When I consider how real and how true the things of his madness are to the madman, I cannot but agree with the essence of Protagoras’ statement that “man is the measure of all things”. Quando reflicto sobre quão reais e verdadeiras são para o louco as coisas da sua loucura, não posso deixar de concordar com a essência da declaração de Protágoras de que «o homem é a medida de todas as coisas». * Não há normas. Todos os homens são excepções a uma regra que não existe. * Do indivíduo temos que partir, ainda que seja para o abandonar. * Diogenes (with a lantern in daylight) searched for a man; Plato did not search for a man. Diógenes (com uma lanterna acesa em plena luz do dia) procurava um homem; Platão não procurava um homem. * Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser. Bernardo Soares * Não haver deuses é um deus também. * Deus é o existirmos e isto não ser tudo. Bernardo Soares * A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de Si com isso. * A natureza é a diferença entre a alma e Deus. Bernardo Soares * Be complete in everything, for to be complete in anything is to be right. All roads arrive at the same place. Sê inteiro em cada coisa, pois ser inteiro em qualquer coisa é estar certo. Todos os caminhos vão dar ao mesmo lugar. * I sometimes am struck with an astonished fear at my inspirations, at my thoughts, realizing how little of myself is mine. Sinto, por vezes, um temor espantado das minhas inspirações, dos meus pensamentos, compreendendo quão pouco de mim é meu. * Ninguém entende ninguém. Tudo é interstício e acaso, mas está tudo certo. * Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.
Bernardo Soares * Nada é, tudo se outra. * Sê plural como o universo! * O que é preciso é cada um multiplicar-se por si próprio. * Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma. Bernardo Soares * O desdobramento do eu é um fenómeno em grande número de casos de masturbação. * No teatro da vida quem tem o papel de sinceridade é quem, geralmente, mais bem vai no seu papel. * Custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso. * A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio. * If a dog were to start thinking as we do (an impossible hypothesis), that dog would be more perfect than other dogs and yet would be killed by them very probably, for they would consider him mad. Se um cão começasse a pensar como nós (hipótese impossível), esse cão seria mais perfeito do que os outros cães e, no entanto, seria muito provavelmente morto por eles, pois achariam que era louco. * O homem é um egoísmo mitigado por uma indolência. O animal é a mesma cousa. * O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não. * O homem é um animal que quer existir. * Odiamos o que quase somos. We hate what we nearly are. * * A tradução para inglês é de Pessoa. * Somos avatares da estupidez passada. * Que tragédia não acreditar na perfectibilidade humana!… — E que tragédia acreditar nela! * Uma das formas de saúde é a doença. Um homem perfeito, se existisse, seria o ser mais anormal que se poderia encontrar.
* Os psiquiatras sabem (às vezes) como trabalha o espírito doente, mas não como trabalha o espírito são. * Um dos aspectos da desigualdade é a singularidade — isto é, não o ser este homem mais, neste ou naquele característico, que outros homens, mas o ser tão-somente diferente deles. * Tão cansado de ter achado como de não ter achado. O fim e a soma do que somos, já o Pregador o disse: vaidade e aflição de ânimo. * Cansa tanto viver! Se houvesse outro modo de vida!… * A vida é cousa tão séria, os seus problemas são tão graves, que a ninguém assiste o direito de rir. Quem ri é estúpido — de momento, pelo menos. A alegria é a forma comunicativa da estupidez. * Evil is everywhere on earth, and one of its forms is happiness. O mal está por toda a Terra e uma das suas formas é a felicidade. * We torture our brother men with hate, spite, evil, and then say “the world is bad”. Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos «o mundo é mau». * Can anything be filthier, dirtier than a pig? If you speak of external things, no. Pode alguma coisa ser mais imunda, mais suja do que um porco? Se estivermos a falar de coisas externas, não. * I say to you: do good. Why? What do you gain by it? Nothing, you gain nothing. Neither money, nor love, nor respect, nor perhaps peace of mind. Perhaps thou gainest none of these. Why then do I say: do good? Because you gain nothing by it. It is worth doing for this. Digo-vos: praticai o bem. Porquê? O que ganhais com isso? Nada, não ganhais nada. Nem dinheiro, nem amor, nem respeito, nem talvez paz de espírito. Talvez não ganheis nada disso. Então por que vos digo: Praticai o bem? Porque não ganhais nada com isso. Vale a pena praticálo por isto mesmo.
* Não haja medo que a sociedade se desmorone sob um excesso de altruísmo. Não há perigo desse excesso. * Good is a necessary evil. If there were no good, or idea of it, we would not know evil, therefore good is itself an evil, and it is necessary (to know evil): a necessary evil. Q.E.D. * O bem é um mal necessário. Se não existisse o bem, ou a ideia dele, não conheceríamos o mal, portanto o bem é ele próprio um mal, e é necessário (para conhecer o mal): um mal necessário. Q.E.D. * * Quod erat demonstrandum. * A voluptuosidade de fazer justiça a um adversário. * The lust of hate cannot equal the lust of being hated. A volúpia do ódio não pode igualar-se à volúpia de ser odiado. * Se algum dia alguém deixasse de me achar ridículo, eu entristecia ao conhecer-me, por esse sinal objectivo, em decadência mental. * A timidez é o mais vulgar de todos os fenómenos. O que há de mais vulgar em todos nós é termos medo de sermos ridículos… * A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Uma começa interiormente; outra é puramente exterior. A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma. * A justiça é para a bondade como a castidade para a timidez sexual. * Ser austero é não saber esconder que se tem pena de não ser amado. A moral é a má hipocrisia da inveja. Álvaro de Campos * A moral desinteressada, pela moral só, é misticismo, não é natural nem normal.
* O ascetismo, que é o comando de si mesmo levado ao extremo do misticismo. * Mysticism is only the most complex way of being effeminate and decadent. The only useful side of uselessness. O misticismo é apenas a forma mais complexa de se ser efeminado e decadente. O único lado útil da inutilidade. * Isto está tudo decadente: já nem decadentes há. * Nunca tive dinheiro para poder ter tédio à vontade. * O dinheiro, odioso espião do idealismo, às ordens do Real. * Com um charuto caro e os olhos fechados é ser rico. Bernardo Soares * O futurismo vem a ser uma fotografia abstracta das cousas. Ora toda arte, seja como for, vá até onde for, é antifotográfica e concreta. * Todos nós temos momentos futuristas, como quando, por exemplo, tropeçamos numa pedra. * A nossa época industrial qualquer cousa há-de produzir. * Pertenço a uma geração — supondo que essa geração seja mais pessoas que eu — que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas. Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade. Cristo e o progresso são para mim mitos do mesmo mundo. Não creio na Virgem Maria nem na electricidade. Barão de Teive * A essência do progresso é decadência. Progredir é morrer, porque viver é morrer. * A triste confiança no futuro. * A vida é um mal digno de ser gozado. Pantaleão * Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior: eis a regra. * O pessimismo é bom quando é fonte de energia. * The greatest error that men can commit is to attempt to jump over the gradualness and evolution of nature and attempt to realize today what nature has penned for tomorrow. O maior erro que os homens podem cometer é tentarem saltar por cima da gradualidade e da evolução da natureza e realizar hoje aquilo que a natureza previu para amanhã.
* … os imperialismos do acaso e da desordem organizada. * … e a noite com o seu negro mistério roto de astros. * Os mistérios são da esperança. * All is the story of a motive and speaks of God for a moment. Tudo é a história de um motivo e fala de Deus por um momento. * God is God’s best joke. Deus é o Seu melhor gracejo. * Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas. Álvaro de Campos * Haja ou não deuses, deles somos servos. * O inferno e o céu continuam a existir. São eternos. Quem os tira do céu tira-os para a terra. * Qualquer coisa se perdeu quando o Paraíso Perdido se ganhou. * Is not Death — even, perhaps, physiologically examined — a kind of birth — the birth perhaps of incomplete to complete or pure form? Não será a morte — até, talvez, fisiologicamente vista — uma espécie de nascimento — o nascimento, talvez, do que era incompleto numa forma completa ou pura? * O conflito que nos queima a alma, deu-o Antero mais que outro poeta, porque tinha a igual altura do sentimento e da inteligência. É o conflito entre a necessidade emotiva da crença e a impossibilidade intelectual de crer. Barão de Teive * O catolicismo é uma religião da panaceia, como o ateísmo ou o livre pensamento é uma ilusão da farmácia. * O mar é a religião da Natureza. * Crer é errar. Não crer de nada serve. Ricardo Reis * O que há de bom ou mau em qualquer crença, qualquer, é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença. * O agnosticismo puro é impossível. O único agnosticismo verdadeiro é a ignorância. Porque para nos radicarmos no agnosticismo é-nos preciso um argumento para nos persuadir que a razão tem certos limites.
— Ora quem observa pode parar; quem raciocina não pode parar. Portanto quando pelo raciocínio havemos provado a limitação ou a não-limitação destas e daquelas faculdades, não podemos dizer: «paremos aqui» mas devemos seguir no raciocínio e tirar dessa limitação ou nãolimitação as consequências deduzíveis. Assim fazem todos os «agnósticos» consciente ou inconscientemente. * Seeing will always be the best metaphor for knowing. Ver será sempre a melhor metáfora de conhecer.
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