Ia a meio o mês de dezembro. A família vivia naquela atmosfera de apreensão que caracteriza o fim do ano, em todas as grandes famílias que vivem nas grandes cidades: o resultado do ano letivo dos filhos, os festejos natalinos, o programa das férias para todos. Quanto à primeira e à segunda parte não havia preocupação, nem elas constituíam novidade. A grande surpresa eram as férias. O pai havia comprado uma fazenda, e todos iriam passar o verão lá. O carro da família era um jipe inglês em que o pai já fora à fazenda várias vezes, levando trastes e coisas para a casa, preparando-a para recebê-los em férias. Na viagem que agora programavam só poderia levar as pessoas da casa e os mantimentos de cozinha; não haveria lugar para mais nada. Saíram de Salvador às cinco horas da manhã. Nove pessoas e os mantimentos carregavam o jipe: os pais — Domingos e Mariana; o estudante de engenharia, Alfredo; as três moças — de apelido Pepe, Iaiá e Quito; os dois garotos ginasianos — Ricardo e Maneca e Joana, a cozinheira. Quando o sol despontou no horizonte, já muitos quilômetros de estrada tinham sido percorridos. Chegaram a Paripiranga pouco mais de dez horas da manhã. Era uma sexta-feira, “dia-de-feira” naquela cidade. Aproveitaram para comprar boa carne de boi no mercado, que levariam para o almoço de sábado seguinte, e para fazer uma boa carne-de-sol. Almoçaram aí, em casa de Francisco Carvalho, um parente da família, e à tarde, cerca de duas horas, retomaram a estrada. Paripiranga foi a última cidade do roteiro. Daí em diante, só pequenas povoações encontrariam: Lagoa Branca (antiga Lagoa Preta), Baixão do Carolino e Adustina (antiga Queimadas). Esta última, Adustina, dista apenas vinte e quatro quilômetros da fazenda. Já passava das quatro horas da tarde quando o jipe, deixando atrás de si uma nuvem de poeira amarela, cruzou a povoação de Adustina e entrou no último lance de estrada. Verdadeira estrada de sertão: mais um caminho do que uma rodagem — estreita, cheia de curvas, o mato arranhando a chaparia do jipe de um lado e de outro e batendo na capota de lona, por cima; buracos e “camaleões” de vez em quando, surpresas aqui e ali, que lhes chamavam a atenção, ora pelas freadas repentinas, ora pelos solavancos que os desequilibravam, atirando-os uns contra os outros. Mas tudo era coroado por uma risada geral que bem dizia da satisfação que todos experimentavam. Pelas cinco horas mais ou menos, o jipe penetrou num desfiladeiro, cujo chão era forrado de pedras, umas soltas, outras fincadas na terra, sobre as quais as rodas do carro pulavam ou entre elas passavam com dificuldade. — Que nome tem este lugar, meu pai? — perguntou Pepe, acomodando-se aos balanços do carro. — O nome é bem inspirado, minha filha: chama-se “Treme-Treme”. — Bem merecido — falou Dona Mariana. — Estremece até o coração da gente.
— É a única passagem de estrada para transpor as serras — explicou o Senhor Domingos. — Tem muitas serras aqui, meu pai? — perguntou Maneca. — Serras, propriamente, só há três, meu filho; muito altas, esquisitas, misteriosas… Ricardo e Maneca se entreolharam intencionalmente. Em ambos mexeu a ideia de uma aventura. Saindo do desfiladeiro, alcançaram em poucos minutos a cancela da fazenda. O Senhor Domingos parou o carro, virou-se para a esposa e depois para os filhos e disse: — Aqui começam as terras da fazenda; aqui já é o nosso domínio: fazenda “Gravatá”. Uma explosão de vivas foi a resposta àquelas palavras. Maneca tocou a mão no ombro de Ricardo e apontou as serras, agora bem visíveis. Ricardo atendeu imediatamente, e ficaram ambos a olhar embevecidos. A atitude dos dois chamou a atenção dos circunstantes e Alfredo perguntou: — Que estão vendo? — Admiramos a altura e a beleza das serras — respondeu Ricardo. — Vistas daqui não parecem tão altas e tão belas quanto o são, vistas da casa. Vocês verão… — disse o pai. O carro partiu. Em dez minutos parou, definitivamente, embaixo de uma cobertura que servia de abrigo, uma “casa-aberta”. O Senhor Domingos desceu, ajudou Dona Mariana a descer… Já a meninada tinha pulado em terra e se espalhava por toda parte, num serviço de reconhecimento. Aberta a casa, o casal entrou seguido das moças. Alfredo chamou os irmãos e começaram a tirar do jipe e trazer para dentro de casa tudo que havia no carro. A mãe e Joana se dirigiram para a cozinha. As moças se encarregaram da arrumação dos quartos de dormir, da sala de jantar, de varrer o chão e espanar os móveis. — Domingos — falou Dona Mariana — não há água na pia da cozinha. — Daqui a cinco minutos teremos água em tudo — foi a resposta. E juntando o ato às palavras, chamou os filhos: — Venham cá; todos. Os três o acompanharam. No fim da “casa-aberta”, para os fundos, num quadrado de cimento de cerca de quatro metros de lado, se elevava do chão o tanque de água, cavado a uma profundidade também de quatro metros. — Vamos dar na bomba — disse o pai.
E ele próprio começou. Dali a água era levada para um outro tanque menor, donde se distribuía para a cozinha, o lavatório e o banheiro. Depois que o pai bateu uns dez minutos, Alfredo o substituiu; Ricardo continuou e por fim Maneca. Nesse rodízio o tanque encheu em pouco tempo. Dentro de casa os trabalhos de arrumação já acabaram. E na cozinha o jantar cheirava a gostoso. O cansaço era grande em todos: a viagem de mais de quatrocentos quilômetros, os solavancos do jipe e ainda aqueles trabalhos caseiros, tudo contribuiu para que todos, até os meninos, se sentissem esfalfados. Um banho de água fresca retemperou o ânimo a todos. E o jantar suculento, cujo prato principal foi o “pirão de carne-verde”, recuperou quase por completo as energias. Enquanto se serviam, como se participassem de um banquete, o Senhor Domingos falou: — Depois do jantar, meus filhos, quero ter uma conversa com vocês. — E sobre quê? — quis saber a mãe. — Também você e as meninas hão de participar da conversa. É a festa que teremos aqui, de que já lhe falei. — Que festa? — perguntou Maneca. O pai olhou-o e sorriu. — Uma festa que vocês nunca viram — acrescentou, respondendo. Após o jantar, todos se ergueram. Dirigiram-se para a sala de visitas, de cujo teto pendia um lampião a gás. O pai o acendeu, e todos se sentaram curiosos. Dona Mariana sorria vendo a alegria dos filhos e admirando o prazer que eles tinham de ouvir as palavras do pai. Por fim, o Senhor Domingos sentou-se. — Meus filhos — começou — é verdadeiramente uma festa que lhes anuncio. É uma festa de muitos dias. A melhor festa que se pode ver numa fazenda: a “ferra” do gado. — Que é isto, meu pai? — perguntou impaciente Maneca, ignorando completamente o assunto.
— Quando se compra uma fazenda — explicou o pai — um dos primeiros trabalhos, depois de se passar a escritura, é testemunhar que se é dono do gado. Para isto, pegamos todo o gado e marcamos, cabeça por cabeça, com o nosso próprio “ferro”. — Ainda não entendi — continuou Maneca. — Aqui está o meu “ferro” — disse o pai, levantando-se. Foi lá dentro e trouxe algo na mão: — Olhe aqui. Todos atentaram para o objeto: uma haste de ferro que tinha em um dos extremos duas letras formadas também de ferro. — Esquenta-se isto ao fogo — continuou a explicação – e se encosta na pá do animal. Queima superficialmente; forma uma pequena ferida que, quando sara, tem a forma das letras, que ficamindeléveis. — Chi!… mas deve doer no animal, não, meu pai? perguntou ainda o pequeno. — Dói um pouco, filho, mas os animais têm couro grosso, não sentem muito, não. — E a festa? — indagou Ricardo. — Vocês verão os vaqueiros vestidos em roupas que vocês nunca viram; ouvirão o “aboiado” que é o canto do vaqueiro nordestino; assistirão à luta dos homens com os animais, às corridas de cavalo… — E um dia dá para tanta coisa? — foi a pergunta de Ricardo. — Não. Quando o gado é muito, este trabalho leva muitos dias. O gado que comprei —continuou o pai na explicação — não é tanto, mas assim mesmo creio que levaremos uns três dias na luta da “ferra”. Garanto que vocês todos gostarão de ver como é. — Domingos — ponderou a mãe — os meninos já estão com sono… Ricardo e Maneca já estão quase de olhos fechados… Os dois despertaram; mas o Senhor Domingos concluiu: — É verdade, vamos dormir. Amanhã começará a festa. Recolheram-se todos a seus aposentos. A família despertou cedo. O mugido do gado nas proximidades, o canto animado dos galos e dos pássaros, especialmente o trilo estridente das nambus — foram os despertadores naturais das pessoas, nos primeiros instantes do raiar do dia. A FAZENDA “GRAVATÁ” A vida começou no interior da casa. Os meninos pularam das camas ansiosos de conhecer a fazenda. O pai os esperava para lhes mostrar as coisas mais gerais, mostrar-lhes os pontos principais que dali mesmo, do alpendre da casa, se avistavam. Apontou-lhos um por um: — Ali à direita, meus filhos, é a casa do Aurélio.
É o vaqueiro auxiliar. Lá em frente está a casa de Nicolau, o vaqueiro principal da fazenda. E lá por detrás, vejam que beleza!… Os meninos ergueram a vista deslumbrados… e mais uma vez se entreolharam. O Senhor Domingos convidou os filhos e saíram os quatro ao terreiro. Andaram um pouco, sentindo a brisa fria da manhã a bafejar-lhes o rosto, e recebendo o primeiro calor dos raios do sol que nascia. — Nesta direção — e apontou o nascente — se estende o maior campo da fazenda: são muitos quilômetros daqui ao fim. Para o lado oposto também é grande a extensão, mas um pouco menor. — E aquelas serras, meu pai? — perguntou Ricardo. — Estão dentro da fazenda; são nossas. O limite das terras, para aquele lado, fica além delas. É aqui, meus filhos, que eu quero desenvolver minhas atividades de fazendeiro — criar e plantar. “Quem planta e cria tem alegria”, diz o provérbio. E eu creio na ciência dos provérbios. Meu ideal — continuou — é criar gado de duas espécies: bovino e caprino. Esta terra é acaatingada: é meio sertão. Está dentro da zona chamada “polígono das secas”, isto é, na faixa de terras sujeitas à falta de chuvas. Graças a Deus que aqui temos muito recurso de água, temos água nascente, e baixadas de clima fresco que ameniza o calor da estiagem. É zona boa para criatório de gado vacum e de cabras. Entre a casa principal, donde tinham saído, e a casa de Nicolau, para onde iam andando a passo lento, se estende a “malhada”, uma espécie de terreiro amplo, nem todo limpo de vegetação: para o leste é ele quase todo coberto de vegetação rasteira, em geral cheia de pequeninos espinhos, que mais serram a pele do que furam, produzindo arranhões às vezes dolorosos. Já chegavam à casa do vaqueiro quando este saiu do curral ao lado, levando um caldeirão cheio de leite. — É para os meninos, patrão — disse. E acrescentou: — Amanhã mande eles cedinho pra cá… — Sim, Nicolau. E o caboclo se afastou, levando o leite para a casa do patrão. — Vocês ouviram o que ele disse? — perguntou o Senhor Domingos aos filhos. — Sim, mas não entendemos — respondeu Maneca.
— Você não entendeu — ajuntou Alfredo. — Eu entendi… — Vamos ver então — lançou o pai o desafio — vamos ver quem amanhã se levantará antes do nascer do sol. Levantem-se e venham “tomar leite no peito da vaca”, como se diz. Leite tirado na hora e bebido ainda quente, do calor natural da vaca; é uma delícia! Bom e útil, nutritivo. Eu não perco. Já tomei hoje; mas tive pena de chamar vocês: deveriam estar muito cansados… — Amanhã pode chamar-nos a todos — recomendou Maneca, o menor de todos, falando por si e pelos outros. — Está bem, chamarei — disse sorrindo o Senhor Domingos, acariciando com a mão direita espalmada a cabecinha do filho pequeno. — Meu pai! — gritou Pepe de lá de casa. — Venham! — Sim! — respondeu. E voltando-se para os filhos: — Vamos; é hora do café. Daqui a pouco começam a chegar os vaqueiros convocados para a “pega” do gado. Vamos. E se dirigiram todos para casa, a tomar a primeira refeição do dia. Ricardo e Maneca, retardando um pouco os passos, para se distanciarem do pai e de Alfredo, transmitiram-se mutuamente a inspiração que ambos tiveram à vista das serras. — Qual é a sua ideia, Ricardo? — Penso que é a mesma sua: vamos subir a serra… — É a minha ideia. — Então, silêncio. Ninguém deve saber de nada. — Certo — concordou o outro. E apressaram o passo para alcançar os dois que iam na frente. Entraram todos. No centro da mesa o cuscuz fumegava com aquele cheirinho gostoso de milho ralado. Junto a ele uma grande leiteira donde se desprendia a fumaça do leite quente; uma travessa com fatias de requeijão assado e outra com ovos estrelados completavam o cardápio do café. Sentaram-se todos. Pode-se imaginar o apetite devorador das crianças diante daquelas iguarias, naquele ambiente rústico, longe das preocupações e apreensões da cidade. Os adultos não ficaram atrás.
E é justificável: a cidade não conhece aquele tipo de cuscuz, nem aquele leite natural, nem aquele requeijão feito em casa. Tudo na cidade é sofisticado e diferente: é civilizado. Mas nem sempre o que é civilizado é o melhor. — Depois de uma refeição com o potencial deste — recomendou o pai, sorrindo para todos —vamo-nos levantar e andar um pouco; faz bem à digestão. Tomaram todos uma xícara de café, concluindo a refeição, e se ergueram. Alguém bateu palmas à porta. Era um vaqueiro que chegava. — Bom dia. Senhor João do Cedro. Eu sabia que o senhor seria o primeiro a chegar. Desmonte… — falou o fazendeiro. O vaqueiro desceu do cavalo: — Como vai, Seu Domingo? — disse apertando-lhe a mão. — Bem. Senhor João — respondeu o fazendeiro, abraçando-o. — Como vai a obrigação? — Vão todos bem, Senhor João. — E apresentando os meninos: — Estes são meus filhos: Alfredo, Ricardo e Maneca. A “PEGA” DO GADO O vaqueiro os cumprimentou a todos, apertando a mão de cada um, com a mesma pergunta: “como vai?” — Dona Mariana não veio, Seu Domingo? — Veio, sim, Seu João do Cedro. Mariana! — gritou para dentro. — Venha cá, com as meninas! Mãe e filhas apareceram à porta. — Como vai, Seu João? — falou de lá Dona Mariana. — Bem, com a graça de Deus — respondeu o vaqueiro. E dirigiu-se até à casa, para apertar as mãos à esposa e às filhas do fazendeiro: — Como vai, Dona Mariana? Meninas, vosmecês como vão? O Senhor Domingos, que o acompanhara, ouvindo tropel de animais, voltou-se e dirigiu os passos para o terreiro, para receber outros vaqueiros que chegavam: Pedro Damasceno, Zé Dias e Manuel da Boa-Vista. Todos apearam dos cavalos e os cumprimentos e apresentações se repetiram num ambiente de cordialidade e simplicidade que encantava os meninos. Não tardou a aparecer um outro grupo de vaqueiros, agora mais numeroso: chegaram pela direita da casa, vindos de outras fazendas. Desceram todos de seus cavalos e os amarraram nas estacas da cerca mais próxima da casa.
Vieram sorrindo e dizendo piadas uns aos outros, para os cumprimentos aos donos da fazenda. Eram eles: João-da-Pedra, Virgílio. Zé do Caíma, João do Mari, João de Virgílio e o velho Maurício que chefiava o grupo. No outro lado da “malhada” já Nicolau e tio, Coló, e seu ajudante Aurélio selavam seus cavalos. Os meninos não diziam uma palavra senão respondendo aos cumprimentos dos vaqueiros a quem o pai os apresentava, cumprindo um dever quase religioso. Estavam boquiabertos ante todo aquele aparato desconhecido. Enquanto os últimos recém-chegados cumprimentavam o pai e os filhos, os primeiros montavamnos cavalos e aguardavam. Quando todos estavam montados, o velho e experiente Maurício comandou: — Vamos, pessoal; vamos conversar com Nicolau e distribuir o serviço; o sol está subindo… Tomaram todos a direção da casa do vaqueiro da fazenda. Uma nuvem de poeira quase os encobriu à vista dos meninos e do pai. Ricardo rompeu o silêncio: — Que tipos diferentes! Que roupa é essa, meu pai? — Eu não lhes anunciei que era uma novidade? Depois vocês terão oportunidade de entrar no mato e verificar com os próprios olhos que não há tecido de roupa que resista aos espinhos. Vaqueiro só pode trabalhar aqui encourado, isto é, vestido de calça e paletó, colete, luvas e chapéu — tudo feito de couro… — Puxa vida!… E aquilo não incomoda não, meu pai? — perguntou Maneca. — Incomoda um pouco, meu filho, mas eles se acostumam. Vocês vão ver que estes homens são tão bravos, na luta com os animais, quanto os próprios animais. E até os excedem, porque os vencem… Vamos lá, para ver a saída? — Vamos! — gritaram os três. Apressaram o passo, porque Nicolau, Coló e Aurélio já montavam também. — Cumpade Nicolau, — perguntou Maurício — como é que vosmecê quer fazer? — Cumpade — respondeu o interpelado — vamos dividir nós tudo em grupos de três, não acha? — Acho bom — respondeu João do Cedro. E como conhecedor que era da fazenda, acrescentou: — Seu Maurício, me dê licença. — Pois não, Seu João. Nós somo os mais velhos, nos entendemo. Pode falar. — Seu Vrigilo mais o filho e João da Pedra vão pro rio Caraíba; Damasceno, Zé Dias e Manuel da Boa-Vista toma a direção da Lagoa Grande; Seu Nicolau, Seu Coló e Aurélio, gente moça vão pra Serra do Capitão; Zé do Caíma e João do Mari vão pra Serrota; e nós dois, que já tamo mais pra lá do que pra cá, vamo pra Baixa-do-Veado… Tá bom assim? — Por mim, tá bom — falou o velho Maurício. — Acho que todo mundo concorda — apoiou Nicolau. — Tá bom, gente — concluiu Virgílio. — Vamos embora! E todos deram rédeas a seus cavalos, aos grupos, cada grupo na direção determinada. Despediram-se dos donos da fazenda com um aceno de mão, acompanhados dos votos de sucesso dos moços e seu pai, que ficaram.
Zefinha, a esposa de Nicolau, saiu à porta. O fazendeiro chamou os filhos e lhos apresentou: — Meus filhos, Zefinha. Aqui vieram pela primeira vez. Vamos passar as férias aqui. — Que bom, Seu Domingo! Vosmecês disculpe eu não apertar as mão. Tô ocupada lá dentro tratando um carneiro. — Um carneiro? — perguntou o pai. — Nhor sim. Nicolau matou pros home almoçar. — Ótimo! — concluiu o fazendeiro. — Então vai ser banquete! — Eu quero participar do banquete — disse Maneca. — Amanhã — acrescentou o pai. — Amanhã nós viremos comer com eles a fatada, o “mininico”, como se diz na cidade. Vocês vão ver que delícia! — Está certo, está ótimo — conveio Alfredo. E se despediram da esposa do vaqueiro, embora ela os convidasse insistentemente para entrar. Voltaram para casa. Aguardavam-nos as moças com sorrisos e uma porção de perguntas, a que o pai respondeu comos esclarecimentos solicitados. Apareceu Dona Mariana e convidou as filhas para irem fazer uma visita a Zefinha. Foi-se o grupo feminino e ficaram em casa os homens. — Meus filhos — falou o Senhor Domingos — hoje é um dia em que nós não devemos sair de casa. A festa, para nós, consiste, em parte, em ver os grupos de vaqueiros chegarem com o gado. É muito animado. Depois, então, de concluído o trabalho, vocês podem passear por aí, caçar, conhecer os matos da fazenda. Demais que vocês ainda devem estar um pouco cansados da viagem, não? — Um pouco, ainda — respondeu Alfredo. — Eu não — disse Ricardo.
— Nem eu — concordou Maneca. Na verdade os dois queriam aproveitar o máximo das surpresas que a vida do campo pode oferecer. — Um dos prazeres daqui é descansar numa rede sob uma cobertura em aberto, como aí onde está o jipe. Vou armar redes para vocês aqui. Venham! — chamou-os o pai. Os dois pequenos o acompanharam para o interior da casa e de lá vieram trazendo redes. O pai armou-as na “casa-aberta” e voltou para a sala, onde se sentou com o filho mais velho. Conversaramlongamente. O pai dizia dos seus planos de pastagens; o filho buscava em que aplicar, na fazenda, os seus conhecimentos de engenharia — barragens, estradas, abertura de poços… combinaram muitos planos para o futuro.
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