Parecia aliviada, mais humana, menos plástica, uma terráquea com pensamentos terrestres. -Desculpe, mas, estou imaginando que o seu nome me é familiar. Não o terei visto nos jornais? Afinal, uma colecionadora de «alguéns», pensou. – Lamento desapontá-la, mas a última vez que o meu nome figurou nos jornais deve ser na coluna dedicada aos nascimentos. A aeromoça sorriu embaraçada.
– Bom, Sr. Randall, espero que tenha feito uma viagem agradável. – Formidável. Sim, formidável. A oitenta quilômetros dali o pai jazia em estado de coma. E, pela primeira vez desde que alcançara o êxito (mas, certamente, que o caso já lhe ocorrera antes, em anos recentes), Randall compreendeu que o dinheiro não o podia livrar de todas as preocupações, nem solucionar todos os problemas, tanto como, não podia salvar o seu casamento, ou fazer com que dormisse às três da madrugada. Ao mesmo tempo que se apoderava do dinheiro do filho, seu pai costumava dizer: «Meu filho, o dinheiro não é tudo». E acrescentava: «Deus é tudo». E permanecia de olhos voltados para Deus, dando a Deus o seu amor. Seu pai, o Reverendo Nathan Randall, estava a serviço de Deus. Recebia ordens da Grande Organização celeste. Não era justo, não era justo. Randall espreitou pela janela do avião, com os vidros polvilhados de gotas de chuva, e deu uma olhada pela paisagem e pelos edifícios que os holofotes do aeroporto surpreendiam da maneira mais alucinada. Muito bem pai, pensou, o dinheiro não te pode tirar nem a ti nem à mãe desta enrascada. Portanto, o assunto é agora estritamente entre ti e o teu Criador. Mas, coloca-te em meu lugar, pai: quando falas com Ele estás convencido que Ele te escuta? Compreendeu que sempre esse desabafo não era justo, que não havia justiça nesse tardio azedume de criança, nessa recordação de um contínuo insucesso na rivalidade entre si e o Todo-Poderoso, relativamente, ao amor do Pai. E sempre foi uma coisa Sem Discussão. Surpreendia-o, nesse momento, que essa espécie de ciúme ainda o afetasse. Tornava-se blasfemo – evocava a velha palavra antiquada, irascível, lançada do alto do púlpito – numa noite de crise. Portanto, esse sentimento estava errado, também ele se encontrava em erro. Na verdade passara belos tempos ao lado do pai. Bruscamente, conseguiu lembrar-se com mais fidelidade do pobre velhote – aquele velhote um pouco tolo, sem prática do mundo, carinhoso, maravilhoso, honesto, dogmático, mal orientado, paciente, o seu velhote – e, de repente, amou-o mais do que o amara emtodos aqueles anos. Apeteceu-lhe chorar. Parecia impossível. Ali estava ele – o grande homem dos grandes momentos e da grande cidade, com um terno feito sob encomenda, sapatos italianos, unhas arranjadas pela manicure, cartões de crédito, «cocktails», mulheres, carros de luxo, boas mesas – um fazedor de imagens sofisticado, mundano, tarimbado, endurecido e com vontade de chorar como aquele antigo garotinho de Oak City.
A voz da aeromoça anunciava: -Chegamos a Chicago. Façam o favor de verificar os vossos objetos pessoais. O desembarque far-seá pela porta da frente do avião. Randall assoou o nariz, agarrou a pasta de couro, levantou-se vacilante e colocou-se na fila que ia avançando para a saída -aquela saída que o levaria a casa e a tudo o que esperava além. Foi só depois do aeroporto O’Hare ter ficado para trás, há cerca de quarenta e cinco minutos e quando um sinal luminoso na estrada indicou que estavam entrando no estado de Wisconsin, que Clare, finalmente, acabou com os seus soluços e com o vão balbuciar de seus lamentos para mergulhar num agradável silêncio agarrada ao volante do carro. No terminal do aeroporto, Clare atirara-se-lhe para os braços semi-desmaiada, chorando e gemendo como uma Madalena. Nenhuma Electra dos tempos modernos manifestaria melhor a sua dor pública. Quase com rudeza, Randall ordenara-lhe que se dominasse o suficiente para lhe conseguir dizer emque estado estava o pai. Soube apenas – Clare evitava os termos médicos, sempre o fizera, como sendo ameaçadores – que se encontrava mal e que o Dr. Oppenheimer não fizera quaisquer previsões Sim, havia uma tenda de oxigênio, e claro, o pai estava inconsciente lá dentro, e, oh, meu Deus o pai tinha um aspecto como nunca tivera. Depois daquela cena, dentro do carro e agarrada ao volante, por entre fungadelas, Clare continuava a pautar, incessantemente, a sua verborréia incessante. Como ela amava o pai, e a mãe, e o que iria ser dela, da mãe e do tio Hermann e de toda a família? Tinham estado no hospital o dia todo, desde que a doença se declarara ao princípio da madrugada. Ainda estava toda a gente no hospital, à espera dele, Steve. Estava lá a mãe, o tio Hermann – irmão da mãe -e o melhor amigo do pai, Ed Periot Johnson e o Reverendo Tom Carey, todos lá, todos à espera de Steve. A espera dele, pensou Randall, o êxito da família, o êxito de Nova York que realizava milagres com o talão de cheques, ou por intermédio dos seus conhecimentos. Teve vontade de perguntar a Clare se alguém esperava d’Aquele, Aquele que era tudo para o pai, a Quem o pai tudo dera, de quem dependera, no Qual fizera todos os seus investimentos pensando no dia do Juízo Final, o Criador, Jeová, o Pai do Céu. Teve vontade de perguntar, mas conseguiu dominar-se. -Julgo que já te contei tudo o que sei – dizia Clare. Logo a seguir, a irmã, com os olhos postos na estrada molhada e escorregadia, de dedos crispados no volante, disse: -Não demora muito. Estamos quase chegando – acabando por mergulhar no silêncio. Deixando a irmã a confabular com os seus íntimos demônios de culpa privada, Steve Randall recostou-se bem no assento e fechou os olhos, bendizendo aquele interlúdio para poder estar sozinho. Continuava sentindo dentro de si a carga emotiva que o acompanhara durante todo o dia, mas, nesse momento podia analisá-la, e o mais curioso era que a dor pelo pai ocupava a menor parte da sua infelicidade. Tentou procurar a razão da sua reação tão pouco filial e acabou por decidir que o sofrimento era a mais intensa das emoções e, por isso mesmo, a de menor duração. A extraordinária intensidade da dor torna-a tão auto destruidora, que o instinto de sobrevivência de uma pessoa é obrigado a erguer-se e a lançar um manto sobre o sofrimento, furtando-o da mente e do coração. Ele Steve, lançara esse véu resistente sobre a sua aflição e deixara de consagrar ao pai os seus pensamentos.
Naquele momento pensava em si próprio-como sua irmã o consideraria umherético se soubesse! -e imaginava em todos os seus recentes infortúnios. Não podia dizer exatamente, o dia em que começara a perder o interesse no seu próspero negócio de relações públicas em plena ascensão, mas, teria acontecido há um ou dois anos. Essa perda de interesse iniciara-se pouco antes, ou pouco depois, de ter discutido pela última vez com a mulher, Bárbara, quando decidiram separar-se e ela partira para S. Francisco onde tinha amigos, levando consigo Judy, a filha do casal. Tentou situar no tempo o momento em que o fato ocorrera. Judy acabara de completar treze anos. Tinha agora quinze, por conseguinte, fora há dois anos. Bárbara falara firme de divórcio, mas sem que tivesse depois agido de acordo com tal idéia, de modo que tudo se situava numa mera separação. Randall não se importava com tal estado transitório, dado não conceber a concretização do divórcio. Não porque tivesse receio de perder a mulher, as relações entre ambos estavam para sempre condenadas, mas, porque se preocupava com Bárbara na medida em que era o seu ego que estava emcausa e lhe era merecedor dos maiores cuidados. Não pretendia um divórcio porque isso significaria admitir um fracasso. Todavia, mais importante ainda do que um malogro, significaria um afastamento radical em relação a sua filha Judy. Ora, muito embora Randall não visse a filha com muita freqüência, nem lhe tivesse dedicado grande parte do seu tempo, o fato é que a filha era uma pessoa humana e a representação de uma idéia, um prolongamento de si próprio, que ele valorizava e acarinhava. A carreira profissional a qual dedicara tanta energia e devoção, acabara finalmente por se tornar aborrecida e monótona, tão aborrecida e monótona como o seu casamento. Cada dia que passava nada mais era do que uma cópia do dia anterior. Uma pessoa entrava na sala de recepção, decorada com requinte, onde a jovem recepcionista, marcadamente sexual e vestida a primor, encontrava-se, permanentemente, bebendo café com duas outras moças, ao mesmo tempo que conversavam frívolas sobre jóias. Deparava-se com jovens e brilhantes agentes de publicidade sobraçando da mesma maneira as suas pastas, com gabardines dobradas nos braços da mesma forma, dirigindo-se para os serviços onde se refastelavam como toupeiras nas suas macias tocas. Organizavam-se reuniões de trabalho nos modernos e luxuosos gabinetes desses jovens promotores, onde se deparava comescrivaninhas superabundantes de fotografias das mulheres e filhos, deixando antever que tudo aquilo não passava de um embuste e que provavelmente atraiçoavam todos os princípios de família. Passara o tempo da excitação em conseguir novos clientes, novas contas. No seu trabalho lidara comtoda a espécie de pessoas – a cantora negra em ascensão, o último grupo «rock», a caprichosa atriz inglesa, os mais rápidos carros de desporto, o detergente miraculoso, o país africano recémindependente que necessitava de uma indústria de turismo. O lançamento de personalidades de renome, ou de produtos comprometedores, deixara de ser emocionante. Perdera o estímulo criador e a motivação do dinheiro. Tudo o que fizesse, já tinha feito antes. Tudo quanto lucrava o tornava mais rico, mas não suficientemente rico. Randall sabia que estava afastado da irremediável prisão da classe média, mas, essa condenação a prisão perpétua parecia-lhe quase tão vazia como desumana.
Todos os dias acabavam para ele tal como haviam começado, com despeito e ódio por aquela existência de enfadonha, de círculo vicioso. Inevitavelmente, o seu desgosto privado por uma vida sem perspectivas, sem mulher, sem a sua Judy não só continuou, como ainda se intensificou. Havia mais mulheres a quem possuir sem a mínima parcela de amor, mais bebidas alcoólicas, mais noites de insônia, mais restaurantes, bares, clubes noturnos a freqüentar, mas, todos com a visão dos mesmos clientes habituais, dos mesmos rostos de homens e dos mesmos corpos de mulheres. Recentemente, principiara a refugiar-se cada vez com mais insistência num velho sonho, umdevaneio, um objetivo pelo qual tanto lutara outrora, mas, de que foi desviado. Desejava um refúgio, um lugar com verdes arvoredos, com apenas água pura para beber e sem oficina onde se pudesse reparar o relógio, um local idílico onde o New York Times chegasse com um atraso de duas semanas e onde tivesse que fazer uma longa caminhada a pé até à aldeia mais próxima para fazer umtelefonema ou encontrar uma moça com quem pudesse dormir e com quem desejasse tomar o café na manhã seguinte. Pretendia escrever não publicidade exagerada e palavrosa, mas, verdadeiros livros eruditos numa máquina de escrever portátil sem pensar em dinheiro como necessidade imediata, aprendendo a razão porque se torna tão importante continuar na Terra. No entanto, era-lhe impossível encontrar a ponte que o levasse à concretização desse sonho. Dizia pra você próprio que não tinha possibilidades de mudar de vida por não possuir economias que o permitissem. De maneira que tentava arranjar esse dinheiro redentor e manter-se em linha com os seus anseios. Durante semanas engajava-se, compulsivamente, num método de vida saudável. Nada de bebidas, de comprimidos, de tabaco, nada de deitar-se horas tardias. Afadigava-se a praticar handball à beça. Tinha trinta e oito anos de idade, um metro e oitenta, olhos castanhos injetados de sangue, já um pouco empapuçados, nariz reto implantado entre faces avermelhadas, queixo forte pronunciado já revelando os primeiros indícios de papada e uma constituição física cheia de solidez. Nos seus períodos de vida saudável, quando começava sentindo-se com vinte e oito anos em vez de trinta e oito, os olhos castanhos começavam a clarear, as olheiras fundas se atenuavam, a cara redonda e balofa tomava uma feição quadrada, o queixo ganhando definição e tornando visível, o estômago perdendo a adiposidade, e os bíceps quase musculosos, quando isso acontecia, ele perdia todo incentivo para manter esse regime espartano e uma vida limpa e saudável. Dedicava-se a tal jogo de ganha-perde duas vezes por ano – e perdia. Ultimamente tinha desistido de joga-lo. Nessas esporádicas tentativas para regularizar a sua existência, tentara também limitar-se a ter uma só mulher. Uma ligação de caráter permanente. Fora desse modo, recordou, que Darlene Nicholson e o Kahlil Gibran havia penetrado na sua vida no mesmo momento em que Darlene entrara no seu apartamento em Manhattan. Tornava-se-lhe, particularmente, difícil agüentar-se durante horas de trabalho, que lhe preenchiam a maior parte do tempo. Wanda Smith, sua secretária particular, uma moça negra, alta e empenhada, com uma natureza enérgica, mas, espontaneidade contida e busto bem desenvolvido, preocupava-se muito com as suas crises. Joe Hawkins, seu protegido e associado, preocupava-se com ele, Randall. Thad Crawford, seu advogado grisalho e de falinhas mansas, preocupava-se com ele. Reafirmavalhes a todo o instante que não rebentaria, e trabalhava com regularidade todos os dias a fim de o provar. Todavia, o trabalho que fazia era duro e melancólico.
Porém, de vez em quando, embora com raridade, surgia um poço de luz na sua existência sombria. Um mês antes, por intermédio de Thad Crawford, travara conhecimento com um recém-formado emdireito que não exercia advocacia, entretanto, enveredara por uma profissão na verdade inédita no seio de uma democracia de caráter competitivo: profissão que constituía uma verdadeira ciência social e que se denominava Honestidade. Esse homem, no último estádio dos vinte anos, possuidor de uns olhos ardentes como carbúnculos e um fantástico bigode a cair-lhe para as comissuras dos lábios como o de uma foca, era Jim McLoughlin. Jim fundara uma coisa chamada Instituto de Pesquisas Raker [Raker esquadrinhador de velhas coisas; investigador; pessoa que procede a limpezas com um utensílio especial (N. do T.)]; em Nova York, Washington, Chicago e Los Angeles. A organização não dava dividendos, e o pessoal era constituído por jovens colegas advogados, por assistentes formados em comércio, antigos professores, jornalistas rebeldes, investigadores profissionais e filhos pródigos fugidos à opulenta comunidade empresarial americana. Operando calmamente durante alguns anos, o Instituto Raker de Jim McLoughlin procedera a investigações, como um primeiro projeto a que se sucederiam muitos outros, a uma conspiração inconfessável e oculta da alta finança americana, através das suas indústrias e companhias, conspiração lançada contra o bem comum e contra o público consumidor em geral. Durante o primeiro encontro, McLoughlin dissera a Randall: -As coisas chegaram a este ponto: durante décadas, os nossos dirigentes em empresas privadas, monopolistas virtuais, têm suprimido novas idéias, invenções, produtos que teriam baixado o custo de vida para o consumidor. Essas idéias e novas invenções morreram ao nascer, ou foram abafadas pelos grandes negociantes, dado que se chegassem ao conhecimento do público liquidariam os fabulosos lucros das empresas particulares sustentadas pela alta finança. Em todos estes meses efetuamos um incrível trabalho de detetive. Sabia que houve alguém que inventou uma pastilha capaz de produzir gasolina de alta qualidade para os veículos carros? Randall respondera que há muito tempo vinha ouvindo boatos sobre o caso, mas que sempre considerara tais descobertas como pura fantasia. McLoughlin, prosseguiu com decisão: – Os homens de dinheiro sempre se esforçaram por levá-lo pensando que essas descobertas não passavam de puras fantasias, como você disse. Mas, pode acreditar no que digo: tais maravilhas existiram e continuam existindo. Um dos mais notórios exemplos é a pastilha concentrada de gasolina. Um químico genial, completamente desconhecido, surgiu com uma fórmula de gasolina sintética e conseguiu reduzir os compostos químicos integrantes até ao tamanho de um pequeno comprimido. Você nada mais tinha fazendo do que encher o tanque de gasolina com vulgar água da torneira, jogar a pastilha dentro e obtinha setenta ou oitenta litros de combustível, que não eramfatores de poluição e que, provavelmente, lhe custariam para aí uns dois cents. Julga então, que as grandes companhias iriam consentir que o invento fosse lançado no mercado? Jamais em dias da sua vida – muito menos durante a vida deles -, porque isso significaria o fim da multimilionária indústria petrolífera. Todavia, trata-se apenas de um caso. E quanto ao chamado fósforo perpétuo? Haveria na verdade um fósforo que lhe podia proporcionar quinze mil chamas? Pode apostar que sim e pode também apostar sem receio de perder, que foi prontamente suprimido pelos grandes monopólios. Porém, depois descobrimos mais, imensamente mais. Randall sentira-se positivamente intrigado e interessado no caso. – Que mais? – perguntara. – Tivemos conhecimento de um têxtil, isto é, de um tecido impossível de se gastar. De uma lâmina de barbear para a vida inteira sem sequer necessitar ser afiada.
Vários exemplos de pneus capazes de percorrerem cerca de quinhentos mil quilômetros, sem nada perderem das suas qualidades e semfurarem. Uma lâmpada elétrica especial capaz de se manter dez anos sem ter que ser substituída. Você pode calcular o que tais produtos podiam significar para os periclitantes orçamentos familiares? Mas não, a alta finança não iria permitir tal coisa. No decorrer dos anos foramcomprados muitos inventores, reduzidos ao silêncio muitos outros, vitimados por chantagem ou destruídos – em dois casos desapareceram como o fumo e suspeitamos que foram assassinados. É verdade, Sr. Randall, temos tudo muito bem documentado e vamos expor toda a repugnante roupa suja de tais supressões num livro branco – ou se preferir, num livro negro – que terá por título A Conspiração Contra Vós. Randall saboreara o título, repetindo-o e murmurando: – Formidável! McLoughlin prosseguira: – Na altura em que o nosso livro branco for editado, os grandes tubarões dos monopólios, utilizarão todos os meios ao dispor deles, a fim de evitarem que a nossa denúncia chegue ao conhecimento do público. Se isso falhar, tentarão desacreditá-la. Eis o motivo porque o procurei. Pretendo que se ocupe da promoção do Instituto Raker na publicação do seu primeiro livro branco. Desejo que transmita ao público tudo o que descobrimos – através de congressistas interessados no caso, repórteres do rádio e televisão, jornalistas, por meio de monografias impressas e de apadrinhamento de conferências explicativas. Pretendo que inutilize todos os esforços para tentarem reduzir-nos ao silêncio, ou difamarem-nos. Quero que lance a nossa história na publicidade espalhada por todo o país até que se torne tão conhecida como o hino nacional, The Star-Spangled Banner. Certamente, não seremos clientes para o enriquecer, mas esperamos, depois de se inteirar das nossas atividades, que venha a ter a consciência de fazer parte de um significativo núcleo de pessoas que pela primeira vez se revelam na história da América. Tenho fé que venha a juntar-se a nós e que realize o trabalho que proponho. À medida em que ia considerando o projeto, Randall sentia-se voltar à vida. Entrar na luta, realizar o trabalho? E de que maneira estava disposto a fazê-lo? Estava pronto a elaborar pormenores, a iniciar reuniões, logo que Jim McLoughlin e os seus cruzados estivessem preparados? McLoughlin dissera que em breve estariam preparados, talvez, lá para o fim do ano. Juntamente com uma equipe investigadora veterana, Jim estaria ocupado durante alguns meses no estudo relativo ao protótipo, altamente secreto, de um carro movido a vapor, sem poluição do ambiente e a baixo preço que há duas décadas estava suprimido pelos tipos do motor de combustão interna predominantes em Detroit. Além disso, iria proceder à verificações, juntamente, com os seus ajudantes de campo, colaboradores que se encontravam empenhados na avaliação de futuros projetos, que englobavamoutros poderosos extorsivos amparados pela lei, defraudadores do sonho americano, incluindo-se entre esses gangsters autorizados algumas companhias de seguros, monopólios dos telefones, companhias de conservas alimentares, de aparelhagens domésticas e associações de crédito. O jovem e entusiasta McLoughlin dissera-lhe: -Durante algum tempo não espere ouvir falar de mim, nem do meu pessoal. O nosso paradeiro será confidencial. Temos de trabalhar na sombra, disfarçadamente, foi uma coisa que bem cedo aprendi. De outra maneira, os grupos das grandes negociatas, bem como os seus fantoches espalhados pelos diversos departamentos governamentais, não tardariam em colocar seus asseclas no nosso encalço, em movimentos de antecipação e para contrariarem o nosso trabalho. Houve um tempo em que julguei impossível uma tal política a nível estadual num governo do povo, pelo povo e para o povo. Pensava que falar de coisas assim não passava na verdade de paranóia juvenil, de um absurdo melodramático.
Mas não. Logo que o lucro desmedido se torna sinônimo de patriotismo, qualquer meio se afigura justificado para a sua preservação. Em nome do público, o público que vá para o inferno! De modo que para protegermos o público, para expormos à luz do dia as mentiras e fraudes, temos que agir como guerrilheiros. Pelo menos por enquanto. Uma vez que, por seu intermédio, possamos sair em campo aberto, passarão então, a prevalecer as práticas honestas e o bem público; conseguiremos apoio e segurança em doses maciças. Manter-me-ei em contato consigo, Sr. Randall, ou pelos menos tentarei. Seja como for, peço-lhe que esteja preparado para irmos para a frente, com a sua ajuda, num prazo de seis ou sete meses, talvez em Novembro ou Dezembro e será esse o prazo definitivo. Randall concordara, sentindo uma genuína excitação. -Está bem, procure-me então dentro de seis ou sete meses. Estarei pronto e à espera para desencadear a ofensiva. Antes de franquear a porta, McLoughlin voltara-se para trás, dizendo: -Passaremos a depender de si, Sr. Randall. Eis que ainda mal começara o período de espera para a grande campanha promotora do Instituto de Pesquisas Raker quando de repente, surgiu uma perspectiva de mudança ainda maior para Randall. As empresas Cosmos, grupo internacional multimilionário sob a presidência de Ogden Towery III, interromperam como um furacão na existência de Randall. Tal como um ímã colossal, as Empresas Cosmos andavam passando pente fino nos Estados Unidos e o mundo, atraindo e aglomerando para a sua esfera de influência pequenos negócios de reconhecido êxito, a fim de engrandecerem o seu programa de diversificação. Procurando bastiões no setor das comunicações públicas, o grupo Towery considerara Randall Associates como uma promissora empresa de relações públicas. Conversações preliminares a nível de advogados foram iniciadas. Rapidamente se fizeram sentir progressos. E, antes da papelada legal ser assinada, só faltava um encontro entre o próprio Towery e Randall. Ora fora precisamente nessa manhã, bem cedo, que Ogden Towery III surgira na Companhia Randall. Depois de ter examinado as premissas do negócio com os seus assistentes, acabara por se encerrar, numa reunião a sós, no escritório de Randall, apresentável na sua mobília estilo HeppIewhite do século XVIII. O vago e distante Towery, uma lenda nos círculos financeiros, tinha o aspecto de um próspero rancheiro. Tratava-se de um homem do Oklahoma, que mantinha o seu típico chapéu, ligeiramente modificado, de abas largas colocado nos joelhos enquanto se ajeitava no fofo sofá de couro, falando seco como um homem habituado sendo obedecido e escutado. Randall passara a escutá-lo atentamente, visto que considerava o seu visitante como um verdadeiro anjo salvador.
Por obra e graça daquele bilionário, em poucos anos Randall possuiria a fantasia há tanto sonhada, aquele paraíso, aquela felicidade com verdes arvoredos, sem telefone, com uma máquina de escrever portátil e com segurança para o resto da sua vida. Foi perto do final do monólogo de Towery que ocorrera o único momento desagradável -na verdade terrível. Towery lembrara a Randall que embora as Empresas Cosmos passassem sendo proprietárias da firma, Randall ficaria a tomar conta da companhia por meio de um contrato de direção assinado por cinco anos. Ao expirar o contrato poderia optar por ficar ou demitir-se com dinheiro suficiente de contado e em ações para ser um homem rico e independente. -Isto continuará sendo o seu negócio enquanto estiver conosco – dissera Towery a Randall. – Continuará pois a dirigir isto como o fez até agora. De resto não faria sentido que interferíssemos com um modo de gerência cheio de êxito. A minha política, em tudo aquilo de que me apodero, foi sempre de me manter à parte. A partir daquele momento, Randall deixara de ser um mero assistente a escutar em silêncio. Fora assaltado por uma suspeita. Resolvera pois experimentar o seu anjo libertador, dizendo: – Sr. Towery, aprecio imenso a sua atitude. Se bem compreendi, quis significar que a minha repartição poderá tomar as suas próprias decisões a respeito das operações a realizar e dos clientes a aceitar sem sermos vigiados e orientados pela Cosmos. – Com certeza. Vimos os vossos contratos, a vossa lista de clientes. Se não aprovasse não estaria aqui. -Bem, nem todos os clientes figuram nos fichários que observou, Sr. Towery. Existem alguns novos cujos cadastros ainda não foram formalizados. Tudo o que desejo é saber na verdade se nos vão deixar resolver as coisas como desejarmos, trabalhando como nos apetecer e com quem nos apetecer. – Claro que sim. E porque não? – perguntara Towery, franzindo ligeiramente o cenho. – O que é que o pode levar pensando que nos preocuparíamos com tais coisas? – É que por vezes aceitamos um cliente, tomamos conta de um caso que seria considerado como sujeito a controvérsia. E eu estava pensando… Towery interrompeu-o rapidamente: -Por exemplo, que cliente e que caso? -Há cerca de duas semanas realizei um acordo verbal com Jim McLoughlin para lançar e promover o primeiro relatório do Instituto de Pesquisas Raker. Towery empertigou-se no sofá.
Mesmo sentado era muito alto. O seu rosto pareceu repentinamente moldado em bronze, bronze endurecido. – Jim McLoughlin! – exclamou como se proferisse uma obscenidade. -E o seu… e o Instituto Raker. Towery levantou-se. -Aquela corja de anarquistas comunas -pronunciou rouco. – Esse… esse McLoughlin. Como muito bem sabe assalariado por Moscovita. Bem, talvez não saiba. – Não foi essa a impressão com que fiquei. – Escute-me bem, Randall: Eu sei. Esses radicais, nem o meu mijo merecem. Não merecem um país como este. A partir do momento em que comecem a fomentar complicações garanto-lhe que os correremos daqui para fora. – Olhou de soslaio para Randall, e logo a seguir o rosto abriu-se numsorriso. – Randall, não possui as informações que nós temos e, por isso, é natural que tenha embarcado na coisa. Agora que já conhece os fatos, julgo que não precisa se preocupar com gente dessa laia. Towery fez uma pausa para observar Randall atentamente e percebeu seu conflito devido à perturbada reação, amenizando imediatamente a sua arremetida com modos complacentes. – Não se preocupe. Tudo se passará tal como lhe disse. Nada de interferências nos seus negócios… excetuando quando virmos que alguém tentando subvertê-lo, subvertendo a Cosmos no mesmo processo. De resto estou certo que o problema não voltará a impor-se. – Estendera a enorme, e larga mão. – Combinado, Sr. Randall? Pelo que me diz respeito, o senhor já faz parte da família.
A partir daqui é trabalho para os nossos consultores jurídicos. Dentro de oito semanas estará tudo arranjado e assinado. Bom, e agora vou almoçar. – Piscara o olho maliciosamente. – Parabéns, Randall, o senhor vai ser um homem rico e independente! Assim decorrera a entrevista. E depois, a sós, sentado na cadeira giratória da secretária, Steve Randall compreendeu que não tivera alternativa. Adeus, Jim McLoughlin e Raker. Viva, Ogden Towery e Cosmos. Não tivera nenhuma alternativa. Quando uma pessoa chegava aos trinta e oito anos, sentindo-se como se tivera setenta e oito, pois, deixa de alinhar no jogo da gente honesta se tal implicar pôr em perigo a única oportunidade de ser alguém. E só havia uma maneira de se ser alguém: independência e dinheiro.
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