Adele trabalhava aos domingos no café de sua tia em Haringey, norte de Londres. Enquanto a adolescente atendia os clientes nas mesas, o rádio anunciava a parada de sucessos. Ela tentava imaginar como seria ter a própria música entre as mais tocadas. Aos 22 anos, ela figuraria no topo das paradas do mundo todo. Sua influência é imensa: foi nomeada a pessoa mais poderosa da música quando apareceu emprimeiro lugar na lista Music Power 100, do The Guardian. Para se ter uma ideia, o poderoso Simon Cowell levou o terceiro lugar. Adele tem vendido milhões de álbuns no mundo todo, ganhou diversos prêmios, incluindo muitos Grammy e um Brit, e, assim, merecidamente foi coroada rainha da indústria da música – e tudo apenas três anos depois de lançar seu primeiro single. Ao longo desse tempo, acumulou uma fortuna de cerca de seis milhões de libras. São a autenticidade e a sinceridade de seu trabalho que atraem: não há artifícios, apenas muita alma. Com letras totalmente autobiográficas que de modo simples, porém forte e às vezes doloroso, contam sobre suas decepções amorosas, ela tocou os fãs de música. Como fã, Adele afirma não gostar de letras preguiçosas. “Veja, eu odeio, na verdade me sinto ofendida, com letras literais e fáceis que simplesmente são escritas porque rimam, sem serem pensadas”, ela disse. Apesar de seus padrões elevados valerem a pena, eles têm um preço emocional. Lembre-se, por um momento, do modo com que canções como “Someone Like You” fazem você se sentir; causam arrepios, fazem você sentir afinidade, deixam os olhos marejados e os lábios trêmulos. Agora tente imaginar como é emocionalmente desgastante cantar essas músicas, noite após noite, numa turnê. “É muito difícil”, Adele conta. Ela desenvolveu mecanismos para lidar com as emoções, incluindo pensar em coisas simples enquanto canta – a loja de móveis Ikea é um dos pensamentos que distraem. O desafio de apresentar ao vivo esses materiais é compensado pelas recompensas. “Qualquer coisa que eu considere difícil se transforma quando vejo como as pessoas reagem à minha música. Adoro quando uma esposa arrasta o marido a um show e ele fica ali, parado como uma estátua. Você passa a noite toda tentando encantá-lo e, no fim do show, ele está beijando a esposa. É maravilhoso.” Adele tem uma personalidade maravilhosa: existe um grande contraste entre a artista e a mulher. Apesar da grande tristeza de sua música, ela permanece surpreendentemente feliz e satisfeita com sua vida pessoal. Seu riso alto e marcante é um traço interessante e constante de sua comunicação simpática e eloquente.
Longe de ser uma pessoa melancólica e deprimida, as pessoas que a conhecemcostumam dizer que ela ri mais do que ninguém. Por isso é uma personalidade atraente. Quando ela cumpriu a difícil e por vezes desgastante agenda de programas de rádio e televisão norte-americanos, pelos quais qualquer artista estrangeiro precisa passar para “entrar nos Estados Unidos”, agradou tanto os grandões da indústria que, além de quererem promover sua música – “uma decisão óbvia para nós”, segundo um deles –, eles também queriam sair para beber e se tornar amigos dela. Sua posição em relação a tudo, desde a fama até a vida amorosa, é sempre inesperada. Certa vez, ela se lembrou de quando um fã enviou, pelo correio, um crispy tissue, uma massa fina e salgada de farinha, que pode ser recheada. “Ah, você mandou um crispy tissue pra mim? Ei, vamos nos casar e ter filhos!.” A sinceridade dela já é famosa. Quando perguntaram quando a inspiração costuma vir para escrever uma música nova, ela disse que costuma acontecer quando se levanta da cama para fazer xixi de manhã. Também perguntaram a ela o que faria se um parceiro a chamasse de gorda. “Eu o mataria”, foi a resposta. Descobriu que havia ganhado um Grammy quando voltava do banheiro. Não tinha sequer fechado o cinto. As plateias costumam se divertir com o bom humor que ela demonstra no palco, incluindo as piadas maliciosas. “Como se chama uma loira de cabeça para baixo?”, ela perguntou, certa vez. “Uma morena com mau hálito.” Excesso de informação? Sempre tem mais. Explicando por que não utiliza a rede social de microblog Twitter, na qual muitas estrelas da música são viciadas, ela respondeu: “Não quero escrever ‘Ah, estou no banheiro… o jantar de ontem estava apimentado demais’. Isso é nojento”. Apesar de ser confiante e direta, também é humilde e centrada. Não aceita a descrição de “cantora”. “Sempre digo que sou uma moça que canta e não uma cantora. Cantora é uma palavra muito grande para mim. Minha interpretação de cantora para mim é Etta James, Carole King e Aretha Franklin.” Quando perguntaram o que ela teria feito se não tivesse se dedicado à música, ela disse: “Se eu não cantasse, seria uma faxineira; adoro limpar”. As canções de Adele documentam os dramas reais e as decepções pelas quais passou: seus dois discos falam sobre rompimentos dolorosos, e ela disse que as músicas do segundo álbum, 21, nasceram como “reclamações do diário de uma embriagada”.
São reclamações que passaram a ser a trilha sonora de nossa época, o que a surpreendeu. Adele pensou que fosse a única pessoa a lidar com problemas assim. Quando começou a cantar para o mundo a respeito de suas emoções, descobriu que milhões de pessoas compartilhavam dos mesmos sentimentos. Quando percebeu que suas músicas deixavam milhões de pessoas se sentindo menos desoladas, ficou feliz pelo feito. “Parece que minha missão está cumprida”, ela disse. E muito bem cumprida. Seu segundo álbum vendeu mais de três milhões de cópias e virou disco de platina dez vezes. Ela é a primeira artista, em quase 50 anos, a ocupar as cinco primeiras posições das paradas de sucesso com dois singles e discos ao mesmo tempo. Chegou ao topo das paradas em18 países, até agora. A menina londrina faz muito sucesso nos Estados Unidos, onde tem um álbum campeão de vendas, onde já se apresentou em programas importantes, como Saturday Night Live, e recebeu dois prêmios Grammy em 2009. As vendas decolaram, mas ela continuou com os pés no chão. Por exemplo, nos bastidores do programa de Nova York, The Late Show with David Letterman, alguém disse que seu camarim era meio pequeno. Adele não aceitou aquilo. “Não se deve reclamar por causa de um camarim”, ela disse, e quando voltou a Londres, só queria ir ao parque com suas amigas de longa data, para conversar e beber cidra. Como veremos, ela fica total e fisicamente nervosa antes das apresentações ao vivo. Quando está no palco com o microfone na mão, a ansiedade desaparece. “Eu me sinto mais à vontade em uma apresentação do que andando pela rua. Adoro entreter as pessoas. É uma coisa incrível que as pessoas gastem seu dinheiro suado, independentemente da quantia, para passar uma hora de seu dia me assistindo. Sei que a responsabilidade é gigantesca.” Em suas apresentações ao vivo, existe pouco limite emocional entre Adele e seus fãs. Você deve amá-la por saber que, apesar de todo o sucesso e fama, ela é alguém como você. Conheça sua incrível história. BABY BLUE CAPÍTULO UM “As pessoas acham que saí da barriga da minha mãe cantando ‘Chasing Pavements’”, reclama Adele. É preciso ter cuidado ao falar de seus primeiros anos de vida.
Por exemplo, não tente dizer que ela “nasceu para cantar”. Ela não suporta esse tipo de conversa. “Até parece, ninguém nasce para cantar”, costuma falar. Adele Laurie Blue Adkins chorou, e não cantou, quando nasceu, em 5 de maio de 1988, em Londres. A trilha sonora daquele ano incluía Bros perguntando “quando seriam famosos”, Rick Astley prometendo “nunca desistir de você” e Michael Jackson começando com “o homem no espelho”. 1 Em outros lugares, as pessoas dançavam em porões ao som de acid house, e, no estádio de Wembley, dezenas de milhares de pessoas reivindicavam a liberdade de Nelson Mandela. Nos próximos anos, quando futuras celebridades forem descritas, os sucessos mundiais de Adele serão usados como referência cultural da época. As pessoas sentirão orgulho por terem nascido quando canções como “Someone Like You” eram tocadas nas rádios. A mãe de Adele, Penny Adkins, tinha 18 anos quando deu à luz a filha, ou “18 e meio”, como Adele coloca, de modo mais preciso. Adele foi a primeira – e até agora – única filha de Penny. Pouco tempo antes de se tornar mãe, Penny foi incentivada a sair de casa pelos próprios pais, que acreditavam piamente que os filhos se beneficiariam se aprendessem a se virar sozinhos, da maneira mais difícil. “Foi o que fizemos com todos os nossos filhos”, afirma a mãe de Penny, Doreen. “Eles precisavam aprender a viver.” Essa foi uma regra que Doreen aplicou para todos os seus filhos e tem visto os resultados. “Todos os meus filhos trabalham. A família toda tem emprego. Foi preciso colocá-los no mundo, e ninguém foi prejudicado por isso.” Esse senso de independência, força e ambição também foi transmitido a Adele por Penny. Doreen revela que não ficou chocada quando Penny confessou a ela que estava grávida. O pai de Adele, Mark Evans, e Penny se separaram quando Adele tinha apenas três anos. Assim, Adele diz que Evans “nunca esteve presente”. O envolvimento dele na vida da filha é um assunto controverso. Ela descreve o pai como um “galês forte que trabalha nos portos e tal”. Ela não se ressente da falta de relacionamento com ele. “Tudo bem, não tenho a sensação de que há algo faltando”, declara.
“Algumas pessoas fazem um drama por terem sido criadas por apenas um dos pais, mas eu conheço muitas outras que cresceram sem nenhum dos dois por perto.” Penny, na época uma estudante de arte, conheceu Evans em um pub ao norte de Londres, em 1987. Para Evans, foi “amor à primeira vista”. Logo eles começaram a namorar e, poucos meses depois, Penny engravidou de Adele. Evans diz que a gravidez não foi planejada. Ambos estavam determinados, naquele momento, a melhorar sua situação de vida. Na ocasião, ele pediu a namorada em casamento. “Sabia que queria passar o resto da vida com Penny, por isso a pedi em casamento”, afirma. “Ela recusou, dizendo que éramos jovens demais para nos casarmos.” Apesar de ter se separado de Penny no início da vida de Adele, Evans alega ter certa influência no gosto musical da filha. “Eu passava as noites deitado no sofá, com Adele em meus braços, ouvindo as minhas músicas favoritas: Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Bob Dylan e Nina Simone. Eu colocava aqueles discos para tocar todas as noites. Tenho certeza de que isso moldou o gosto musical de Adele.” Evans acredita que seu amor pelo blues também influenciou, em parte, a escolha do nome da menina. “A música que eu adorava – e que adoro até hoje – foi o que me deu a ideia para o segundo nome dela, Blue. Sempre penso em Adele como Blue.” Houve momentos de afeto entre pai e filha. Uma foto de infância mostra Evans orgulhoso, carregando a filha, que vestia um macacão e botas vermelhas. Ela parece fascinada pela câmera. Hoje em dia, o fascínio é ainda mais forte… mas na direção oposta. Quando Evans terminou o relacionamento com Penny, voltou para o País de Gales. Lá, se envolveu nos negócios da família, ajudando o pai, John, que comprara uma cafeteria em Barry Island. É o mesmo local que aparece no famoso programa de comédia da BBC, Gavin & Stacey. “Eu lembro que ela foi passar o verão comigo, depois de seu quarto aniversário, e levou o pequeno violão que adquirira em uma instituição de caridade. Disse que estava aprendendo a tocar sozinha, ouvindo as músicas de blues que escutávamos em minha vitrola, e tentava tirar o som.
” Sempre que encontrava Adele, Evans percebia que sua habilidade musical havia melhorado muito. “Poucos anos depois, ela começou a cantar enquanto tocava, e eu me lembro de ter pensado ‘Meu Deus, Adele tem talento. Será uma grande estrela um dia’.” Um amigo dele, que era produtor musical, também elogiou as habilidades vocais da menina quando a ouviu cantar. Sentiu que sua voz tinha beleza e força. Incentivou-a a gravar-se cantando “Heart of Glass”, do Blondie. Além das habilidades musicais, Adele praticava as líricas: começou a escrever poesia quando ainda era pequena. A família de Evans ficou chocada ao saber da gravidez. Mas prometeram ajudar a cuidar da criança, apesar da separação. Penny e Adele frequentemente passavam fins de semana na casa da família, em Penarth, perto de Cardiff. Às vezes, segundo Evans, eles faziam caravanas pela costa galesa durante as férias de verão de Adele. Seu avô paterno, em especial, fez um grande esforço para ajudar a criar a menina. “Ele gostava muito da minha mãe e, como meu pai não estava mais na vida dela, eles a adotaram totalmente”, Adele relembra com carinho. “Acho que meu pai foi o maior modelo de conduta para Adele”, afirma Evans. O sentimento era mútuo. John idolatrava Adele, sua primeira neta. “Eles passavam muito tempo juntos, só os dois. Adele passava grande parte do verão com meus pais, e, na maior parte do tempo, meu pai brincava e conversava com ela, mostrava os lugares a ela.” Com isso, Adele praticamente cultuava o avô. “Eu o pintava como um Deus em minha vida”, diz. É interessante notar que Amy Winehouse – que frequentou a mesma escola que Adele e foi uma enorme influência em sua música – também era muito próxima de um dos avós. No caso, era a sua avó Cynthia, cuja morte foi um fator importante na decadência de Winehouse, a partir de 2006, segundo afirmam. Adele faz questão de relembrar os sacrifícios que Penny fez por ela. “Ela engravidou de mimquando deveria estar entrando na faculdade, mas escolheu me assumir. Ela nunca jogou isso na minha cara.
Mas eu procuro me lembrar sempre.” Sua mãe tem um lado criativo que Adele descreve como “meio artístico”. Ela realiza diferentes projetos em diversas áreas, inclusive de arte, pois cria móveis, organiza atividades para adultos com necessidades especiais e também é massagista. Adele e a mãe sempre foram muito próximas.“Unha e carne”, segundo Adele. “Ela é o amor da minha vida.” Uma das coisas que aproximaram Adele da mãe foi o fato de Penny ter uma ótima perspectiva de vida. Adele descreve a mãe como o tipo de pessoa que tem grande influência na vida dos filhos que se tornambem-sucedidos ainda jovens. “Ela não se preocupa com coisas pequenas. Nunca se mostra desapontada, mesmo quando eu sei que deve estar. Você sabe como os pais são: ‘Não estou brava, estou desapontada’. Assim, de repente. Ela não é assim. É honesta, sincera e me dá muito apoio.” Adele cresceu tendo o novo parceiro de Penny como padrasto, e logo se aproximou dele. Também tem um meio-irmão chamado Cameron. Os meios-irmãos se uniram como se fossem irmãos por parte de pai e mãe. “Ele parece meu irmão gêmeo. Somos idênticos, temos o mesmo cabelo e tudo”, segundo Adele. Até hoje, eles encontram afinidades. “É esquisito porque vivemos em cidades diferentes, mas, quando nos encontramos, é como se não tivéssemos passado nem um dia de nossas vidas separados”, explica. “De cara eu já começo a perturbá-lo, e de cara ele começa a me xingar. É incrível, imediato. Ele é adorável. Muito tímido, e essa é a única diferença.
” Apesar da ausência do pai, Adele nunca se sentiu sozinha, em parte porque a mãe tem uma família grande. “Há 33 parentes do lado da família da minha mãe.” De fato, ela é uma dos 14 netos de quem sua avó materna se orgulha. Muitos desses parentes são do sexo masculino, por isso ela nunca sentiu falta de figuras paternas não oficiais. “Somos todos muito bagunceiros.” Esse traço fica aparente com frequência em suas entrevistas e em seus discursos no palco, entre uma música e outra. Sempre gostou de visitar os primos, e muitos deles moravam perto. Na companhia deles, ela conseguia ter a sensação de fazer parte de uma família grande, com todas as alegrias, tribulações e outras situações envolvidas. Então, quando voltava para casa, retomava o prazer de ser – de fato – filha única. Era uma situação estranhamente agradável para ela. “Eu ficava com eles, sempre brigando e detestando compartilhar as coisas, e então voltava para casa, onde tinha o meu quarto arrumadinho, brinquedos inteiros e ninguém querendo pegar a minha Barbie”, comenta. “Era como ter a melhor parte de dois mundos.” Certamente ela se sentia à vontade como filha única. Em qualquer situação, ela se dava por satisfeita quando podia assumir o controle do processo. “Quando estava construindo um castelo de Lego, eu o fazia sozinha.” Ela tem essa mesma vontade de controlar atualmente, quando escreve letras. Analisando sua vida até hoje, ela às vezes se questiona se sua condição de filha única contribuiu para sua capacidade de escrever. Por ser alguém que raramente lê um livro, já parou para se perguntar por que tem tanto talento com a caneta. “Não sei se é porque sou filha única, mas nunca, nunca fui boa em dizer como eu me sentia em relação às coisas. Desde os 5 anos, quando era repreendida por não saber dividir as minhas coisas, por não limpar o quarto ou por responder à minha mãe, eu sempre escrevia um bilhete para pedir desculpa.” Adele descobriu que sabia se expressar muito melhor com a caneta em punho. De fato, muitas das letras que ela escreveu desde então podem ser consideradas cartas de tristeza e lamento. Seu primeiro sucesso foi escrito nas mesmas circunstâncias dos bilhetes da infância: logo depois de uma briga com a mãe. Mas, no começo, seus sonhos não eram musicais. Adele queria ser jornalista de moda ou cirurgiã cardiovascular.
Suas ambições com relação ao jornalismo também coincidem com as de Amy Winehouse, que trabalhava em uma agência de entretenimento antes de fazer fama como cantora. O caminho pela medicina não seria uma surpresa para os astrólogos. Ela nasceu sob o signo de Touro, considerado um dos signos mais fortes. O taurino costuma ser calmo, constante, quase nunca estressado ou irritado com a vida. Se Adele fosse assim tão séria, então sua vida e seus sentimentos poderiam formar uma série de músicas populares com pouco drama, ao contrário dos temas tristes sobre os quais ela escreve. Foram sua natureza emotiva e sua vida agitada que ajudaram a dar tanta ênfase à sua imagem e música. Um taurino também é teimoso, e esse traço é muito mais simples de ser identificado em nossa heroína. Trata-se de um signo extremamente sincero, o que combina com a natureza direta e honesta de Adele. Em entrevistas, ela costuma soltar frases explosivas e algumas delas já lhe renderam problemas e, claro, seu comportamento desbocado no palco também já é velho conhecido. O bairro no qual Adele cresceu fica a quase dez quilômetros a norte do centro de Londres, na região de Haringey. Tottenham é um bairro multicultural – de acordo com os pesquisadores da University College London, o lado sul é a área de maior diversidade étnica no Reino Unido. Cerca de 113 grupos étnicos diferentes vivem ali, falando aproximadamente 193 idiomas diferentes. Assim, ela cresceu em meio a uma grande e rica variedade de vistas e sons. Em 2010, Tottenham teve o maior índice de desemprego na capital, o oitavo mais alto do Reino Unido. Ocorreram diversos conflitos entre a polícia e partes da comunidade da região. Esses conflitos lembraram as revoltas ocorridas na propriedade Broadwater Farm, em 1985. O problema começou quando uma mulher afro-caribenha, Cynthia Jarrett, morreu durante uma busca policial emsua casa. No dia seguinte, ocorreu uma disputa entre a polícia e os jovens da região. Foi a primeira vez que o fogo foi usado por protestantes no Reino Unido. No ápice da violência, um policial chamado Keith Blakelock foi esfaqueado e morreu. Houve controvérsia a respeito de quem era o criminoso, e os três acusados acabaram sendo soltos. Em agosto de 2011, mais intranquilidade tomou conta de Tottenham, quando a morte de Mark Duggan, em uma operação policial, causou revoltas e saques que se espalharam por todas as partes do Reino Unido. Adele torce para o time de futebol da região, o Tottenham Hotspur, e insiste que não é apenas mais uma celebridade querendo aumentar a fama da equipe. “Sou uma fã dos Spurs, de verdade.” Ela está prestes a se tornar a pessoa mais famosa de Tottenham, e fica feliz com isso.
“Não sou uma falsa moradora de Tottenham, pois nasci lá”, afirma, com orgulho. Entre as pessoas que nasceram no bairro e que tiveram sucesso na indústria da música estão o rapper e produtor Rebel MC, Dave Clark, da banda Dave Clark Five, dos anos 1960, e o cantor pop Lemar. Uma das primeiras cantoras que Adele admirou foi Gabrielle, cujo nome completo é Louisa Gabrielle Bobb. Nascida a poucos quilômetros, em Hackney, Gabrielle foi descoberta depois de gravar uma fita demo cantando o sucesso “Fast Car”, de Tracy Chapman. Depois de assinar um contrato com uma gravadora, Gabrielle logo se tornou uma artista de sucesso e ícone pop, graças a seu tapa-olho. Seu single de estreia, “Dreams”, alcançou o primeiro lugar nas paradas quando Adele tinha cinco anos e rapidamente se tornou um dos favoritos da menina de Tottenham. Nessa época, ela já era fascinada por música e, em especial, estava “obcecada por vozes”. Ela percebia a variação de emoções que a voz humana conseguia expressar numa música: “Eu costumava prestar atenção emcomo os tons mudavam, passando de raivosos para animados, felizes para tristes”. Ela realmente foi uma fã precoce de música: compreendia a música emocional e intelectualmente desde muito cedo. Era uma criança bonita: uma foto sua aos quatro anos, no dia de Natal, mostra uma menina bemvestida com cabelos claros, na altura do pescoço, e uma expressão graciosa e levemente nervosa. Sempre havia música em sua casa, mesmo depois da mudança do pai. Adele cresceu ouvindo músicas mais modernas e variadas do que teria feito se sua mãe fosse mais velha. Penny amava a música com a intensidade de uma adolescente com quase trinta anos. Entre seus artistas favoritos, estavam 10.000 Maniacs, The Cure e Jeff Buckley – Penny colocava música para tocar em casa noite e dia. Quando Adele tinha apenas 3 anos, Penny a levou para seu primeiro show. Elas assistiram ao The Cure no Finsbury Park. Adele mais tarde gravaria um cover de “Lovesong”, da banda. Penny também permitia que a filha ficasse acordada até tarde nas noites de sexta-feira para assistir aos programas de música ao vivo da BBC, apresentados pelo próprio barão dos pianistas boogiewoogie, Jools Holland. Todas as semanas, o conhecimento e os gostos musicais de Adele melhoravam. Logo, ela pôde acrescentar Destiny’s Child, Lauryn Hill e Mary J. Blige à lista de artistas que acompanhava. Não é de surpreender que Adele logo passou a amar música não apenas num nível emocional, mas também intelectual. Era um amor sincero. “Por mais tolo que pareça, eu estava em Tottenham, nunca tinha saído do Reino Unido e tinha a impressão de que podia ir a qualquer lugar do mundo e conversar com qualquer outra criança de oito anos e ainda ter algo sobre o que falar”, afirma.
“Eu me lembro de ter percebido que a música unia as pessoas, e eu adorava essa sensação e encontrava muito conforto nisso. Um sentimento de euforia.” Ela também achava que a música podia dar-lhe uma emoção totalmente contrastante. A primeira música que a fez chorar foi “Troy”, de Sinead O’Connor. Era a música favorita de sua mãe. Adele chorou ao ouvi-la pela primeira vez e se chocava com a emoção causada. Tem uma produção esparsa até o clímax, mas é a execução forte e emocionada que toca a alma. Seria dessa forma que a menina se comportaria com a música. Mal podia saber, ao ouvir “Troy” pela primeira vez, que a sua própria música, um dia, provocaria comoção parecida em seus fãs. De fato, um dia deixaria muitos dos milhões que a assistiram cantar no Brit Awards boquiabertos, tocados pela força de suas letras e de sua execução. No entanto, Adele não se contentava apenas em ouvir as músicas populares diversas vezes apenas como fã. Começou a cantar com elas, especialmente “Dreams”, de Gabrielle. Claro que ela não era a única adolescente a admirar a cantora, mas mesmo naquela época ficou claro que Adele tinha talento vocal. Quando Penny escutou a filha cantando, percebeu que ela tinha algo especial. A maioria dos pais manda os filhos daquela idade para a cama quando recebem amigos em casa para o jantar, mas Penny sentia orgulho demais de sua menina e queria exibir seus atributos musicais impressionantes. Às vezes, pedia para a filha fazer uma apresentação para os convidados. Mais de uma vez, ela colocou a menina de cinco anos em cima da mesa do jantar e a incitava a cantar canções, incluindo “Dreams”. Adele nunca duvidou do orgulho que a mãe sentia. “Ela me considerava incrível.” Também ocorriam apresentações no quarto de Adele. Ali, as habilidades criativas de Penny apareciam. “Minha mãe é meio artística. Ela tinha muitas lâmpadas e acendia todas elas para criar um grande holofote”, conta. Os amigos de Penny se reuniam no quarto, sentados na cama, para ouvir a bela voz da menina. Não era de surpreender que Penny sentisse tanto orgulho.
Posteriormente, Adele também cantava músicas das Spice Girls. A banda britânica se tornou uma das favoritas da menina, desde os primeiros sucessos, e as letras a faziam rir. “[Eram todas] com conotação sexual – adoro”, revelou à revista Q.
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