Lobos de Cal a é o quinto volume de uma história mais longa inspirada pelo poema narrativo “Childe Roland à Torre Negra Chegou”, de Robert Browning. O sexto, Canção de Susannah, será publicado no Brasil no segundo semestre de 2006. O sétimo e último, A Torre Negra, no primeiro semestre de 2007. O primeiro volume, O Pistoleiro, conta como Roland Deschain de Gilead caça e acaba encontrando Walter, o homem de preto — que fingia amizade com o seu pai, mas na verdade servia ao Rei Rubro no distante Fim do Mundo. Capturar o semi-humano Walter é para Roland um passo no caminho da Torre Negra, onde ele espera poder deter ou mesmo reverter a destruição acelerada cada vez mais rápida do Mundo Médio e a lenta morte dos Feixes de Luz. O subtítulo desse romance é RECOMEÇO. A Torre Negra é a obsessão de Roland, o seu graal, sua única razão de viver quando o encontramos. Ficamos sabendo que Marten tentou, quando Roland ainda era umgaroto, fazer com que o mandassem para o Oeste em desgraça, eliminado do tabuleiro do grande jogo. Roland, contudo, frustrou os seus planos, devido sobretudo à escolha da arma que fez para sua prova de maturidade. Steven Deschain, pai de Roland, envia o filho e dois amigos (Cuthbert Allgood e Alain Johns) para o baronato de Mejis, no litoral, com a principal intenção de pô-lo além do alcance de Walter. Ali, Roland conhece e se apaixona por Susan Delgado, que se desentendeu com uma bruxa. Rhea do Cöos inveja a beleza da moça, e é particularmente perigosa, porque obteve um dos grandes globos de vidro conhecidos como Curvas do Arco-íris. ou os Globos do Mago. Existem 13 destes ao todo, sendo o mais poderoso e perigoso o Treze Preto. Roland e seus amigos têm muitas aventuras em Mejis, e embora escapem com vida (e com a Curva do Arco-íris cor-derosa), Susan Delgado, a linda moça na janela, é queimada na fogueira. Essa história é contada no quarto volume, Mago e Vidro. O subtítulo desse romance é RESPEITO. No curso das histórias da Torre, descobrimos que o mundo do pistoleiro está relacionado com o nosso de uma forma fundamental e terrível. O primeiro desses elos é revelado quando Jake, um garoto da Nova York de 1977, conhece Roland num posto de parada, muitos anos após a morte de Susan Delgado. Há portas entre o mundo de Roland e o nosso, e uma delas é a morte. Jake se vê no posto de parada depois de ser empurrado na rua 43 e atropelado por um carro. O motorista é um sujeito chamado Enrico Balazar, e o empurrador um criminoso sociopata, Jack Mort, representante de Walter no nível de Nova York da Torre Negra. Antes de Jake e Roland alcançarem Walter, o garoto torna a morrer.
desta vez porque o pistoleiro, diante de uma agonizante escolha entre seu filho simbólico e a Torre Negra, opta pela Torre. As últimas palavras de Jake antes de mergulhar no abismo são: “Vá então. Há outros mundos alémdeste.” O confronto final entre Roland e Walter ocorre próximo ao mar Ocidental. Numa longa noite de confabulação, o homem de preto revela o futuro de Roland com um baralho de cartas de tarô de estranho engenho. Três cartas — o Prisioneiro, a Dama das Sombras e a Morte (“mas não para você, pistoleiro”) — chamam em especial a atenção dele. A Escolha dos Três, com o subtítulo RENOVAÇÃO, começa à margem do mar Ocidental não muito depois que Roland acorda do confronto com Walter. O exausto pistoleiro é atacado por uma horda de carnívoras “lagostrosidades”, e antes que possa escapar perde dois dedos da mão direita e é gravemente envenenado. Roland retoma sua jornada pela borda do mar Ocidental, embora doente e talvez agonizante. Nessa caminhada, encontra três portas que se erguem sozinhas na praia. Elas se abrem para Nova York em diferentes quandos. De 1987, Roland atrai Eddie Dean, um prisioneiro da heroína; de 1964, atrai Odetta Susannah Holmes, uma mulher que perde as pernas quando o sociopata Jack Mort a empurra na frente de um trem do metrô. É a Dama das Sombras, com uma “outra” violenta escondida no seu cérebro. Esta mulher oculta, a brutal e ardilosa Detta Walker, decide matar Roland e Eddie quando o pistoleiro a atrai para o Mundo Médio. Roland acha que talvez tenha escolhido os três em apenas Eddie e Odetta, pois esta tem na verdade duas personalidades, mas, quando as duas se fundem numa só em Susannah (graças em grande parte ao amor e coragem de Eddie Dean), o pistoleiro sabe que não é bem assim. Também se dá conta de mais uma coisa: está sendo atormentado pelos pensamentos de Jake, o garoto que falou de outros mundos na hora da morte. As Terras Devastadas, cujo subtítulo é REDENÇÃO, começa com um paradoxo: para Roland, Jake parece ao mesmo tempo vivo e morto. Na Nova York de fins da década de 1970, Jake Chambers é obcecado pela mesma questão: vivo ou morto? Em qual está ele? Após matarem um gigantesco urso conhecido como Mir (assim chamado pelo Povo Antigo que o temia) ou como Shardik (pelos Grandes Anciãos que o construíram), Roland, Eddie e Susannah refazem o rastro da fera e descobremo Caminho do Feixe de Luz conhecido como Shardik a Maturin, Urso a Tartaruga. Havia outrora seis desses Feixes, correndo entre os 12 portais que marcam as bordas do Mundo Médio. No ponto onde os Feixes se cruzam, no centro do mundo de Roland (e de todos os mundos), fica a Torre Negra, o nexo de todo onde e quando. A essa altura, Eddie e Susannah não são mais prisioneiros no mundo de Roland. Apaixonados e bem encaminhados para se tornarem pistoleiros eles mesmos, são participantes totais da missão e seguemRoland, o último seppe-sai (vendedor de morte), pelo Caminho de Shardik, a Via de Maturin. Num círculo falante não longe do Portal do Urso, o tempo se conserta, o paradoxo acaba, e o verdadeiro terceiro é resgatado. Jake reentra no Mundo Médio no fim de um perigoso ritual em que todos os quatro — ele, Eddie, Susannah e Roland — se lembram dos rostos de seus respectivos pais e se absolvem honrosamente. Não muito depois, o quarteto passa a quinteto, quando Jake se torna amigo de um trapalhão. Os trapalhões, que parecem uma combinação de guaxinim, mão-pelada e cachorro, têm uma capacidade de falar limitada. Jake dá ao novo amigo o nome de Oi.
O caminho dos peregrinos leva-os à cidade de Lud, onde os degenerados sobreviventes de duas antigas facções continuam travando um conflito infindável. Antes de chegarem à cidade, na pequena aldeia de River Crossing, encontram alguns sobreviventes anciãos dos velhos tempos. Eles reconhecem Roland como um colega sobrevivente daqueles dias, antes de o mundo haver seguido adiante, e o homenageiam e a seus companheiros. O Povo Antigo também lhes fala de um monotrilho que talvez ainda corra de Lud para as terras devastadas, ao longo do Caminho do Feixe de Luz e em direção à Torre Negra. Jake fica assustado, mas não surpreso, com essa notícia; antes de ser arrastado de Nova York, comprou dois livros de uma livraria cujo dono tem o nome instigante de Calvin Tower (Torre). O primeiro é um livro de adivinhações com as respostas rasgadas fora. O outro, Charlie Chuu-Chuu, é um livro de histórias infantis com sombrios ecos do Mundo Médio. Por exemplo, a palavra char significa morte na Língua Superior, que Roland se criou falando em Gilead. Tia Talitha, a matriarca de River Crossing, dá a Roland uma cruz de prata para usar, e os viajantes prosseguem em seu caminho. Ao atravessarem a destruída ponte que cruza o rio Send, Jake é seqüestrado por um proscrito moribundo (e muito perigoso) chamado Gasher. Este leva seu jovem prisioneiro ao subterrâneo para o Homem do Tiquetaque, o último líder da facção conhecida como os Grays. Enquanto Roland e Oi partem em busca de Jake, Eddie e Susannah encontram o Berço de Lud, onde o Mono Blaine acorda. Blaine é a última máquina acima da superfície da terra de um vasto sistema de computadores que se estende sob Lud, e resta-lhe apenas um único interesse: enigmas. Ele promete levar os viajantes à parada final do monotrilho. se conseguirem propor-lhe uma adivinhação que ele não consiga resolver. Do contrá-rio, diz, a viagem deles vai terminar na morte: a árvore de charyou, a árvore dos mortos. Roland resgata Jake, deixando o Homem do Tiquetaque como morto. Mas Andrew Quick não está morto. Zarolho, medonhamente ferido em todo o rosto, é salvo por um homem que diz chamar-se Richard Fannin. Mas Fannin também se identifica como o Estranho Atemporal, um demônio sobre o qual Roland foi advertido. Os peregrinos continuam sua jornada da cidade em extinção de Lud, desta vez de monotrilho. O fato de a verdadeira mente que governa o mono existir em computadores decrépitos cada vez mais distantes lá atrás não fará a menor diferença de uma forma ou de outra quando o projétil cor-derosa tomar os trilhos desgastados ao longo do Caminho do Feixe de Luz à excessiva velocidade de 1.300 quilômetros por hora. A única chance de sobrevivência do grupo é propor a Blaine uma adivinhação que o computador não saiba responder. No início de Mago e Vidro, Eddie na verdade propõe essa adivinhação, destruindo Blaine com uma arma singularmente humana: a falta de lógica.
O mono pára numa versão de Topeka, Kansas, que foi esvaziada por uma doença chamada “supergripe”. Quando recomeçam a jornada ao longo do Caminho do Feixe de Luz (agora uma versão apocalíptica da Interestadual 70), vêem placas perturbadoras. TODOS SAÚDAMO REI RUBRO, avisa uma. CUIDADO COM O TIPO QUE ANDA, informa outra. E, como saberão os leitores alertas, o tipo que anda tem um nome muito semelhante ao de Richard Fannin. Após contar aos amigos a história de Susan Delgado, Roland e eles chegam a um palácio de vidro verde construído do outro lado da Interestadual 70, e que tem grande semelhança com o que Dorothy Gale procurava em O Mágico de Oz. Na sala do trono desse enorme castelo, eles encontram não o Grande e Terrível Oz, mas o Homem do Tiquetaque, a esplêndida cidade do último refugiado de Lud. Com a morte de Tiquetaque, o verdadeiro Mago se apresenta. É a antiga nêmese de Roland, Marten Broadcloak — conhecido em alguns mundos como Randall Flagg, em outros como Richard Fannin e em outros como John Farson (o Homem Bom). Roland e seus companheiros não conseguem matar essa aparição, que os avisa uma última vez para que desistam de sua busca da Torre (“Só tiros falhos contra mim, Roland, amigo velho”, diz Marten ao pistoleiro), mas conseguem bani-lo. Após uma última viagem ao Globo do Mago e uma terrível revelação final — que Roland de Gilead matou a própria mãe, confundindo-a com a tal bruxa Rhea —, os andarilhos vêem-se mais uma vez no Mundo Médio, e mais uma vez no Caminho do Feixe de Luz. Eles retomam novamente sua busca, e é aí que os encontraremos nas primeiras páginas de Lobos de Cal a. Este argumento de modo algum resume os quatro primeiros livros do ciclo da Torre, se você não os leu antes de começar este, exorto-o a fazê-lo ou deixar de lado Lobos de Calla. Esses livros são apenas partes de uma única história mais longa, e melhor seria lê-los do início ao fim do que começar no meio. “Senhor, nosso negócio é chumbo.” — Steve McQueen, em Sete Homens e um Destino “Primeiro chegam sorrisos, depois mentiras. Por último, o tiroteio.” — Roland Deschain, de Gilead O sangue que flui em ti também flui em mim, quando olho qualquer espelho é o teu rosto que vejo. Toma-me a mão, apóia-te em mim, estamos quase livres, menino errante. — Rodney Crowell RESISTÊNCIA 19 PRÓLOGO Roont 1 Tian foi abençoado (embora poucos fazendeiros houvessem usado tal palavra) com três tratos de terra: o Campo do Rio, onde sua família cultivara arroz desde tempos imemoriais; o Campo da Beira da Estrada, onde ka- Jaffords cultivara tubérculos, abóboras e milho durante esses mesmos longos anos e gerações; e o Filho-da-Puta, um trato ingrato que produzia sobretudo pedras, bolhas e esperanças desfeitas. Tian não foi o primeiro Jaffords decidido a arrancar alguma coisa dos oito hectares atrás da casa natal; seu grand-père, seu avô, perfeitamente são na maioria dos outros aspectos, convencera-se de que havia ouro ali. A mãe de Tian estivera igualmente certa de que a terra podia dar porim, um tempero de grande valor. A doidice particular de Tian era madrigal. Claro que daria madrigal no Filho-daPuta. Tinha de dar.
Ele conseguira mil sementes (e lhe custaram um dinheirinho bom), agora estavam escondidas sob as tábuas do assoalho de seu quarto. Restava apenas, antes do plantio no ano seguinte, preparar a terra no Filho-da-Puta. Dessa árdua tarefa, era mais fácil falar do que realizar. O clã dos Jaffords era abençoado com gado, incluindo três mulas, mas estaria louco quem tentasse usar uma mula no Filho-da-Puta; o animal que desse o azar de ver-se atribuir tal tarefa provavelmente estaria caído de perna quebrada ou morto a ferroadas ao meio-dia do primeiro dia. Um dos tios de Tian quase encontrara esse último destino alguns anos antes. Voltara correndo para casa, gritando no máximo dos pulmões e perseguido por enormes vespas mutantes comferrões do tamanho de pregos. Haviam encontrado o ninho (bem, Andy encontrara; as vespas não o incomodavam, tivessem o tamanho que tivessem) e queimaram-no com querosene, mas talvez houvesse outros. E havia buracos. Sim, senhor, mui- tos buracos, e não se podia queimá-los, podia-se? Não. O Filho-da-Puta ficava no que os antigos chamavam de “terra solta”. Tinha portanto quase tantos buracos quanto pedras, para não falar em pelo menos uma gruta que expelia rajadas de ar nojento, cheirando a matéria emdecomposição. Quem sabia que monstros e almas-do-diabo se escondiam em sua negra goela? E os piores buracos não ficavam onde um homem (ou uma mula) pudesse vê-los. Não, senhor, nem pensar. Os quebra-canelas estavam sempre ocultos entre touceiras de ervas daninhas e mato alto. A mula pisava, ouvia-se um estalido seco como um galho se partindo, e aí a maldita coisa jazia no chão, dentes à mostra, revirando os olhos, zurrando em agonia para o céu. Até a gente acabar com a miséria dele, quer dizer, e o gado era valioso em Calla Bryn Sturgis, mesmo o gado não exatamente amarrado. Tian, portanto, plantava com a irmã colada em suas pegadas. Não havia motivo para não fazê-lo. Tia era roont, logo para pouco mais servia. Era uma mocetona — os roonts em geral atingiam dimensões prodigiosas — e disposta. Ô Homem Jesus a amava. O Velho fizera-lhe uma árvore de Jesus, que chamava de crusie-fix, e ela usava-o aonde quer que fosse. A coisa balançava de um lado para outro, batendo na pele suada enquanto ela puxava. O arado era amarrado aos ombros dela por um arreio de couro cru. Atrás, guiando o arado pelos cabos de pau-ferro e a irmã pelas rédeas, Tian grunhia e puxava quando a lâmina afundava e ameaçava atolar-se.
Era o fim da Terra Plena, mas quente como o verão ali no Filho-da-Puta; Tia tinha o macacão escuro, molhado e grudado nas coxas longas e carnudas. Toda vez que Tian jogava a cabeça para tirar os cabelos dos olhos o suor voava da cabeleira num chuveiro. — Cuidado, sua cadela! — gritava. — Essas pedras quebram a lâmina, você está cega? Cega, não; nem surda; só roont. Ela puxava para a esquerda, com força. Atrás, Tian tropeçava para a frente com uma torção do pescoço e ladrava sua perna contra outra pedra, que não vira e o arado, por milagre, evitara. Ao sentir as primeiras gotas de sangue escorrerem pelos tornozelos, imaginava (e não pela primeira vez) que loucura trouxera os Jaffords até ali. No mais fundo do coração, tinha a idéia de que o madrigal não daria mais que o porim antes, embora se pudesse cultivar a erva-do- diabo; sim, poderia ter cultivado todos os oito hectares com aquela merda, se quisesse. O segredo era mantê-la longe, sempre a primeira tarefa na Terra Plena. — Arr! — gritou. — Devagar, menina! Eu não posso plantar de novo se você desenterrar, posso? Tia voltou a cara larga, suada e vazia para o céu cheio de nuvens baixas e zurrou uma gargalhada. O Homem Jesus, mas ela até soava como uma jumenta. Mas era risada, risada humana. Tian se perguntava, como às vezes não podia deixar de fazer, se aquela risada significava alguma coisa. Ela entendia algo do que ele dizia ou apenas respondia ao tom da sua voz? Será que algum dos roonts. — Bom-dia, sai — disse uma voz alta e quase sem tom atrás dele. O dono da voz ignorou o grito de surpresa de Tian. — Belos dias, e que durem sobre a terra. Eu vim aqui de uma boa passeada para me pôr à disposição de vocês. Tian girou e viu Andy ali parado — em todos os seus 2,10m — e quase caiu de cara no chão quando a irmã deu outro de seus arrancos para a frente. As rédeas do arado foram arrancadas de suas mãos e voaram em torno do pescoço com um estalo audível. Tia, ignorando esse desastre potencial, deu outro passo à frente. Ao fazê-lo, cortou o fôlego do irmão. Ele lançou um arquejo tossido, engasgado, e mordeu as correias. Andy a tudo isso assistiu com seu sorriso largo e sem sentido de sempre.
Tia tornou a arrancar e Tian foi erguido do chão. Caiu em cima de uma pedra que se enterrou violentamente no rego de suas nádegas, mas pelo menos pôde voltar a respirar. Por enquanto, pelo menos. Maldito campo infeliz! Sempre fora assim! Sempre seria! Tian tornou a agarrar a correia de couro, antes que ela se apertasse de novo em seu pescoço, e berrou: — Agüenta aí, sua cadela! Ôoa, se não quer que eu torça esses peitões inúteis da sua frente! Tia parou de muito boa vontade e olhou para trás para ver o que era. Alargou o sorriso. Ergueu o braço musculoso — reluzente de suor — e apontou. — Andy! — disse. — Andy veio! — Eu não sou cego — disse Tian, levantando-se e esfregando os fundilhos. Estaria sangrando também aquela parte dele? Ó bom Homem Jesus, achava que sim. — Bom-dia, sai — disse Andy a ela, e bateu três vezes na garganta metálica com os três dedos de metal. — Longos dias e belas noites. Embora Tia houvesse sem dúvida ouvido a resposta padrão a isso — E que você tenha isso em dobro — mil vezes ou mais, pôde apenas erguer a cara idiota e zurrar sua risada de jumento. Tian sentiu um surpreendente momento de dor, não nos braços, na garganta ou no ofendido traseiro, mas no coração. Lembrou-se vagamente dela quando menina: bonitinha e esperta como um vaga-lume, tão inteligente quanto se poderia desejar. Depois. Mas antes que pudesse terminar o pensamento, veio-lhe uma premonição. Sentiu o coração afundar. A notícia i a chegar enquanto ele estava ali fora, pensou. Ali naquele trato esquecido por Deus onde nada é bom e toda sorte é má. Era hora, não era? Passava da hora. — Andy — disse. — Sim! — disse Andy, sorrindo. — Andy, seu amigo! De volta de um ótimo passeio e às suas ordens. Gostaria do seu horóscopo, sai Tian? É a Terra Cheia. A lua está vermelha, o que se chamava de Lua da Caçadora no Mundo Médio, quer dizer.
Vai chegar um amigo. Os negócios vão prosperar! Você terá duas idéias, uma boa e outra ruim. — A ruim foi vir aqui arar este campo — disse Tian. — Esqueça meu maldito horóscopo, Andy. Por que está aqui? Andy sorriu, na certa porque não se perturbava — era um robô afinal, o último em Calla Bryn Sturgis por quilômetros e quilômetros em volta —, mas a Tian ele pareceu perturbar-se mesmo assim. O robô parecia uma figura de adulto desenhada com traços, incrivelmente alto e magro. Pernas e braços prateados. A cabeça era um barril de aço inoxidável com olhos elétricos. O corpo, que não passava de um cilindro, era de ouro. Gravada no meio — no que seria o peito de um homem —, sua legenda: NORTH CENTRAL POSITRONICS, LTDA.
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