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Academia de Vampiros – Richelle Mead

SENTI SEU MEDO ANTES de escutar seus gritos. O pesadelo dela pulsou em mim, me tirando de meus próprios sonhos, no qual tinha alguma coisa a ver com uma praia e um cara gostoso espalhando óleo bronzeador em mim. Imagens – dela, não minhas – faziam baderna em minha mente: fogo e sangue, o cheiro de fumaça, o metal torcido de um carro. As figuras me envolveram, me sufocando, até que alguma parte racional de meu cérebro lembrou-me que esse não era meu sonho. Eu acordei, longas mechas de um cabelo escuro grudando na minha testa. Lissa deitada em sua cama, se debatia e gritava. Eu escapuli da minha, passando rapidamente pelos poucos metros que nos separava. “Liss,” eu disse, sacudindo-a. “Liss, acorde.” Seus gritos morreram, sendo substituídos por fracos choramingos. “Andre,” lamentou-se. “Oh, Deus.” Eu a ajudei a sentar-se. “Liss, você não está mais lá. Acorde.” Depois de algum tempo, seus olhos agitaram-se e abriram, e na iluminação turva, eu pude ver uma centelha de consciência começar a despertar. Sua respiração frenética diminuiu, e ela se inclinou sobre mim, descansando sua cabeça em meu ombro. Eu a envolvi com meu braço e passei minha mão em seus cabelos. “Está bem,” disse a ela gentilmente. “Está tudo bem.” “Eu tive aquele sonho.” “Yeah. Eu sei.” Ficamos sentadas assim por muitos minutos, sem dizer mais nada. Quando senti suas emoções se tranqüilizarem, me inclinei sobre o criado-mudo entre nossas camas e acendi o abajur.


Ele incandesceu de forma tênue, mas nenhuma de nós precisava de muito para enxergar. Atraído pela luz, nosso companheiro de quarto felino, Oscar, pulou em cima do peitoril da janela aberta. Ele manteve a distância de mim – animais não gostam de dhampirs, por alguma razão – mas pulou na cama e esfregou sua cabeça contra Lissa, ronronando baixinho. Animais não tinham problemas com Moroi, e todos eles amavam Lissa em particular. Sorrindo, ela acariciou seu queixo, e eu senti sua calma ainda mais. “Quando foi a última vez que nós fizemos uma alimentação?” eu perguntei, estudando seu rosto. Sua bela pele estava mais pálida de que costume. Grandes olheiras embaixo de seus olhos, e havia um ar de fraqueza nela. A escola tinha sido agitada essa semana, e eu não me recordava da última vez que havia lhe dado sangue. “Foi a… mais de dois dias, não foi? Três? Por que você não disse algo?” Ela se encolheu e não olhou em meus olhos. “Você estava ocupada. Eu não queria –“ “Que se dane isso,” eu disse, me colocando numa posição melhor. Não era surpresa que ela aparentava tão fraca. Oscar, não me querendo por perto, pulou da cama e retornou para a janela, onde ele podia olhar de uma distância segura. “Venha. Vamos fazer isso.” “Rose – “ “Vamos. Vai fazer você se sentir melhor.” Eu inclinei minha cabeça e joguei meu cabelo para trás, descobrindo meu pescoço. Eu vi ela hesitar, mas a visão do meu pescoço e o que ele poderia oferecer se mostrou ser muito poderoso. Uma expressão de rosto perpassou por seu rosto, e seus lábios ligeiramente se entreabriram, expondo os caninos que ela normalmente mantêm escondidos ao viver entre os humanos. Aquelas presas contrastavam estranhamente com o resto de suas feições. Com seu rosto bonito e seu cabelo loiro pálido, ela aparentava mais um anjo do que um vampiro. Enquanto seus dentes se aproximavam de minha pele nua, eu senti meu coração correr numa mistura de medo e antecipação. Eu sempre detestava sentir o segundo, mas não havia nada que eu pudesse fazer, era uma fraqueza da qual não poderia me livrar.

Seus caninos me morderam, fortemente, e eu gritei na breve explosão de dor. Então desapareceu, substituído por um maravilhoso e excelente prazer que se espalhou por meu corpo. Era melhor do que todas as vezes em que estive bêbada ou doidona. Melhor que sexo – ou eu imaginava que sim, já que eu nunca havia feito. Era um coberto do mais absoluto, puro prazer, que me envolvia e prometia que tudo ficaria bem no mundo. E assim foi, continuamente. As químicas em sua saliva provocaram uma alta de endorfina, e eu perdi a noção do mundo, perdi a noção de quem eu era. Então, infelizmente, tudo havia acabado. Durou menos de um minuto. Ela se afastou, limpando sua boca com a mão enquanto me examinava. “Você está bem?” “Eu…yeah.” Me deitei na cama, tonta pela perda de sangue. “Eu só preciso dormir. Estou bem.” Seus pálidos, olhos verde-jade me olhavam com interesse. Ela se levantou. “Vou pegar alguma coisa para você comer.” Meus protestos chegaram desastradamente até meus lábios, e ela havia saído antes que eu conseguisse reformular uma frase. A agitação de sua mordida tinha diminuído assim que ela cortou a conexão, mas ainda havia um pouco disso correndo em minhas veias, e eu senti um sorriso pateta surgir em meu rosto. Virando a minha cabeça, dei uma olhada em Oscar, ainda sentado na janela. “Você não sabe o que está perdendo,” disse a ele. Sua atenção estava voltada para o lado de fora. Pondo-se de cócoras num agachamento, ele inflou emsua pele de um preto forte e lustroso. Seu rabo começou a se agitar. Meu sorriso desapareceu, e me forcei a sentar.

O mundo girou, e eu esperei que ele se endireitasse antes de tentar levantar. Quando consegui isso, a vertigem voltou e dessa vez se recusou a ir embora. Mesmo assim, me senti bem o bastante para tropeçar até a janela e espiei com Oscar. Ele me olhou cuidadosamente, escapou um pouco para o outro lado, e então retornou para o que quer que tenha prendido sua atenção. Uma brisa morna – um morno fora de estação para a primavera de Portland – brincou com meu cabelo enquanto me inclinava para fora. A rua estava escura e relativamente quieta. Eram três da manhã, justamente o único horário que o campus da faculdade se aquieta, pelo menos um pouco. A casa na qual nós alugávamos um quarto pelos últimos oito meses ficava numa rua residencial comcasas velhas que não combinavam. Do outro lado da rua, a luz de um poste piscava, quase pronta para queimar. Ainda tinha luz o suficiente para que eu pudesse perceber as formas dos carros e prédios. No nosso velho quintal, eu podia ver as silhuetas das árvores e dos arbustos. E um homem olhando para mim. Eu me joguei para trás surpresa. A pessoa ficava ao lado de uma árvore no quintal, há cerca de nove metros de distância, onde ele podia facilmente ver pela janela. Ele estava perto o suficiente para que eu jogasse algo que pudesse acertá-lo. Certamente, ele estava perto o suficiente para ver o que Lissa e eu tínhamos acabado de fazer. As sombras o acobertavam tão bem que mesmo com a minha visão elevada, eu não podia distinguir nenhuma de suas feições, exceto por sua altura. Ele era alto. Realmente alto. Ele ficou ali por ummomento, mal perceptível, então andou para trás, desaparecendo nas sombras projetadas pelas árvores do lado mais distante do quintal. Eu tinha quase certeza de que vi alguém mais se mexer perto dali, se juntando a ele antes que a escuridão engolisse os dois. Quem quer que fossem, Oscar não gostava deles. Sem contar comigo, normalmente ele se dava comquase todo mundo, desenvolvendo um estranhamento somente quando alguém afirmava ser um perigo imediato. O indivíduo lá fora não havia feito nada que ameaçasse Oscar, mas o gato sentiu alguma coisa, alguma coisa que o colocava de sobreaviso. Alguma coisa similar ao que ele sente sobre mim.

Um medo congelante passou por mim, quase – mas não completamente – erradicando a agradável felicidade da mordida de Lissa. Recuando da janela, vesti um par de calças que encontrei no chão, quase caindo no processo. Uma vez que estava vestida, eu peguei o meu casaco e do de Lissa, junto com nossas carteiras. Enfiando meu pé nos primeiros sapatos que vi, me dirigi porta afora. No andar debaixo, encontrei ela na cozinha apertada, inspecionando a geladeira. Um de nossos companheiros de quarto, Jeremy, sentado à mesa, com a mão em sua testa enquanto olhava tristemente par o livro de cálculos. Lissa me observou com surpresa. “Você não devia estar de pé.” “Nós temos que ir. Agora.” Seus olhos se arregalaram, e então um momento depois, a compreensão bateu. “Você está ….falando sério? Você tem certeza?” Eu acenei com a cabeça. Eu não podia explicar como eu tinha certeza. Eu simplesmente tinha. Jeremy nos olhava curioso. “Qual é o problema?” Uma idéia me veio à cabeça. “Liss, pegue as chaves do carro dele.” Ele olhou de um lado para o outro entre nós. “O que vocês – “ Lissa andou até ele sem hesitação. Seu fluiu até mim através de nossa ligação mental, mas havia outra coisa também: a total confiança dela de que eu tomaria conta de tudo, de que nós estaríamos seguras. Como sempre, eu esperava que eu fosse digna desse tipo de confiança. Ela sorriu amplamente e olhou diretamente nos olhos dele. Por um segundo, Jeremy simplesmente encarou, ainda confuso, então vi o servo aprisioná-lo. Seus olhos se vidraram, e ele a estimou veneravelmente.

“Nós precisamos pegar seu carro emprestado,” ela disse com uma voz gentil. “Onde estão as suas chaves?” Ele sorriu, e eu tremi. Eu tinha uma alta resistência à coerçãoimposição, mas eu ainda podia sentir seus efeitos disso quando era direcionado para outra pessoa. Isso, e eu havia sido ensinada minha vida inteira que usar isso era errado. Alcançando seu bolso, Jeremy entregou uma série de chaves pendurados num grande chaveiro vermelho. “Obrigada,” Lissa disse. “E onde está estacionado?” “No fim da rua,” ele disse sonhadoramente. “Na esquina. Perto da Brown.” Quatro quarteirões de distância. “Obrigada,” ela disse novamente, recuando. “Assim que nós sairmos, eu quero que você volte a estudar. Esqueça que nos viu hoje à noite.” Ele acenou condescendentemente. Eu tive a impressão de que ele saltaria de um penhasco por ela assim que ela pedisse. Todos os humanos era suscetíveis à coerção, mas Jeremy pareceu ser mais fraco que a maioria. Isso foi conveniente agora. “Vamos,” eu falei para ela. “A gente tem que se mexer.” Nós andamos para fora, nos direcionando para a esquina que ele havia mencionado. Eu ainda estava tonta da mordida e continuava tropeçando, incapaz de me movimentar tão rápido quanto queria. Lissa teve que me segurar algumas vezes para impedir que eu caísse. A todo momento, aquela ansiedade vinha até mim pela sua mente. Eu tentei o meu melhor para ignorá-la, eu tinha meus próprios para lidar. “Rose… o que nós vamos fazer se eles nos pegarem?” ela sussurrou.

“Eles não vão,” disse ferozmente. “Não vou permitir isso.” “Mas se eles nos encontraram – “ “Eles já nos encontraram antes. E mesmo assim eles não nos pegaram. Nós, simplesmente, dirigiremos até a estação de trem e iremos até L.A. Eles vão perder o rastro.” Eu fiz com que soasse simples. Eu sempre fazia isso, apesar de não ser nada simples fugir das pessoas com quem nós crescemos juntos. Nós estávamos fazendo isso por dois anos, nos escondendo em qualquer lugar que podíamos e simplesmente tentar terminar o colegial. Nosso último ano tinha acabado de começar, e morar num campus de faculdade parecia seguro. Nós estávamos tão perto da liberdade. Ela não disse mais nada, e eu senti a sua fé em mim dar um impulso mais uma vez. Esse era o modo que sempre foi entre nós. Eu era aquela que agia, que fazia com que as coisas acontecessem – apesar de algumas vezes de forma imprudente. Ela era mais a parte mais racional, aquela que pensava nas coisas e as pesquisava extensivamente antes de agir. Ambos os estilos tinham suas utilidades, mas no momento, a imprudência era exigida. Nós não tínhamos tempo para hesitar. Lissa e eu éramos amigas desde o jardim da infância, quando nossa professora nos colocou emduplas para os exercícios de escrita. Forçar uma criança de cinco anos a soletrar Valisia Dragomir e Rosemarie Hathaway era mais do que cruel, e nós teríamos – ou melhor, eu teria – respondido apropriadamente. Eu atirei meu livro na professora e a chamei de fascista bastarda. Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas eu sabia como acertar um alvo em movimento. Lissa e eu tínhamos sido inseparáveis desde então. “Você escutou isso?” ela perguntou repentinamente. Demorou alguns segundos para que eu escutar o que seus sentidos afiados já haviam pressentido.

Passos, se movendo rapidamente. Eu fiz uma careta. Nós ainda tínhamos mais dois quarteirões para atravessar. “Nós temos que correr,” eu disse, segurando o seu braço. “Mas você não pode – “ “Corre.” Eu usei cada grama da minha força de vontade para não desmaiar na calçada. Meu corpo não queria correr depois de perder sangue ou enquanto ainda estivesse metabolizando os efeitos da saliva dela. Mas eu mandei meus músculos pararem de reclamar e me agarrei em Lisa enquanto nossos pés golpeavam o concreto. Normalmente eu a teria ultrapassado sem nenhum esforço extra – especialmente porque ela estava descalça – mas hoje à noite, ela era tudo que me mantinha ereta. Os passos perseguidores ficaram mais altos, mais perto. Estrelas negras dançavam perante meus olhos. Na nossa frente, pude distinguir o Honda verde de Jeremy. Oh Deus, se pudéssemos simplesmente alcançá-lo – Há três metros do carro, um homem pisou exatamente no nosso caminho. Nós demos uma parada brusca, e eu joguei Lissa para trás pelo seu braço. Era ele, o cara que vi do outro lado da rua me observando. Ele era mais velho que nós, talvez vinte e poucos, e tão alto quanto havia imaginado, talvez 1,95cm ou 2,00cm. E sob circunstâncias diferentes – digamos, se ele não estivesse retardando nossa fuga perigosa – eu diria que o achava gostoso. Cabelo castanho na altura dos ombros, amarrado para trás num curto rabo de cavalo. Olhos castanho escuro. Um longo casaco marrom – um sobretudo, creio que era o nome. Mas a sua gostosura era irrelevante agora. Ele era somente um obstáculo mantendo Lissa e a mimlonge do carro e de nossa liberdade. Os passos atrás de nós diminuiu, e eu sabia que o nosso perseguidor havia nos alcançado. Nos lados, eu detectei mais movimento, mais pessoas se aproximando. Deus.

Eles haviam mandando quase uma dúzia de guardiões para nos reaverem. A própria rainha não viaja com tantos. Apavorada e não inteiramente no controle de meu raciocínio mais elevado, eu agi por instinto. Eu imprensei Lissa, mantendo-a atrás de mim e longe do homem que aparentava ser o líder. “Deixe ela em paz,” eu rosnei. “Não toque nela.” Seu rosto era ilegível, mas ele levantou suas mãos no que aparentou ser algum tipo de gesto para que eu me acalmasse, como se eu fosse algum tipo de animal raivoso que ele estava planejando sedar. “Eu não vou – “ Ele deu um passo para frente. Perto demais. Eu o ataquei, saltando numa manobra ofensiva na qual não usava há dois anos, não usava desde que Lissa e eu tínhamos fugido. A manobra era estúpida, outra reação nascida do instinto e do medo. E era inútil. Ele era um guardião habilidoso, não um novato que ainda não tinha terminado seu treinamento. Ele também não era fraco e não estava a ponto de desmaiar. E, cara, ele era rápido. Eu havia esquecido o quão rápido os guardiões podem ser, como eles podiam se mexer e atacar como cobras. Ele me nocauteou como se estivesse espantando uma mosca, e suas mãos me golpearam e me mandaram para trás. Eu não acho que ele teve a intenção de bater tão forte – provavelmente só almejou me manter longe – mas minha falta de coordenação interferiu na minha capacidade de reagir. Incapaz de me manter de pé, eu comecei a cair, me dirigindo diretamente para a calçada num ângulo torto, com o quadril na frente. Isso ia doer. Muito. Só que não doeu. Simplesmente, tão rápido quanto ele havia me bloqueado, o homem se esticou e pegou meu braço, me colocando de pé. Quando eu me firmei, notei que ele estava olhando para mim – ou, mais precisamente, para o meu pescoço. Ainda desorientada, eu não percebi de imediato.

Então, lentamente, minha mão livre alcançou o lado da minha garganta e tocou levemente na ferida que Lissa havia feito mais cedo. Quando puxei meus dedos de volta, eu vi o escorregadio, sangue preto na minha pele. Embaraçada, eu agitei meu cabelo para que ele caísse ao redor do meu rosto. Meu cabelo era longo e cheio e cobriu meu pescoço completamente. Eu o deixei crescer precisamente por esse motivo. Os olhos escuros do cara continuaram na marca, agora coberta, por mais um instante e então encontrou meus olhos. Eu devolvi seu olhar audaciosamente e me puxei rapidamente de sua mão no meu braço. Ele me soltou, apesar de perceber que ele poderia me segurar a noite toda se ele quisesse. Lutando contra a vertigem nauseante, voltei para onde Lissa estava de novo, me preparando para outro ataque. De repente, sua mãos segurou a minha. “Rose,” ela disse serenamente. “Não.” Suas palavras não tiveram nenhum efeito sobre mim no início, mas, gradualmente, pensamentos tranqüilizantes começaram a se instalar na minha mente, vindos através de nossa ligação. Não era exatamente coerção – ela não usaria isso em mim – mas era eficaz como era o fato de que nós estávamos irremediavelmente em menor número e superadas. Até eu sabia que lutar seria inútil. Eu senti a tensão deixando meu corpo, e eu sucumbi à derrota. Sentindo minha resignação, o homem andou para frente, voltando sua atenção para Lissa. O rosto dele era calmo. Ele fez uma reverência e conseguiu ser gracioso ao fazer isso, o que me surpreendeu considerando a sua altura. “Meu nome é Dimitri Belikov,” ele disse. Eu consegui sentir um leve sotaque russo. “Eu vim para leva-la de volta à Academia St. Vladimir, Princesa.” DOIS NÃO OBSTANTE MEU ÓDIO, EU TINHA que admitir que Dimitri Beli-sei-lá-o-quê era bastante inteligente. Depois deles terem nos despachado para o aeroporto e para o jato particular da Academia, ele deu uma olhada em nós duas cochichando e mandou nos separar.

“Não deixem que elas falem uma com a outra,” ele advertiu ao guardião que me escoltava até o fundo do avião. “Cinco minutos juntas, e elas vão armar um plano de fuga.” Eu lhe lancei um olhar arrogante e saí esbravejando pelo corredor. Não importava o fato de que nós estávamos planejando uma fuga. Como era de praxe, as coisas não estavam boas para nossos heróis – ou heroínas, no caso. Uma vez que estávamos no ar, nossas chances para escapar caíram ainda mais. Mesmo supondo que um milagre acontecesse e eu conseguisse nocautear todos os dez guardiões, nós ainda teríamos o problema de como sair do avião. Eu imaginei que eles tivessem pára-quedas a bordo, mas na improvável hipótese de usar um, ainda havia a pequena questão da sobrevivência, vendo que nós provavelmente aterrissaríamos nas Montanhas Rocky. Não, nós não sairíamos do avião até que ele estivesse pousado nos arredores de Montana. Então, eu teria que pensar em alguma coisa, alguma coisa que envolvia passar pelas vigilâncias mágicas da Academia e dez vezes mais o número de guardiões. Yeah. Sem problema. Embora Lissa se sentasse na parte da frente com o cara Russo, seu medo uivava de volta para mim, martelando dentro de minha cabeça como um martelo. Minha preocupação por ela interferiu na minha fúria. Eles não podiam levá-la de volta para lá, não aquele lugar. Me perguntei se Dimitri hesitaria se ele sentisse o que eu senti e se ele soubesse o que eu sabia. Provavelmente não. Ele não se importava. Suas emoções tornaram-se tão fortes em certo momento, que eu tive a desnorteante sensação de estar sentada em seu lugar – em sua pele. Isso acontecia algumas vezes, e sem nenhum aviso, ela me puxava diretamente para a sua mente. A alta compleição de Dimitri sentava ao seu lado, e minha mão – a mão dela – agarrou uma garrafa d’água. Ele se inclinou para frente para pegar alguma coisa, revelando seis pequenos símbolos tatuados em sua nuca: marcas molnija* . Pareciam-se com dois raios de linhas irregulares se cruzando num símbolo em “X”. Um para cada Strigoi que ele havia matado. Acima deles havia uma linha serpenteante, mais ou menos como uma cobra, que o marcava como um guardião.

A marca da promessa. Piscando, lutei contra ela e me desloquei de volta para a minha própria mente com uma careta. Eu detestava quando isso acontecia. Sentir as emoções de Lissa era uma coisa, mas deslizar para dentro dela era algo que nós duas desprezávamos. Ela via isso como uma invasão de privacidade, então eu normalmente não a contava quando isso acontecia. Nenhuma de nós podia controlar isso. Era outro efeito da ligação, uma ligação que nenhuma das duas entendia inteiramente. Existiam lendas sobre as ligações psíquicas entre os guardiões e seu Moroi, mas nenhuma das histórias mencionava algo como isso. Nós lidávamos com isso do melhor jeito possível. Perto do fim do vôo, Dimitri veio até onde eu estava sentada e trocou de lugar com o guardião ao meu lado. Eu, explicitamente, me afastei, olhando para a janela distraidamente. Passamos muito tempo em silêncio. Finalmente, ele disse, “Você realmente ia atacar todos nós?” Eu não respondi. “Fazendo isso… protegendo ela desse jeito – foi muito corajoso.” Ele pausou. “Estúpido, mas muito corajoso. Por que você ao menos tentou?” Olhei ele de relance, tirando o meu cabelo do rosto para que eu pudesse olhar em seus olhos de igual para igual. “Porque eu sou a sua guardiã.” Me virei de volta para a janela. Depois de mais um momento em silêncio, ele se levantou e retornou para a parte da frente do jato. Quando pousamos, Lissa e eu não tivemos outra opção a não ser deixar os comandos* nos levarematé a Academia. Nosso carro parou no portão e o nosso motorista com os guardas que verificaram se nós não éramos Strigoi prestes a começar uma matança por diversão. Depois de um minuto, eles nos deixaram passar vigilância e entrar na Academia propriamente dita. Era por volta do horário do pôr do sol – o começo do dia vampírico – e o campus estava envolvido por sombras. Provavelmente se parecia como sempre, disperso e gótico.

Os Moroi eram fiéis às tradições; nada nunca mudava com eles. Essa escola não era tão velha quanto a de lá da Europa, mas foi construída no mesmo estilo. Os prédios ostentamente elaborados, parecido com a arquitetura de igreja, compicos elevados e esculturas de pedra. Portões forjados de ferro bloqueiam pequenos jardins e entradas aqui e ali. Depois de morar num campus universitário, eu tive uma nova apreciação pelo fato desse lugar se parecer mais com uma universidade do que um simples colégio. Nós estávamos no campus secundário, que era dividida em colégio inferior e superior. Cada um foi construído ao redor de um pátio aberto decorado com alguns caminhos de pedra e enormes árvores centenárias. Nós estávamos indo para o pátio do superior, no qual havia prédios acadêmicos de um lado, enquanto os dormitórios dos dhampirs e o ginásio ficavam do lado oposto. Os dormitórios dos Moroi ficavam numa das outras extremidades, e defronte deles haviam os prédios administrativos que também serviam à escola inferior. Estudantes mais novos viviam no campus primário, mais distante ao oeste. Ao redor de todos os campus havia espaço, espaço, e mais espaço. Nós estávamos em Montana, afinal de contas, a quilômetros de distância de uma cidade de verdade. O ar parecia fresco para meus pulmões e cheirava a pinheiro e a umidade, folhas caindo. Florestas, por demais crescidas, rodeavamtodo o perímetro da Academia, e durante o dia, você podia ver as montanhas elevando-se no horizonte. Enquanto nós entrávamos na parte principal do colégio superior, eu me livrei do meu guardião e corri até Dimitri. “Hey, camarada.” Ele continuou a andar e não me olhou. “Você quer conversar agora?” “Você está nos levando para a Kirova?” “Diretora Kirova,” ele corrigiu. Do seu outro lado, Lissa me mandou um olhar que dizia, Não arranje encrenca. “Diretora. O que seja. Ela ainda é uma velha hipócrita de uma figa – “ Minhas palavras morreramquando os guardiões nos guiaram através de umas portas duplas – direto para a área comum. Eu suspirei. Essas pessoas eram realmente tão cruéis? Deviam existir, no mínimo, uma dúzia de caminhos para o escritório de Kirova, e eles estavam nos levando diretamente para o centro da área comum. E era o horário do café da manhã.

Guardiões novatos – dhampirs como eu – e Moroi sentavam juntos, comendo e socializando, rostos ligados em qualquer fofoca nova que prendessem a atenção da Academia. Quando entramos, o cochicho alto das conversas cessaram instantaneamente, como se alguém tivesse desligado o interruptor. Centenas de pares de olhos giraram em nossa direção. Eu devolvi os olhares de meus antigos colegas de classe com um sorriso amargo malandro, tentando perceber se as coisas haviam mudado. Não. Não parecia. Camille Conta ainda aparentava ser a cadela hipócrita perfeitinha que eu lembrava, ainda a autodenominada líder da associação real Moroi da Academia. Por outro lado, a prima desajeitada de Lissa, Natalie prestava a atenção com os olhos arregalados, tão inocentes e ingênuos quanto antes. E do outro lado do aposento… bem, isso era interessante. Aaron. Coitadinho, coitadinho do Aaron, que sem dúvida teve seu coração partido quando Lissa foi embora. Ele ainda era tão bonito como nunca – talvez mais agora – sempre com aquela aparência dourada que complementava tão com a dela. Seus olhos seguiram cada movimento dela. Sim. Definitivamente ainda não a havia superado. Era triste, de verdade, porque Lissa nunca foi realmente afim dele. Eu acho que ela saiu com ele simplesmente porque pareceu ser a coisa certa a fazer. Mas o que eu achei mais interessante foi que Aaron aparentemente arranjou um modo de passar o tempo sem ela. Do lado dele, segurando sua mão, estava uma garota Moroi que parecia ter uns onze anos, mas devia ser mais velha, a não ser que ele tenha se tornado um pedófilo na nossa ausência. Com pequenas bochechas gordinhas e cachinhos dourados, ela parecia uma boneca de porcelana. Ela agarrou forte a mão dele e lançou a Lissa um olhar ódio tão ardente que isso me chocou. O que diabos era tudo isso? Ela não era ninguém que eu conhecesse. Só uma namorada ciumenta, eu supus. Eu também ficaria pirada se o meu cara olhasse para outra assim. Nossa passarela da vergonha havia terminado, apesar do nosso novo rumo – o escritório da Diretora Kirova – não dar uma melhorada na situação.

A bruxa velha estava exatamente do mesmo jeito que eu lembrava, nariz pontudo e cabelo grisalho. Ela era alta e magra, como a maioria dos Moroi, e sempre me lembrava um abutre. Eu a conhecia bem porque passei muito tempo em seu escritório. A maioria de nossa escolta nos deixou assim que Lissa e eu nos sentamos, e eu me senti um pouco menos como uma prisioneira. Somente Alberta, a capitã dos guardiões da escola, e Dimitri ficaram. Eles tomaram suas posições ao longo da parede, aparentando estóicos e aterrorizantes, do modo como as descrições do cargo exigia. Kirova fixou seus olhos furiosos em nós e abriu sua boca para começar, ao que eu não tenho dúvida, o maior sermão de todos os tempos. Uma profunda voz delicada a interrompeu. “Valisia.” Alarmada, percebi que havia mais alguém na sala. Não havia notado. Negligente para um guardião, mesmo para um novato. Com um grande esforço, Victor Dashkov levantou-se de uma cadeira no canto. Príncipe Victor Dashkov. Lissa levantou-se num salto e correu para ele, jogando seus braços ao redor do frágil corpo dele. “Titio,” ela sussurrou. Ela soou como se estivesse à beira das lágrimas enquanto ela apertava seu abraço. Com um pequeno sorriso, ele gentilmente deu tapinhas nas costas dela. “Você não tem idéia de como estou feliz por vê-la a salvo, Valisia.” Ele olhou para mim. “E você também, Rose.” Eu acenei de volta, tentando esconder o quanto estava chocada. Ele estava doente quando fomos embora, mas isso – isso era horrível. Ele era o pai de Natalie, somente uns quarenta e pouco, mas ele aparentava o dobro da idade. Pálido.

Encolhido. Com as mãos tremendo. Meu coração se partiu olhando para ele. Com todas as pessoas más no mundo, não era justo que essa pessoa pegasse uma doença que o mataria jovem e, em última analise, o impediria de se tornar rei. Apesar de não ser tecnicamente seu tio – os Moroi usam termos familiares de forma muito imprecisa, especialmente a realeza – Victor era um amigo íntimo da família de Lissa e havia feito de tudo para ajudá-la depois que seus pais morreram. Eu gostava dele; era a primeira pessoa que eu estava feliz em ver aqui. Kirova deixou que eles tivessem mais alguns minutos e então, rigidamente, puxou Lissa de volta para seu lugar. Hora do sermão. Foi um dos bons – um dos melhores de Kirova, o que já dizia algo. Ela era uma mestre nisso. Eu juro que deve ter sido a única razão para ela ter ido para a administração do colégio, porque eu ainda tinha que ver outra evidência dela realmente gostar de crianças. O discurso abrangeu os assuntos usuais: comportamento de responsabilidade negligente, egocentrismo…blá, blá. Eu rapidamente me encontrei divagando, ponderando as logísticas de escapar pela janela do escritório. Mas quando o discurso se voltou para mim – bem, foi aí que voltei à realidade.

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