Aquele facilmente poderia ser um dia comum para Charlie O’Brien, e até aquele momento não houve nenhum acontecimento para que tornasse o seu dia mais impressionante. Desligando o carro e tirando um pacote com comida chinesa, a sua preferida, ele chegara em casa mais cedo naquele dia. O fato era que ele não se sentia muito bem desde o dia anterior. Não sabia o que era, talvez fosse apenas um resfriado. Sua garganta doía um bocado e a febre estava alta, por isso decidira fechar sua livraria no centro da cidade e partir para casa e descansar um pouco. Anos haviam se passado desde que tirara suas ultimas férias e um dia não o faria ficar mais rico, ou mais pobre. Sua esposa, Abigail O’Brien, estava desempregada havia uns dois ou três anos, não se lembrava mais, e estava responsável por cuidar da casa. Eram casados há mais de uma década e nesse meio tempo não conseguiram ter filhos. Ele era estéril e ela, uma mulher que odiava fugir dos padrões da sociedade, passara a evitá-lo desde que descobrira que não teriam nenhum filho juntos. A ideia de adotar crianças viera certa vez, mas Abigail lhe respondera com outra pergunta: “Se as próprias mães não quiseram essas crianças largadas, por que diabos eu as vou querê-las? Não seja ridículo, Charlie!” E assim morrera o assunto no mesmo instante. Ele, para ser bem sincero, não se sentia culpado por não poder dar filhos à esposa. A culpa não era dele e se dependesse apenas de Charlie, eles já teriamtido quantos filhos se ela quisesse. Ele a amava, como nunca amara ninguém, confiava nela e, apesar da frieza que nos dias atuais se tornara normal, ele achava que Abigail o amava também. Lutava para manter a livraria enquanto ela não parava de reclamar da falta de um sapato novo, perdia noites tentando reduzir gastos para pagar as contas do mês enquanto ela acordava às dez reclamando que precisava fazer o almoço. Qualquer dessas coisas ele podia perdoar, pois a amava, mas não conseguia imaginar sua vida caso ela o largasse. Aquilo sim, não haveria perdão. Abriu a porta de casa e entrou, para sua surpresa ouvia gritos da sua esposa e num instante seu coração pareceu pular no peito tamanho fora o susto. Soltou a comida que carregava num dos braços e esta caiu no chão num baque surdo para logo em seguida subir as escadas, de forma rápida. Quando se aproximou da porta do quarto deles, os gritos eram altos e suas mãos estavam um tantinho trêmulas, coisa que ele nunca admitiria caso alguém perguntasse. Inspirou profundamente e, numrompante, abriu a porta para se deparar com a cena mais nojenta que ele sequer imaginara ver algumdia. Abigail O’Brien montada no colo de Jack, o vizinho deles, enquanto este mantinha a boca asquerosa em um dos seus seios, apertando o outro com a mão esquerda. Charlie primeiro congelara, parado à porta, e logo em seguida continuara parado para ver qual seria a reação dos dois. Ela o olhou, deu-lhe um sorrisinho e deu dois tapinhas no ombro musculoso de Jack. Quando olhou para trás, ele deu um pulo e retirou-se dela. Charlie podia perdoar tudo.
Tudo mesmo, desde cada uma das humilhações que ela lhe fizera passar ao deixar bem claro que o considerava menos homem por não poder ter filhos, até obrigá-lo a comprar objetos femininos fúteis quando ela não precisava e ele necessitava pagar as contas. Porém, traição, assim como ela largá-lo, isso ele não aceitava de forma alguma. E o pior de tudo era que Charlie gostaria muito de conseguir falar, mas sua voz não saía. Era como se estivesse engasgado com as próprias palavras. – Isso é culpa sua, Charlie. – disse Abigail subindo o lençol para cobrir-lhe os seios fartos. – Isso é culpa SUA! – Culpa minha? – repetiu Charlie, engolindo em seco. – Você não consegue se contentar em apenas não me dar filhos, Charlie, vai muito além disso. Essa coisinha aí que você tem entre as pernas não daria prazer nem à uma formiga. – revirando os olhos, ela olhou para Jack e depois continuou: – Compare o tamanho dele com o seu e talvez até você consiga entender o porquê de eu tê-lo traído. Charlie, ainda sem palavras, olhou fixamente para ela e depois para ele. Após Abigail ter dito aquelas palavras, Jack deu-se conta que ainda estava completamente nu e correu para vestir-se. Charlie esperou pacientemente até que, quando o vizinho conseguiu enfim vestir-se, ele disse: – Saia daqui, Jack. Este saiu. E assim que ouviu a porta se fechando lá embaixo, Charlie sentiu uma lágrima solitária descer por seu rosto e ao vê-lo chorar, Abigail riu alto. Uma vez Charlie ouvira de seus pais para não confiar inteiramente em ninguém. Ouviu que o casamento, e o amor dedicado neste, não era viver completamente em nome de outra pessoa, mas simformar uma parceria eterna de sentimentos, amizade e integridade. Quando seus pais eram vivos para aconselhá-lo, ele não entendera muito bem o significado daquelas palavras, mas naquele momento eles a entendia muito bem. A pessoa por quem dedicara mais de dez anos de sua vida acabara de demonstrar claramente que os seus pais estavam mais que certos. Seu coração estava destruído. Assim como a sua alma. Capítulo 1 Charlie viu Abigail saindo de uma festa às 22h30 com seu filho, Jean, agarrando-lhe uma das mãos. Ela estava lá há mais de três horas, aparentemente numa comemoração de aniversário de uma das suas amigas. Parecia feliz, concluiu ele, mas estava sem o marido. Charlie sabia bem onde ele estava: Com uma das amantes num motel muito longe dali.
Charlie havia seguido cada passo de Abigail e Jack por oito anos, desde o momento em que ela saíra de casa para nunca mais voltar. Sabia para onde iam, em que trabalhavam e o que faziam. Desde a separação, que ocorrera logo após ele encontrá-la se enroscando com o vizinho, Charlie estivera sozinho, decidido a se vingar da pessoa que lhe destruíra a capacidade de amar. Levara tempo para que ele pudesse enfim tomar coragem e decidir que chegara a hora de fazê-la pagar por tamanha humilhação. Com um sorriso nos lábios e os olhos brilhando de maneira um tanto demoníaca, ele deu partida na van preta. Estava na hora. — Abigail gargalhava de alegria ao ouvir as histórias escolares que seu filho lhe contava enquanto caminhavam rumo à sua casa, que se localizava a poucos metros da festa onde estivera. Jean era a prova que a felicidade podia vir de todos os lugares e para qualquer pessoa, até mesmo para ela, que já havia perdido as esperanças de ser mãe. Separar-se de Charlie e casar-se com Jack havia sido a melhor escolha que um dia pudera fazer. Gostaria que o marido estivesse com ela na festa, muitas amigas haviam perguntado por ele, mas Jack estava preso no escritório de advocacia até às 23h e não queria ser interrompido nem mesmo com as ligações dela. Apesar de sentir-se sozinha por Jack permanecer cada vez mais tempo no escritório e não em casa, ela não sentia falta de Charlie, seu ex-marido. Após tanto tempo, ela não fazia ideia de onde estava ou o que fazia. Provavelmente continuava com sua vidinha medíocre na livraria, concluiu. Jack possuía uma quantidade razoável de dinheiro, o que lhe permitia viver bem e, além disso, era homemsuficiente para ter a capacidade de lhe dar o maior presente que ela sonhara em ter: seu filho. Ao lado dele, nada mais importava. Nem mesmo Jack. Já estavam atravessando a rua silenciosa para chegar em casa quando uma van preta estacionou no meio fio logo à sua frente. No primeiro instante ela não tivera medo, só achara estranho que o motorista houvesse parado o carro logo em seu caminho, mas logo em seguida, quando um homemdesceu trajando roupa preta e uma máscara de gás assustadora cobrindo-lhe o rosto, foi que o sentimento de pânico percorreu seu corpo e ela tomou a iniciativa de colocar seu filho nos braços e correr. — Charlie revirou os olhos quando Abigail começou a correr com o filho nos braços. Retirou do bolso um revolver calibre .38, mirou logo abaixo do joelho dela e atirou, derrubando-a no chão. Ao ouvi-la soltar um grito agudo e cair gemendo, desesperada, um sentimento de prazer percorreu seu corpo e ele sorriu enquanto caminhava até ela, guardando a arma novamente no bolso e tirando do outro bolso um vidrinho de clorofórmio e um pedaço de pano. – Eu não queria começar o show assim, no meio da rua. – disse ele colocando a bota em cima do local onde acertara o disparo, fazendo-a gritar ainda mais de dor. A voz de Charlie estava alterada por um aparelho, fazendo-a ficar irreconhecível.
– Pena que você quer assim. Molhando o pano com o clorofórmio, ele pressionou-o contra o rosto do menino, que chorava sentado ao lado de Abigail enquanto esta começou a ordenar para ele correr. Jean desmaiou em poucos segundos e, com facilidade, Charlie pegou o corpo inerte e o jogou dentro da van. Voltou a passos rápidos, lembrando-se que logo alguém da vizinhança chamaria a polícia, e fez o mesmo comAbigail, que desmaiou com um gemido sofrido. Colocando o segundo corpo na van, ele deu partida e dirigiu em alta velocidade rumo à uma antiga casa que era de sua avó e estava localizada próximo da saída da cidade. — Quando colocou a van na garagem, Charlie desceu e tirou primeiro o corpo dela e depois o da criança, levando-os para um quarto no andar de cima. O ar era pesado e cheirava a coisa velha, havia muito tempo que ninguém entrava ali. Sua avó havia morrido há quatro ou cinco anos e desde então a casa permanecera trancada. Com um suor na testa, ele amarrou uma faixa nos olhos de Abigail e depois nos de Jean, para sentirse livre e tirar a máscara de gás. Passou a mão na testa e secou-a. Ele olhou fixamente para os dois corpos estendidos no chão e sentiu lágrimas formarem-se em seus olhos. – Tudo podia ser tão diferente, Abigail. Eu sempre te amei tanto, mas você só demonstrou apenas nojo por mim. Nunca entendi isso. Você terá que compreender que o que faço a partir de agora é um reflexo de tudo aquilo que você me fez no passado. Um passado que eu nunca esqueci. – Charlie sabia que ela não ouvira nada do que ele dissera, mas sentira a necessidade de falar mesmo assim. Eram as palavras que estavam engasgadas desde que ela partira sem permitir que ele extravasasse todas as suas magoas, deixando-o doente por dentro. Logo eles acordariam e por isso ele adiantou-se em tirar-lhes as roupas, deixando-os completamente nus, e amarrar cada um numa cadeira. Satisfeito com o trabalho, ele saiu, trancando a porta e semolhar para trás. Ainda tinha uma outra pessoa para lidar. Capítulo 2 Charlie olhou no relógio: 23h40. Se fosse um dia normal, Abigail estaria preocupada com o marido, já que ele lhe dissera ao telefone, que ele arrumara uma forma de grampear, que estaria em casa às 23h. Quando estava casado com ela, Charlie sempre chegara no horário certo e nunca, nem sequer empensamento, traíra a esposa, pois sentia orgulho dela e não via nenhum motivo para traí-la. O fato era que a odiava agora, pensou ele tentando convencer-se daquilo.
Procurando parar de pensar na ex e focar no seu objetivo, ele passou a olhar fixamente para a saída já um pouco impaciente e começou a bater as mãos no volante, aguardando, até que Jack saiu do motel e se dirigiu sozinho até um estacionamento próximo em que ele colocara o carro. A prostituta que ele estava tendo um caso só sairia mais tarde para que não fossem vistos juntos, sempre faziamisso. Dando partida no carro, Charlie sentiu o sangue correr-lhe nas veias em antecipação. Colocou a máscara de gás que estava no seu colo quando se aproximou o suficiente de Jack e desceu. — Droga, ele tinha certeza que iria precisar ouvir as reclamações acaloradas de Abigail quando chegasse a casa. Estava atrasado em quase uma hora! O pior é que não se arrependia, já que não podia ter deixado a morena, que mantinha um caso há alguns meses, na mão, quando ela pediu por uma segunda rodada. Perdido em seus pensamentos, ele não percebeu quando uma van preta parou à sua frente assim que ele adentrou no estacionamento escuro. – Cacete! – disse ele, ao ver um homem descendo do carro e indo em sua direção. Parecia saído de um filme de terror com aquela máscara horrenda que usava, pensou assustado. Concluiu que dava tempo de entrar no carro e fugir, sem a necessidade de procurar briga com o mascarado. Quando virou-se para correr, ouviu um disparo seguido de outro e quando deu por si já estava no chão, gemendo de dor. Capítulo 3 Olhando fixamente para os três corpos nus, Charlie acendeu a luz vermelha que colocara para dar umar ainda mais assustador aos seus “convidados”. Já passava das duas da manhã e agora todos já estavam bem acordados após o efeito do clorofórmio. -Já acordaram? – disse ele, irônico, enquanto tirava a faixa que cobria os olhos de cada um. –Até que enfim! – Quem é você? – gritou Abigail, sentindo o corpo tremer ao se mexer e a dor latejante da bala em sua perna lembrar-lhe que estava machucada. – Porque nos trouxe pra cá? O que o meu filho tem a ver com isso? – ela fazia uma pergunta atrás da outra enquanto chorava desesperada. – Quantas perguntas, Abigail. – respondeu Charlie com a máscara de gás escondendo seu rosto. – Trouxe vocês para uma brincadeira muito legal – interrompendo-se, ele foi até um canto do quarto e voltou segurando uma maleta. – Estou com os brinquedos bem aqui. Vocês vão adorar brincar. – Você é um louco, isso o que você é! Devolva nossas roupas! – gritou Jack, ofegante. – Acho melhor não, iria perder a graça. – Charlie abriu a maleta e retirou uma tesoura de jardinagem grande. – Olhem só nosso primeiro brinquedinho! Abigail lançou-lhe um olhar de desespero e perguntou: – O que você vai fazer com isso? Charlie riu e o som que eles ouviram foram gargalhadas abafadas que mudavam de tom.
– O que eu vou fazer com isso? Nada! Na verdade é você quem vai brincar com a tesoura, Abigail. Girando a tesoura, Charlie apontou para Jack e disse: – Fiquei sabendo que você anda vangloriando-se por seu marido ser bem dotado… Isso não é uma coisa boa, Abigail. Acho que teremos que diminuir um pouquinho a ferramenta do seu marido. – Ela não vai fazer isso! Eu exijo que nos tire daqui! – disse Jack com a voz trêmula, tentando demonstrar uma coragem que não tinha. – Ela vai sim, Jack. Não vai, Abigail? – disse Charlie. – Não vou, não.– Sabendo que a arrogância não daria certo, Abigail decidiu que o melhor era rogar por piedade. – Por favor, nos solte… O que fizemos contra você? – Você não vai? – Girando a tesoura mais uma vez, Charlie apontou para Jean, que permanecera calado e choramingando até aquele momento. – Vou ser bonzinho. Você pode escolher entre cortar o do seu marido ou o do seu filhinho. Qual seria o mais interessante para você? – Pare com isso, eu não vou cortar nada! Isso é doentio, nojento. – Abigail, se você não fizer a sua escolha agora mesmo – Charlie se interrompeu, sorriu e continuou. – eu mesmo o farei nos dois. Ela começou a chorar ainda mais alto e gritou: – Eu não posso fazer isso! – Ela não tinha dúvidas que nunca faria mal ao filho, mas ele queria que ela fizesse uma escolha e só de se imaginar fazendo uma coisa daquelas contra o marido, Abigail sentia sua pele arrepiar-se completamente. – Por que você está fazendo isso com a gente? Meu Deus! – Abigail, eu estou perdendo a paciência com você… – murmurou Charlie, segurando-se para não rir tamanho era o seu contentamento em ver a angústia da ex-mulher. Caminhou lentamente até Jean, que tremia enquanto mantinha os olhos fixos na mãe, e ajoelhou-se, pegando o pênis do garoto com uma das mãos enquanto abria a tesoura de jardinagem com a outra. – Acho que vou começar por ele, já que você não se decide… – – Mamãe, faça ele parar com isso! Mamãe, por favor! – Jean começou a soluçar ainda mais forte entre lágrimas. – Solte ele, seu infeliz! Pelo amor de Deus, ele é só uma criança! – esbravejou Jack. – Pare! Eu já fiz a minha escolha, pare! – Falando isso, Abigail olhou para Jack e naquele olhar havia um pedido de desculpas que não necessitava de palavras para ser dito. – Boa garota. Escolhe o Jack, claro. – disse Charlie. – Sim, eu escolho o Jack. – respondeu Abigail.
– Abigail? Você não seria capaz… – sussurrou Jack. – Por nosso filho, Jack. – respondeu ela também sussurrando. Charlie colocou a tesoura no chão e desamarrou as cordas que prendiam os pulsos de Abigail. Como as três cadeiras estavam juntas uma ao lado da outra, não seria necessário que ela se levantasse. Levantou-se e entregou a tesoura a Abigail e, enquanto ela tremia clamando para que ele não a obrigasse fazer aquilo, ele retirou a arma que ainda estava no bolso e apontou para a cabeça dela. – Vamos, Abigail, faça logo o que tem que fazer. Olhou fixamente para os olhos do marido mais uma vez e com uma das mãos trêmulas ela segurou seu membro e com a outra abriu a tesoura para colocá-lo entre as lâminas, repetindo o gesto do homemmascarado. Jack começou a se remexer na cadeira, tentando se soltar e gritando: – Pare, Abigail! Não, não por favor, não! Charlie empurrou a cabeça dela com a pistola e disse calmamente: – Estou aguardando, Abigail. Com um suspirou que pareceu doloroso, ela juntou as lâminas num único gesto, cortando-o e fazendoo urrar de dor. O sangue sujou sua mão e ela soltou o membro morto no chão. Ela não queria, mas seu estomago revirou tão violentamente que um vômito que Abigail não esperava saiu por sua boca, sujando não só ela mesma, mas o chão também. Charlie retirou a tesoura das mãos de Abigail e puxou-lhe os braços para trás e os amarrou com força. – Bom trabalho, Abigail. Só não precisava ter feito tanta sujeira.
.